Posts enganam ao comparar alíquotas do IOF nos governos Bolsonaro e Lula

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É enganosa a comparação que alega que o governo Lula reduziu a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) cobrada pelo governo Bolsonaro. As peças de desinformação omitem que o percentual de 6,38% sobre operações de câmbio estava em vigor desde o governo Dilma e que a queda na alíquota se deve a um decreto assinado por Bolsonaro em 2022.

As peças enganosas somavam centenas de compartilhamentos no Facebook e 3.000 curtidas no X até a tarde desta sexta-feira (4).

COMPARTILHEM AO MÁXIMO A VERDADE - IOF COM BOLSONARO: 6,38% - IOF COM LULA: 3,5%

Print de post no X que compartilha duas imagens. Na direita, é possível ver o ex-presidente Jair Bolsonaro — homem branco de cabelo castanho que aparece pilotando um jet-ski da Marinha. Na esquerda, aparece o presidente Lula — homem branco de cabelo e barba grisalhas, que aparece usando uma camisa social branca de manga comprida, de braços abertos em meio a uma multidão. Legenda do post diz: ‘COMPARTILHEM AO MÁXIMO A VERDADE - IOF COM BOLSONARO: 6,38% - IOF COM LULA: 3,5%. Não caia em FAKE NEWS. IOF ERA MUITO MAIOR NO DESGOVERNO DO coiso! RICOS PAGUEM A CONTA!’

Posts nas redes enganam ao comparar as alíquotas do IOF nos governos Lula e Bolsonaro. As peças de desinformação, que fazem crer que o imposto teria sido reduzido pelo petista, cometem uma série de omissões:

  • O número citado pelas publicações se refere apenas às alíquotas do IOF sobre transações cambiais;
  • A taxa de 6,38%, que de fato estava em vigor durante o governo Bolsonaro, foi instituída pela gestão de Dilma Rousseff (PT);
  • O IOF atual, que é de 3,38%, foi reduzido por conta de um decreto assinado por Jair Bolsonaro (PL), e não por Lula (PT), em 2022.

O IOF é um imposto cobrado pelo governo sobre uma série de transações monetárias, como empréstimos, câmbio (compra de moeda estrangeira), investimentos e seguros. Em cada um dos casos, é cobrada uma alíquota diferente. A alteração do IOF é prerrogativa do Poder Executivo, desde que observadas as condições previstas na Constituição.

A taxa em vigor durante o governo Bolsonaro de fato era de 6,38%. O percentual foi estabelecido em março de 2011, no primeiro ano do governo Dilma. Antes disso, a alíquota era de 2,38%.

O número permaneceu inalterado até 2022, quando Bolsonaro editou o decreto nº 10.997, que determinou uma redução gradual do IOF em operações sobre o câmbio até 2028.

A medida passou a valer a partir de janeiro de 2023, primeiro ano do governo Lula, quando a alíquota passou a ser de 5,38%. O percentual caiu para 4,38% em 2024 e para 3,38% em 2025 (veja abaixo).

Em maio deste ano, Lula editou um decreto aumentando as alíquotas do IOF não apenas sobre transações cambiais (de 3,38% para 3,5%) como também para compra de moeda em espécie (de 1,1% para 3,5%), de crédito para empresas (de 1,88% para 3,5%), entre outras.

O decreto desencadeou uma crise entre o mercado financeiro, o Planalto e o Congresso. O governo recuou em relação a alguns percentuais, que foram novamente alterados por outros dois decretos editados em junho (clique aqui e aqui). A alíquota sobre transações cambiais não mudou.

Em junho, uma decisão do Congresso derrubou as mudanças determinadas pelo Executivo. Em resposta, a União recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal). Nesta sexta-feira (4), o relator da ação, ministro Alexandre de Moraes, suspendeu os decretos de Lula e o ato do Congresso e determinou uma audiência de conciliação sobre o tema.

Enquanto não há uma decisão, o decreto editado por Bolsonaro segue em vigor — ou seja, a alíquota do IOF sobre transações cambiais vigente é de 3,38%.

Guerra de versões. Apoiadores do ex-presidente também têm desinformado sobre o IOF. O vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-mandatário, Carlos Bolsonaro (PL), citou nas redes o decreto de 2022 para alegar que o “fim do IOF estava a caminho”.

O vereador, no entanto, omite que o texto do decreto previa a redução apenas sobre um tipo de operação financeira, e não sobre as demais categorias. Procurado pelo Aos Fatos, Carlos Bolsonaro não respondeu.

Aumento do IOF. Em 2021, o governo Bolsonaro também determinou um aumento na alíquota do IOF para aumentar a arrecadação.

O presidente elevou o percentual para operações de crédito de pessoas físicas e de empresas entre setembro e dezembro daquele ano para custear o Auxílio Brasil. A estimativa na época é que a medida geraria R$ 2,14 bilhões em arrecadação.

O caminho da apuração

Verificamos as alíquotas do IOF entre 2002 e 2025, além dos decretos editados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e pelo presidente Lula sobre o tema. Contextualizamos a checagem com um breve resumo sobre a crise atual do IOF e a versão distorcida sobre o tema que tem circulado em posts publicados por apoiadores de Bolsonaro.

Referências

  1. Casa Civil da Presidência da República (1, 2, 3, 4, 5 e 6)
  2. Folha de S. Paulo
  3. UOL
  4. Agência Brasil
  5. Migalhas
  6. g1 (1 e 2)
  7. Aos Fatos

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