Posts distorcem medida do governo federal que prevê envio de notificações a celulares roubados

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São enganosas as publicações que afirmam que um programa do governo federal enviará notificações a celulares roubados para pedir aos ladrões que devolvam os aparelhos. O objetivo da medida é alertar possíveis compradores de que o equipamento foi roubado e pedir que prestem esclarecimentos na delegacia mais próxima. Caso não façam isso, os indivíduos notificados podem ser alvos de inquérito.

Posts que distorcem a proposta acumulavam ao menos 10 mil curtidas no Instagram e 2.000 compartilhamentos no Facebook. As peças de desinformação também circulam no WhatsApp, plataforma em que não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).

Agora o governo quer mandar uma mensagem pedindo educadamente para o ladrão devolver seu celular. Enquanto o crime cresce, em vez de endurecer as leis e fortalecer a segurança, apostam em um apelo ‘fofinho’ para quem vive do crime

Montagem com uma foto do presidente Lula em primeiro plano, segurando um telefone no ouvido e olhando para o lado. Atrás dele, há uma figura vestida de preto, com máscara de esqui e óculos escuros, também falando ao telefone. No topo da imagem, em letras vermelhas e grandes, está escrito 'DEVOLVE O CELULAR POR FAVOR'. O post no Instagram acompanha um texto criticando uma suposta campanha do governo para que criminosos devolvam celulares roubados, sugerindo ironicamente que essa estratégia não funcionaria.

Usuários e parlamentares têm distorcido uma mudança no aplicativo federal Celular Seguro que ocorrerá na próxima sexta-feira (4) para sugerir que o governo passará a enviar notificações para pedir aos ladrões que devolvam aparelhos furtados ou roubados.

A iniciativa, que foi anunciada em dezembro do ano passado, na verdade, visa desincentivar o comércio de celulares roubados ao enviar uma notificação ao aparelho no momento em que ele volta a ser ativado. O programa funciona da seguinte forma:

  • Usuários cadastram seu aparelho no aplicativo Celular Seguro;
  • Em caso de roubo ou furto, o dono do celular — ou outra pessoa com acesso à conta do Celular Seguro — pode solicitar o bloqueio do aparelho ou o “Modo Recuperação”;
  • Nesse “Modo Recuperação”, o chip e os aplicativos são bloqueados, mas o aparelho não. Caso esse aparelho receba um novo chip e se conecte à rede de uma operadora novamente, ele receberá uma mensagem por SMS ou por WhatsApp pedindo que o portador preste esclarecimentos na delegacia mais próxima;
  • Caso o indivíduo não apresente a nota fiscal, o aparelho deverá ser devolvido;
  • A mensagem diz ainda que, caso não compareça à delegacia mais próxima, o indivíduo poderá ser alvo de inquérito por furto, roubo, receptação ou associação criminosa.
Tela do aplicativo Celular Seguro mostra quatro opções em azul: pessoas de confiança, registrar telefone, emitir alerta e celulares com restrição. Ao lado direito, há duas opções abaixo de ‘Emitir alerta’: modo recuperação e bloqueio total.
Aplicativo passará a ter duas opções para aparelhos roubados: bloqueio total e modo recuperação (Reprodução)

Em nota enviada ao Aos Fatos, o Ministério da Justiça e Segurança Pública classificou as publicações como falsas e afirmou que a medida tem o objetivo de aumentar as chances de recuperação dos dispositivos: “a ação baseia-se no fato de que muitas das pessoas que adquirem celulares roubados ou furtados, o fazem de boa-fé, sem saber das condições do aparelho adquirido.”

As peças de desinformação omitem ainda que essa medida de notificação é baseada em um programa semelhante do governo do Piauí lançado em 2023 e que foi responsável pela devolução de 6.000 aparelhos em nove meses entre 2023 e 2024.

Além do Piauí, medidas parecidas são adotadas também pelos governos do Ceará e do Amazonas.

O caminho da apuração

Aos Fatos buscou a portaria que originou o “Modo Recuperação” do Celular Seguro e notas do Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre o assunto. Também procuramos informações sobre o programa criado pelo governo piauiense na imprensa para contextualizar a checagem.

Referências

  1. Secom
  2. g1
  3. CNN Brasil (1 e 2)
  4. MJSP
  5. Governo do Piauí
  6. Nexo

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