Não é verdade que a ponte sobre o rio Cupari Braço Leste, na BR-163/230/PA, entre Itaituba e Rurópolis (PA), foi construída pela gestão de Jair Bolsonaro e abandonada pelo governo Lula. Em uma busca com imagens de satélite, Aos Fatos identificou registros da obra em setembro de 2017 — portanto, quase dois anos antes de Bolsonaro assumir a Presidência da República.
Publicações nas redes com o conteúdo enganoso acumulavam mais de 24 mil curtidas no Instagram até a tarde desta terça-feira (7).
A ponte que o Bolsonaro mandou fazer está ali e a de tábua está aqui [...] Essa é a ponte que o Bolsonaro mandou fazer, mas o Lula não teve a capacidade de colocar um aterro na cabeceira da ponte para passar pela ponte.

É enganoso o vídeo no qual um homem não identificado afirma que uma ponte que liga os municípios de Itaituba e Rurópolis, no segmento da BR-163/230/PA, trecho da rodovia Transamazônica, foi construída pelo governo de Jair Bolsonaro e abandonada pelo governo Lula. Em busca com imagem de satélite, Aos Fatos identificou registros da obra datados de 2017, portanto, antes de Bolsonaro ser presidente.
Com auxílio da ferramenta Google Earth, que permite observar o histórico das fotografias por satélite, a reportagem encontrou um registro da ponte já construída em setembro de 2017 (veja abaixo), portanto, durante a gestão do então presidente Michel Temer (MDB) e quase um ano e meio antes do início do mandato de Jair Bolsonaro, que assumiu a presidência em janeiro de 2019.

A reportagem também encontrou registros publicados no Facebook, entre os anos de 2013 e 2015, que mostram o trecho em obras, o que leva a crer que a ponte foi iniciada durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) — veja aqui, aqui e aqui.
Não foi possível determinar, no entanto, a data exata em que a obra começou. A reportagem acionou o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), autarquia vinculada ao Ministério dos Transportes, para confirmar a informação, mas ainda não obteve retorno.
Ainda assim, em nota anterior, a autarquia explicou que está em análise a contratação de empresas para o levantamento de informações sobre trechos inacabados e execução dos serviços restantes relacionados a diversos trechos da Transamazônica — incluindo a ponte sobre o rio Cupari.
Aos Fatos ainda encontrou vídeos que mostram a construção de uma segunda ponte de madeira no local, publicados em 2018 (veja aqui e aqui), ainda durante o governo Temer. Portanto, nem a obra da ponte de concreto, nem da segunda ponte de madeira, têm qualquer relação com o governo de Jair Bolsonaro.
Aos Fatos também procurou a Prefeitura de Rurópolis e o governo do Estado do Pará e perguntou quando as obras foram iniciadas. As duas instituições não responderam até a publicação desta verificação.
Ponte sobre o Rio Cupari. Na gravação, o homem não confirma o local exato onde o registro foi feito, a não ser citar que seria sentido Santarém (PA). Para identificar a região, o Aos Fatos fez buscas reversas de imagem e no Google Street View, em que o último registro foi feito em 2012, quando a ponte ainda não havia sido construída (veja a comparação abaixo).

Após identificar o local, a reportagem usou a localização geográfica para buscar o histórico de imagens de satélite da área, identificando que há registros anteriores a 2019 que mostram a ponte já construída (veja aqui). Além disso, uma busca pelo termo “rio cupari”, no Facebook, levou a uma série de fotografias e vídeos registrados a partir de 2013, mostrando o início das obras, por pessoas que passavam pelo local.
O caminho da apuração
Aos Fatos fez uma busca reversa de imagens e encontrou notícias com fotografias de locais semelhantes ao da gravação. Com isso, a reportagem procurou a ponte no Google Street View, observando detalhes como um aglomerado de rochas à direita do vídeo.
A partir dessa informação, a reportagem usou os dados de geolocalização disponíveis no mapa para encontrar o histórico de fotografias de satélite com a ferramenta Google Earth, identificando que há registros da ponte já construída em 2017, portanto, antes de Jair Bolsonaro se tornar presidente do Brasil.
Aos Fatos ainda acionou o DNIT, que não respondeu a todos os questionamentos feitos pela reportagem. Também foram feitos contatos por email e telefone com a prefeitura Rurópolis e com o governo do Pará.