A Polícia Federal encontrou ligações entre o coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, e o influenciador extremista Paulo Figueiredo Filho, ex-comentarista da Jovem Pan, no âmbito da operação que investiga a venda ilegal de presentes recebidos por Jair Bolsonaro (PL) como presidente da República.
- A informação está em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que menciona trecho de relatório da PF — e foi noticiada primeiro pelo jornal O Estado de S. Paulo;
- Em março deste ano, segundo a investigação, Cid enviou o número de Figueiredo pelo WhatsApp ao tenente Osmar Crivelatti, outro integrante da assessoria de Bolsonaro envolvido no caso das joias;
- O contato de Figueiredo foi enviado junto com o endereço de uma joalheria em Miami — cidade em que mora o ex-comentarista da Jovem Pan. De acordo com as investigações, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro havia deixado itens desviados da Presidência na loja;
- Outras trocas de mensagem de Mauro Cid mostram que o militar relatou a desconfiança de Bolsonaro com integrantes do alto comando do Exército na mesma época em que Figueiredo iniciou uma onda de ataques;
- Em novembro, após a derrota de Bolsonaro na tentativa de reeleição, Figueiredo foi responsável por iniciar uma campanha de difamação contra integrantes do alto comando do Exército a fim de incitar um golpe de Estado;
- A mesma informação falsa foi passada em conversa de Cid com o coronel Jean Lawand Junior, que defendia um golpe militar para impedir a posse de Lula.
Em 28 de novembro do ano passado, Figueiredo disse no programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan, que “3 dos 14 [generais do Exército] têm se colocado de forma aberta na articulação contra uma ação mais direta, mais contundente das Forças Armadas”. Em seguida, no que ele caracterizou como um “dever cívico”, divulgou o nome dos militares a quem acusava sem apresentar provas:
- Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, então comandante militar do Sudeste e atual comandante do Exército;
- Richard Fernandez Nunes, comandante militar do Nordeste;
- Valério Stumpf Trindade, chefe do Estado-Maior do Exército.
Nos dias seguintes, os generais viraram alvo de ataques nas redes. Postagens alegavam que eles teriam ligações com Alexandre de Moraes e com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e teriam “traído o povo na porta dos quartéis”. Na época, bolsonaristas que não aceitavam o resultado das eleições estavam acampados na frente dos quartéis, pedindo intervenção militar.
- Entre 29 de novembro e 3 de dezembro de 2022, o Radar Aos Fatos identificou ao menos 39 compartilhamentos de correntes difamatórias com foto e nome completo dos generais;
- Os textos acusavam os oficiais de serem “melancias” — expressão pejorativa usada para designar militares que seriam “comunistas” (de trajes verdes por fora, mas vermelhos por dentro).
A onda de ataques despertada pelo comentário de Figueiredo gerou resposta por parte do Exército, que repeliu as alegações em nota. Na época, o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante da instituição aliado de Bolsonaro, saiu em defesa dos oficiais alvos da campanha, mas finalizou seu posicionamento em tom golpista. “Nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir”, publicou.
Em réplica, Figueiredo disse que suas acusações haviam partido de fontes de “altíssimo gabarito” e insinuou saber o que acontece em reuniões do Alto Comando do Exército.
“De muitos dos senhores, eu tive excelentes informações, mas eu lamento dizer que os senhores não vão se esconder por trás das cortinas, não. Eu vou continuar dizendo quem é quem”, afirmou em comentário na edição de 30 de novembro do programa Os Pingo Nos Is.
O vídeo segue disponível nos canais da Jovem Pan e de Paulo Figueiredo no YouTube, no qual soma mais de 275 mil visualizações. O influenciador está com suas redes sociais suspensas por determinação judicial desde janeiro, mas a plataforma de vídeos do Google continuou disponibilizando seus conteúdos, como o Aos Fatos mostrou.
Desde o comentário de Figueiredo, os ataques contra os militares nas redes sociais continuaram frequentes. Logo após a posse de Lula, em 1º de janeiro, o perfil do Exército no Twitter recebeu uma enxurrada de comentários ofensivos. Nos meses seguintes, após o general Tomás Paiva assumir o comando da instituição, difamações o associaram falsamente a um suposto esquema de propina do STF.