“Jovens registram suposto OVNI em vídeo na Grande BH”, destacou O Tempo no dia 20 de agosto. A notícia ufológica também apareceu no Globo — com o título “Vídeo filmado por estudantes mostra suposto OVNI em MG e gera debate nas redes: ‘Nova Varginha’” —, no Metrópoles e em diversos outros sites.
Toda essa história começou no X (ex-Twitter), quando um morador de Contagem (MG) publicou um vídeo que mostra um suposto disco estático no céu com luzes piscantes e que deixa para trás o que parece ser um rastro de fumaça.
Ontem saindo da faculdade olhamos pra cima e simplesmente voando no céu de Contagem City um OVNI estático no céu em absoluto silêncio
— Pedro (@pitococremoso) August 20, 2024
Chupa Belo Horizonte, estamos fechados com Varginha! pic.twitter.com/pFEdIjc26L
O registro original foi assistido ao menos 2 milhões de vezes e compartilhado em diversas outras redes, nas quais acumulou outras centenas de milhares de visualizações.
O grande acontecimento noticiado pela imprensa, no entanto, não passava de uma pessoa empinando pipa.
Uma simples “pipa” voando, quem mora no Centro de Contagem provavelmente já a viu durante o dia. pic.twitter.com/X8j4w27un6
— Kauan ¹⁹²¹ 🇮🇹 (@KauanCEC) August 20, 2024
Concordo que empinar uma pipa com luzes de LED no meio da noite é um pouco estranho, mas nada que valesse uma cobertura nacional. A questão é que a aparição de aliens sempre chamou a atenção e, hoje, com as redes sociais, continua sendo um assunto que gera muito engajamento.
Vamos, então, aproveitar o caso do OVNI de Contagem sem apelar para o sensacionalismo e relembrar três outros falsos contatos alienígenas no Brasil que viralizaram nas redes:
Agudos (SP), 2011. Essa aparição de uma suposta nave espacial no interior de São Paulo também foi noticiada pela imprensa e por alguns canais de televisão.
No vídeo, um homem que estava no banco do passageiro de um carro pede para que o motorista pare o veículo. Em seguida, ele grava o céu e mostra uma suposta nave espacial saindo detrás de uma nuvem.
Nas imagens, suposto OVNI saía, lentamente, de trás das nuvens (Reprodução/Youtube)
Conforme explicou na época a UFO, revista especializada em ufologia, tudo não passou de um trote feito via manipulação digital: ao analisar as imagens de forma mais detalhada, é possível perceber que a nave desaparece em alguns frames do vídeo, e, em determinado momento, as luzes do suposto objeto voador piscam mesmo estando atrás das nuvens.
Um mês depois de a revista publicar o desmentido, os autores do vídeo concederam uma entrevista para explicar que as imagens, na verdade, eram de uma propaganda criada para promover uma empresa que fazia publicidade em caixas de pizza.
Prudentópolis (PR), 2015 e 2016. Outra desinformação notável da ufologia foi o caso dos agroglifos (desenhos circulares em lavouras) no interior do Paraná. Fotos dos círculos apareceram em veículos da imprensa acompanhadas de entrevistas com ufólogos, que afirmaram que os desenhos não podiam ter sido feitos por humanos por conta da simetria e da precisão que apresentavam.
Desenhos circulares em Prudentópolis viraram até tema de documentário (Reprodução/Youtube)
Na verdade, porém, eles não só podiam como, ao que tudo indica, foram feitos por humanos:
- Em entrevista ao g1, o professor de biofísica Jorge Quillfeldt, da UFRGS, explicou que é possível fazer esse tipo de desenho com uma estaca e uma corda, por exemplo;
- Em artigo da Revista Questão de Ciência, o professor de física da Unesp Marcelo Yamashita apontou que não havia nenhuma evidência de que os desenhos haviam sido feitos por extraterrestres;
- Meses mais tarde, novos agroglifos apareceram na cidade, em outra propriedade rural. O dono das terras, no entanto, afirmou que os desenhos foram feitos por amigos: “São colegas meus, foi trote. Eles avisaram que iam fazer na minha plantação um dia, assim como fizeram no ano passado”, relatou o agricultor ao g1.
Ilha do Mel (PR), 2024. No início deste ano, também viralizou a história de que “ETs gigantes” haviam aparecido no Paraná. Durante uma semana, um dos principais assuntos do TikTok eram os alienígenas que estavam de férias na Ilha do Mel.
Gravação registrou ser humano no topo de um morro e alegou que se tratava de um “ET gigante”(Reprodução/TikTok)
O caso foi desmentido aqui na A Que Ponto Checamos: os ETs nada mais eram do que turistas que provavelmente estavam fazendo uma trilha em um morro próximo à praia.
Desde o caso do ET de Varginha, em 1996, o Brasil já foi palco de inúmeras “aparições” extraterrestres. Antes da internet, os boatos se alimentavam do fato de não haver muitas maneiras de registrar a ocorrência. Hoje, no entanto, todo mundo tem um celular na mão para gravar um suposto OVNI.
Mesmo assim, não há evidências de que contatos com alienígenas tenham, de fato, ocorrido. Os vídeos que circulam nas redes ou são fruto de montagem, ou mostram trotes aplicados por humanos ou registram imagens distorcidas de aviões, balões e pipas.
Por isso, vale sempre a regra que volta e meia a A Que Ponto Checamos relembra: antes de sair compartilhando (e noticiando) vídeos de alienígenas por aí, desconfie. Desconfie muito.
