É falso que uma pesquisa revelou que 82% dos imigrantes ilegais deportados para o Brasil na última semana teriam votado no presidente Lula (PT) nas últimas eleições. As publicações enganosas não apontam uma fonte para os dados, nem há registros de levantamentos sobre o assunto ou reportagens na imprensa.
Postagens nas redes com o conteúdo enganoso acumulavam 35 mil visualizações no Kwai e 1.000 compartilhamentos no X (ex-Twitter) até a tarde desta segunda-feira (3). Centenas de usuários também foram alcançados no TikTok, no Instagram e no Threads.
Votaram no Lula e fugiram para os EUA? Imigrantes brasileiros que ‘fizeram’ o L 82%. Não votaram no Lula 18%. Pesquisas revelam que a maioria dos imigrantes brasileiros deportados votaram no Lula.

Posts nas redes enganam ao compartilhar uma pesquisa que não existe para alegar que 82% dos brasileiros deportados dos Estados Unidos na última semana teriam votado no presidente Lula nas últimas eleições. Uma busca feita pelo Aos Fatos não identificou pesquisa ou notícia que mostrasse tal resultado.
As publicações também não mencionam qualquer fonte confiável que tenha realizado a suposta pesquisa, o que reforça que o dado não é verdadeiro.
Atualmente, mais de 2 milhões de brasileiros vivem nos Estados Unidos. De acordo com uma pesquisa feita pela Pew Research Center, cerca de 230 mil estão em situação ilegal.
Os Estados Unidos comportam o maior eleitorado do país no exterior, com mais de 182 mil cidadãos aptos a votar. Na última eleição presidencial, 70.429 deles compareceram às 260 seções eleitorais espalhadas por 10 cidades americanas. Lula, no entanto, foi derrotado por Jair Bolsonaro (PL) nas urnas nos Estados Unidos.
O petista obteve apenas 23.541 votos (34,5%), enquanto Bolsonaro recebeu 44.654 votos (65,4%) nos Estados Unidos. Ainda assim, não é possível determinar se os brasileiros deportados em janeiro votaram nessa eleição, tampouco se escolheram Lula como presidente. O assunto não foi tratado pelos jornalistas que entrevistaram os brasileiros repatriados, que destacaram ter sofrido maus-tratos durante o voo.
O que diz a lei. Além de a legislação eleitoral assegurar o sigilo total do voto, para um brasileiro votar em uma seção eleitoral no exterior não é exigida a apresentação de um visto americano nem a comprovação de regularidade do status imigratório.
As regras determinam apenas que o cidadão tenha solicitado a transferência de domicílio eleitoral do Brasil para a Zona Eleitoral do Exterior. O eleitor deve comprovar vínculo de, no mínimo, três meses com a nova residência e não pode ter alterado seu registro eleitoral no último ano.
Para tanto, é necessário apresentar um documento oficial de identificação, declaração ou comprovante de residência no exterior, comprovante de pagamento de débito com a Justiça Eleitoral, se houver, e comprovante de quitação eleitoral, quando for o caso.
Desinformações como essa começaram a se espalhar nas redes após o Brasil receber no último dia 24 um avião com 158 deportados dos Estados Unidos (veja aqui, aqui e aqui). Os cidadãos, que desembarcaram algemados em Manaus, relataram ter sido submetidos a maus-tratos durante o voo, o que foi questionado pelo Itamaraty ao governo americano.
Essa peça desinformativa também foi verificada pelo Estadão Verifica.
O caminho da apuração
Aos Fatos realizou uma busca por pesquisas semelhantes à que foi citada na peça enganosa e não encontrou evidências de que ela seja real. A reportagem ainda buscou a legislação que regulamenta o voto de brasileiros no exterior para explicar que, entre as exigências legais, não consta a situação de imigração.