Carine Wallauer/UOL

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Skaf erra dados de segurança e acerta peso da indústria no PIB

Por Luiz Fernando Menezes, Ana Rita Cunha e Judite Cypreste

11 de junho de 2018, 11h10

Presidente licenciado da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e pré-candidato do MDB ao governo paulista, Paulo Skaf usou dados imprecisos nesta sexta-feira (8) sobre o número de roubos e de estupros registrados no estado durante a sabatina promovida pelo UOL, pelo jornal Folha de S.Paulo e pelo SBT com os pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes nas eleições deste ano.

Em parceria com o UOL, checamos algumas declarações de Paulo Skaf. Confira abaixo.


IMPRECISO

São 34 roubos ou assaltos em uma hora.

Os dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre roubo são separados de acordo com as seguintes categorias: roubos de veículos, roubos a bancos, roubos de cargas e “Roubos - Outros”. No primeiro trimestre de 2018 ocorreram 81.601 casos de roubo em todo o Estado de São Paulo. Isso significa cerca de 37,2 roubos a cada hora.

Se Skaf estiver se referindo ao último ano, o índice muda: foram registrados 370.628 casos no Estado. Isso significa que são, aproximadamente, 42,3 roubos por hora e não 34, como diz o pré-candidato. Em ambos os casos, portanto, a declaração do pré-candidato é IMPRECISA.


IMPRECISO

A realidade é que, durante essa uma hora, (...) pelo menos uma mulher vai ter sido violentada.

Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados, no Estado de São Paulo, em 2016, dado mais atual, 10.055 casos de estupro. Ou seja, isso significa, realmente, que cerca de uma pessoa foi estuprada no Estado a cada hora. No entanto, esses dados são referentes às vítimas de qualquer sexo — mesmo que, de acordo com as estimativas do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as mulheres representem de 80% a 85% das vítimas desse tipo de crime. Portanto, é IMPRECISO dizer que uma mulher é violentada a cada hora no Estado sendo que os dados dizem respeito a vítimas de todos os sexos.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo faz essa distinção, mas seus números são bem menores que o do Fórum: de acordo com os dados de violência contra as mulheres, no ano passado, foram registrados 986 casos em todo o Estado. Isso significa que 2,7 mulheres são vítimas de violência sexual por dia.

Além disso é importante ressaltar que esses dados possuem um problema: grande parte dos casos de violência sexual contra mulheres não são registrados: de acordo com o 9º Anuário, de 2015, estima-se que apenas 35% dos crimes sexuais sejam notificados no país. O número de casos vem aumentando a cada ano. Ainda segundo o Fórum de Segurança, “É consenso que este é um dos crimes mais subnotificados graças a suas caraterísticas. Muitas vítimas, por vergonha ou por medo, deixam de registrar a ocorrência. Outro fator importante é que o perfil do autor do crime muitas vezes aponta para alguém conhecido da vítima”.

Outro ponto que é merece destaque é que o número de registros de violência sexual aumentou muito desde 2009, quando entrou em vigor a Lei Federal 12.015/2009, que passou a incluir na conceituação de estupro os “atos libidinosos” e também os “atentados violentos ao pudor”. De acordo com o Fórum, “com isso a vítima desse crime deixou ser exclusivamente do sexo feminino”. Em 2009 foram registrados, no Brasil, 33.912 casos, enquanto em 2016 foram 49.497.

Outro lado. Segundo a assessoria de Skaf, ele se referia aos dados de ocorrências registradas mensalmente na Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. De acordo com essa base, ocorreram 11.089 estupros (somando também os estupros de vulneráveis) em 2017, o que “significa que um estupro ocorreu a cada 40 minutos no Estado”. Entretanto, como os dados do Anuário, os números citados não representam apenas os casos em que as vítimas são mulheres.


VERDADEIRO

A indústria de transformação, que representava acima de 20% do PIB...

A análise histórica dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) pode ser feita de duas formas: considerando os preços correntes de cada ano ou usando os preços constantes — isto é, quando a produção de cada ano é avaliada em relação aos preços de um determinado ano, excluindo assim os efeitos da inflação na variação do resultado do PIB. Além disso, para fazer uma comparação temporal, é preciso levar em conta as mudanças metodológicas feitas ao longo dos anos pelo IBGE, instituto de pesquisa responsável pelo cálculo oficial do PIB.

Os economistas Regis Bonelli e Samuel Pessôa, em uma análise da participação da indústria de transformação no PIB nacional de 1947 a 2007, mostram que, tanto em preços correntes quanto em preços constantes, a indústria de transformação já superou 20% do PIB do país. Um estudo mais recente, da Fiesp, e que usa a metodologia de Bonelli e Pessoa, também conclui que a indústria de transformação já teve participação de mais de 20% no PIB nacional, ajustadas aos preços do ano-base 2014.


VERDADEIRO

… hoje são esses 12%.

Inicialmente, Aos Fatos havia classificado erroneamente a afirmação do pré-candidato, com base em cálculos equivocados. O selo, antes de EXAGERADO, foi mudado para VERDADEIRO. No texto abaixo, consta a informação corrigida.

O PIB da indústria de transformação alcançou participação de 11,8% do PIB nacional, ou seja, teve uma participação muito próxima da mencionada pelo presidente licenciado da Fiesp.

Se considerarmos o resultado do primeiro trimestre de 2018, a indústria de transformação representou 11% do PIB nacional do primeiro trimestre de 2018, de acordo com dados do IBGE. O valor está abaixo do mencionado por Paulo Skaf. Como os valores trimestrais podem são impactados por eventos sazonais, o valor de participação anual é o mais usado para medir a participação de um setor na economia.

A participação de um setor na economia é medida pelo valor agregado ao PIB, descontados os impostos. De acordo com os dados do IBGE sobre as contas nacionais, o PIB do primeiro trimestre de 2018 foi de R$ 1,614 trilhão, sendo R$ 240,5 bilhões em impostos, e o da indústria de transformação, R$ 148,191 bilhões. Em 2017, o PIB nacional ficou em R$ 6,560 trilhões, sendo R$ 911,4 bilhões em impostos, e R$ 666,157 bilhões deles gerados pela indústria de transformação.


VERDADEIRO

Eu fui eleito com 60% dos votos [sobre primeira eleição para presidência da Fiesp] e a minha última reeleição foi por unanimidade dos votos.

No cargo há quase 15 anos, Paulo Skaf foi eleito pela primeira vez para a presidência da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em 2004. Recentemente, ele se licenciou para disputar o governo paulista e, em seu lugar, assumiu o presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho.

Na primeira eleição, Skaf, que fazia parte da chapa de oposição ao então presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva, foi eleito com 70 votos (57,4%, a diferença para a afirmação do pré-candidato seria de 3 votos) contra 52 votos (42,6%) de seu adversário, Cláudio Vaz. Foi a primeira vez em que Fiesp e Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) tiveram presidentes diferentes, pois Vaz ficou à frente da Ciesp naquele ano.

Em sua segunda eleição, em 2007, Paulo Skaf foi reeleito presidente da Fiesp com 96,7% dos votos. No mesmo ano, ele conseguiu tomar a liderança da Ciesp. Nas duas entidades, apenas uma chapa concorreu às eleições, ambas encabeçadas pelo atual pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Na terceira vez, em 2011, Skaf foi novamente eleito para a presidência das duas entidades com 98,4% dos votos válidos.

Em 2014, seu mandato à frente da Fiesp foi prorrogado. A administração, que terminaria em setembro de 2015, foi prolongada até 31 de dezembro de 2017. Na sua última eleição, em 2017, Skaf concorreu em chapa única e recebeu 97% dos votos ganhando por unanimidade, segundo informou a assessoria da federação por e-mail. O mandato atual vai até 2021, de acordo com a entidade.


Esta reportagem foi atualizada às 12h45 do dia 12 de junho para constar a correção da checagem sobre os 12% do PIB. Em função disso, o título também foi modificado.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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