Não é verdade que o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) tenha sido acusado de agressão e ameaça de vazamento de fotos íntimas pela jornalista Patrícia Lélis. A desinformação, que circulou nas redes pela primeira vez em dezembro de 2017, foi criada a partir de um boletim de ocorrência falso e de um tweet e um vídeo da jornalista retirados de contexto. Além disso, tanto Lélis quanto Braga negam publicamente as acusações.
A informação falsa voltou a ser publicada por páginas e perfis pessoais no Facebook depois de Braga ter chamado o ministro Sergio Moro de “ladrão” em sessão na CCJ da Câmara dos Deputados no dia 2 de julho. A publicação, que já acumula cerca de 5.000 compartilhamentos na rede social até a manhã desta quinta-feira (11), foi marcada com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento do Facebook (veja como funciona).
Ué, não foi esse tal de Glauber Braga que chamou Moro de LADRÃO? Então, quer dizer que além de bater em mulher, ele ameaçava liberar fotos íntimas, segundo a feminazi lelis Patricia??
São quatro os elementos que atestam a falsidade da informação de que Glauber Braga foi acusado de agressão e ameaça pela jornalista Patrícia Lélis:
1) o tweet de 2017 em que Lélis menciona um caso de estupro cometido por membro do PSOL foi tirado de contexto, pois não diz respeito ao congressista;
2) o vídeo em que a jornalista aparece com o rosto ferido e comenta agressões também foi descontextualizado. Ele remete, na verdade, à denúncia dela em 2016 contra o deputado Marco Feliciano (PODE-SP);
3) o boletim de ocorrência com os nomes de Lélis e Braga é falso, segundo a Polícia Civil do Distrito Federal, onde o documento aponta ter sido produzido;
4) Tanto a jornalista como o congressista negam a acusação publicamente desde 2017.
Em 5 de dezembro de 2017, Lélis publicou em sua conta no Twitter uma postagem que perguntava se o novo presidente do PSOL iria investigar “os casos de abuso dentro do partido”. A jornalista afirmou ao Aos Fatos por e-mail que, na ocasião, referia-se a uma denúncia feita por uma filiada à Setorial Nacional de Mulheres do PSOL em setembro de 2017. Nela, um integrante do partido era acusado de estupro. Esse tweet, no entanto, foi utilizado por perfis nas redes sociais como se fizesse referência à denúncia contra Braga.
Também foi tirado de contexto um vídeo em que a jornalista aparece com marcas de agressão no rosto. Segundo Lélis, as imagens integraram, na verdade, a denúncia que ela fez contra o deputado federal e pastor Marco Feliciano em 2016. À época militante do PSC, Lélis denunciou o deputado federal por tentativa de estupro. O caso acabou sendo arquivado.
Em postagem no Twitter em 5 de julho deste ano, quando a desinformação voltou a ganhar força nas redes, a jornalista reforçou que o material seria da denúncia contra Feliciano.
Outro elemento que tem sido veiculado nas redes como prova da denúncia de agressão, o suposto boletim de ocorrência retratado nas publicações analisadas é falso. O documento teria sido registrado em uma delegacia de atendimento à mulher do Distrito Federal, mas a Polícia Civil de Brasília negou ao Aos Fatos sua veracidade. Segundo o órgão, os números do protocolo e da ocorrência disponíveis não são compatíveis com dados do sistema.
A imagem do boletim, que cita o nome “Glauber Medeiros Braga” (quando o correto seria Glauber de Medeiros Braga), foi postada no Instagram oficial de Lélis no dia 15 de dezembro de 2017 ao lado de fotos íntimas atribuídas a ela e ao deputado. Segundo a jornalista, sua conta foi invadida por hackers naquele dia durante algumas horas, em decorrência de uma denúncia feita contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
De fato, na data citada pela jornalista, a Época reportara que a PGR (Procuradoria-Geral da República) havia acatado a denúncia de Lélis contra o deputado, filho do presidente Jair Bolsonaro, por ameaça de morte. À época, a jornalista publicou uma carta aberta na revista Fórum em que afirmava ter tido sua conta invadida: “postagens absurdas foram publicadas em meu nome, sem que eu tivesse qualquer controle sobre isso”, escreveu.
Para além destas evidências, tanto Patrícia Lélis como Glauber Braga negam as acusações. Em e-mail, a jornalista afirmou ao Aos Fatos que o congressista “nunca me agrediu ou faltou com respeito”. Logo após o boato começar a circular nas redes, ainda em 2017, o deputado também afirmou, em vídeo que a denúncia era falsa: “o namoro [entre ele e Patrícia] nunca existiu e as ameaças nunca existiram”, disse.
A Agência Lupa também fez checagem semelhante sobre este boato.