Não é verdade que a diferença entre Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) permaneceu em exatamente 36 mil votos entre as parciais de 75,97% e 89,17% de urnas apuradas. O vídeo que faz essa alegação arredonda o total de votos obtidos pelos candidatos e omite que o psolista foi crescendo com o avanço das apurações, terminando o primeiro turno com cerca de 56 mil votos a mais do que o ex-coach.
A peça de desinformação acumulava centenas de curtidas no Instagram e de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta segunda-feira (7).
Olha a diferença de votos do Guilherme Boulos, do PSOL, para o Pablo Marçal, PRTB. Exatamente 36 mil votos. Como é que pode? 14% das urnas apuradas e se manter a mesma quantidade de votos?

São enganosas as publicações que afirmam que a eleição para a Prefeitura de São Paulo do último domingo (6) foi fraudada e que a prova disso seria uma constância na diferença dos votos entre Boulos e Marçal.
De acordo com o autor do vídeo, no momento em que 75,97% das urnas haviam sido apuradas, Boulos e Marçal tinham “exatos 36 mil votos de diferença”. Essa distância teria se mantido durante a totalização até o momento em que 89,17% das urnas foram apuradas.
Os dados apresentados pelas peças desinformativas foram retirados do site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Como não é possível rever a totalização de acordo com a porcentagem de urnas apuradas, Aos Fatos comparou os números mostrados no vídeo com a apuração em tempo real divulgada pela imprensa (veja aqui e aqui).
A comparação permite verificar que o autor do vídeo desinformativo arredondou o número total de votos dos candidatos para sugerir que houve fraude:
- Com 75,97% das urnas apuradas, Boulos tinha 1.342.344 votos e Marçal, 1.306.770 — uma diferença, portanto, de 35.574 votos;
- Com 89,17% das urnas apuradas, Boulos saltou para 1.572.592 votos e Marçal, para 1.536.450 — diferença de 36.142 votos.
Apesar da proximidade dos resultados, a vantagem do psolista cresceu entre as porcentagens, tendência que se manteve até o final do pleito. Com 100% das urnas apuradas, Boulos ficou em segundo lugar, com 1.776.127 votos. Já Pablo Marçal ficou em terceiro, com 1.719.274 votos. O psolista, portanto, recebeu 56.853 votos a mais do que o ex-coach. Ricardo Nunes (MDB) terminou em primeiro lugar, com 1.801.139 votos.
Em nota enviada ao Aos Fatos, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) também ressaltou o erro na conta do autor do vídeo e disse que “essa diferença próxima é justificada pelos percentuais muito próximos dos concorrentes”.
Uma alegação semelhante circulou nas redes durante as eleições de 2020, quando Boulos e Bruno Covas (PSDB) passaram para o segundo turno. Conforme explicou o Aos Fatos naquela época, a estabilidade da diferença entre um e outro candidato indica apenas a homogeneidade dos votos recebidos durante a totalização.
O TSE também já explicou que essa constância “não constitui indício de fraude”, uma vez que “conforme os boletins de urna são recebidos pelo sistema de totalização, eles são consolidados e têm os resultados preliminares imediatamente divulgados”.
O caminho da apuração
Aos Fatos buscou os resultados parciais do primeiro turno divulgados pela imprensa e os incluiu em uma tabela. Usamos os números para fazer as contas e rebater as alegações feitas no vídeo e também para alimentar a visualização de dados que está presente na checagem.
Recuperamos, então, a apuração de uma peça de desinformação semelhante que circulou em 2020, e entramos em contato com o TRE-SP para que o tribunal se posicionasse.