Não é verdade que o Paraguai emitiu um alerta à sua população sobre o risco de comprar bebidas com metanol do Brasil. Aos Fatos não encontrou nenhuma notificação semelhante nos canais oficiais do governo do país vizinho. O post que circula nas redes foi originalmente publicado por um perfil de humor no Instagram.
O conteúdo enganoso foi enviado por leitores do Aos Fatos à Fátima, nossa robô checadora (fale com a Fátima). As publicações falsas também acumulam 4.000 curtidas no Instagram, centenas de compartilhamentos no Facebook e centenas de visualizações no TikTok.
Governo paraguaio emite alerta sobre risco de comprar bebida adulterada no Brasil.

Publicações nas redes enganam ao afirmar que o Paraguai teria emitido um alerta sobre o risco de comprar bebidas adulteradas no Brasil. Aos Fatos verificou que a publicação que viralizou nas redes foi originalmente postada por um perfil de humor no Instagram na quarta-feira (1°). O post ironizava o fato de o Paraguai ser uma das rotas de contrabando de bebidas alcoólicas destiladas para o Brasil.
Ainda assim, Aos Fatos fez buscas por alertas semelhantes nos canais oficiais do governo do país vizinho, e não encontrou nada parecido. Foram acessados os canais oficiais do Ministério da Saúde (aqui e aqui), da Dinavisa (Direção Nacional de Vigilância Sanitária) — órgão equivalente à Anvisa no Brasil — (aqui, aqui e aqui), da representação diplomática no Brasil (veja aqui, aqui, aqui e aqui), do presidente Santiago Peña (aqui, aqui, aqui e aqui) e da presidência (aqui e aqui).
Intoxicação. O Cievs (Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) recebeu 59 notificações de casos de intoxicação por metanol presente em bebidas adulteradas até o início da tarde desta sexta-feira (3). Desse total, 53 são de São Paulo (11 confirmados e 42 em investigação), cinco em investigação em Pernambuco e um confirmado no Distrito Federal. Uma morte foi confirmada e outras sete continuam em análise.
O Ministério da Saúde instalou uma sala de situação para monitorar os casos. Na quinta (2), o ministro Alexandre Padilha anunciou a ampliação do estoque de etanol farmacêutico — usado no tratamento dos casos de intoxicação — que será usado para respostas mais rápidas diante da confirmação de novos envenenamentos.
A Polícia Civil de São Paulo analisa o possível uso de metanol na higienização das garrafas utilizadas na falsificação das bebidas em fábricas clandestinas. Já a Polícia Federal avalia o potencial envolvimento do crime organizado na adulteração dos produtos.
Sintomas e recomendações. Especialistas em toxicologia consultados pelo Aos Fatos apontaram que os sintomas de pessoas envenenadas com metanol incluem — mas não se limitam — aos sinais comuns de embriaguez, como náuseas, vômitos, dor abdominal, dor de cabeça e tontura:
- Alterações visuais: visão turva, pontos brilhantes e até mesmo cegueira;
- Dificuldade para respirar;
- Confusão mental;
- Convulsões;
- Em quadros mais graves, coma.
Como não é possível constatar a manipulação da bebida pela cor, sabor ou cheiro, a orientação é que os consumidores observem outros critérios, como preços muito abaixo dos praticados no mercado, embalagens improvisadas ou sem lacre, falta de rótulo com registro e procedência, além da compra em locais não autorizados.
Em caso de suspeita de envenenamento, a recomendação é procurar atendimento médico com urgência para diagnosticar a intoxicação o mais rápido possível e iniciar o tratamento necessário, que pode envolver o uso de antídotos, como o etanol farmacêutico ou, em casos mais graves, hemodiálise.
O caminho da apuração
Aos Fatos fez uma busca nos canais oficiais da diplomacia paraguaia no Brasil e nos perfis do presidente do Paraguai, Santiago Peña, e não encontrou publicações que notificassem sobre o risco de comprar bebidas adulteradas no Brasil.
Também acionamos por email, por telefone e por mensagem os consulados do Paraguai no Brasil, mas não obtivemos resposta até o momento da publicação. Por fim, recorremos a especialistas para contextualizar informações sobre os casos de intoxicação.




