ONU não disse que levar crianças à igreja é violação dos direitos humanos

Compartilhe

Ampara-se em informações falsas texto publicado pelo site Gospel Prime dando conta de que um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou que “levar crianças à igreja é violação dos direitos humanos”. Na verdade, o documento trata apenas de crianças do Reino Unido, algumas das quais são obrigadas a comparecer a atos religiosos cristãos em escolas públicas, sem a opção de não participar.

A notícia falsa circula na internet desde 2016, mas, somente na última semana, angariou cerca de 8.000 compartilhamentos em diferentes páginas do Facebook. Denunciada por usuários daquela rede social, a publicação foi marcada por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação do Facebook (entenda como funciona).

A mesma notícia e versões semelhantes a ela foram reproduzidas também por sites como Rainha Maria, Mulher Vestida de Sol e Mundo News Online.

Confira, abaixo, o que checamos.


FALSO

ONU afirma que levar crianças à igreja é 'violação dos direitos humanos'

O relatório a que o site Gospel Prime faz referência foi divulgado em junho de 2016 e está disponível online. O documento, feito pelo Comitê dos Direitos da Criança da ONU, trata da situação das crianças nos países do Reino Unido, como Inglaterra, Irlanda do Norte e Escócia.

Na página 7, o relatório diz: “o comitê está preocupado que estudantes sejam obrigados por lei a participar de atos religiosos diários que são ‘totalmente ou em grande parte de base cristã’ em escolas públicas na Inglaterra e no País de Gales, e que as crianças não têm o direito de optar, até o ensino médio, por deixar de comparecer a esses atos religiosos sem a permissão dos pais. Na Irlanda do Norte e na Escócia, crianças não têm o direito de deixar de comparecer a atos religiosos sem a permissão dos pais”.

Em seguida, o comitê faz uma recomendação para que os países do Reino Unido deixem de obrigar estudantes a participar de atos religiosos em escolas públicas e autorizem que eles possam optar de modo independente, sem a necessidade de permissão dos pais, se querem ou não participar desse tipo de culto. Ou seja, não se trata de levar crianças à igreja, mas levá-las à força, a despeito de sua fé.

Após a publicação do relatório da ONU, políticos do Partido Conservador no Reino Unido se posicionaram contrários à conclusão. Grupos que advogam pelo Estado laico, por outro lado, endossaram o documento. Até hoje, porém, não houve nenhuma mudança na legislação.

O texto do Gospel Prime omite que o relatório trata de cultos em escolas públicas e afirma, falsamente, que a conclusão do documento é que “frequentar a igreja poderia ser uma violação dos direitos humanos”. Porém, em nenhum trecho o relatório afirma isso ou faz julgamento de valor sobre os atos religiosos em si, apenas ao fato de que estudantes são obrigados a comparecer à liturgia.

Essa notícia falsa surgiu primeiro em inglês, em junho de 2016, quando um site chamado Charisma News publicou um texto com o título: “Levar crianças à igreja viola os direitos humanos delas, diz ONU”. Na época, o conteúdo foi desmentido pelo site de checagem norte-americano Snopes.

A versão em português foi escrita pelo Gospel Prime no mês seguinte e, já naquela época, desmentida pelo site Boatos.org. O conteúdo, porém, voltou a circular e, na última semana, viralizou. A página O Brazil de Fora do Brasil publicou o link na sexta-feira (31) e, desde então, teve 7.250 compartilhamentos e 1.328 reações. Na página Direita Vive 3.0, em que o link foi publicado no domingo (2), há 444 compartilhamentos e 1.436 reações.

Segundo dados do CrowdTangle, ferramenta do Facebook para análise de conteúdo, o link já teve 186 mil reações e 39 mil compartilhamentos na rede social desde que foi criado.

Compartilhe

Leia também

falsoVídeo mostra incêndio em mesquita na Indonésia em 2022, e não atentado recente na Espanha

Vídeo mostra incêndio em mesquita na Indonésia em 2022, e não atentado recente na Espanha

falsoLula não pediu retratação ao Vaticano por críticas feitas pelo papa Leão 14

Lula não pediu retratação ao Vaticano por críticas feitas pelo papa Leão 14

Bolsonaro contradiz o filho ao negar atuação de Eduardo em tarifaço de Trump

Bolsonaro contradiz o filho ao negar atuação de Eduardo em tarifaço de Trump

fátima
Fátima