Não é verdade que a Organização Mundial da Saúde tenha orientado que governos de todo o mundo promovam lockdowns para conter o avanço da Mpox, doença antes chamada de varíola dos macacos, como afirmam publicações nas redes. Não há qualquer declaração ou documento público da OMS com essa recomendação.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos no X até a tarde desta sexta-feira (16).
A OMS ordena que os governos se preparem para “mega-lockdowns” devido à estirpe mortal da “varíola dos macacos” ...será que vão conseguir nos prender de novo???
Posts mentem ao afirmar que a OMS ordenou que os governos organizem lockdowns em razão da Mpox, antes conhecida como varíola dos macacos. Até o momento da publicação desta checagem, não houve qualquer orientação da OMS para que sejam tomadas medidas de isolamento social contra a doença.
Em entrevista coletiva na quarta-feira (14), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, classificou a Mpox como ESPII (Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional). Em nenhum momento, porém, Adhanom disse que os países devem se preparar para impor medidas restritivas à circulação de pessoas ou à atividade comercial.
A classificação tampouco significa que lockdowns devem ser feitos. Segundo a OMS, a ESPII implica que a situação é séria, repentina, incomum ou inesperada; tem implicações para a saúde pública além da fronteira do país afetado; e pode exigir ação internacional imediata.
Não é a primeira vez que a Mpox é declarada como uma ESPII, o que já havia ocorrido em julho de 2022. A situação durou até o ano seguinte, e não houve qualquer orientação nesse sentido.
A classificação já foi utilizada para outras doenças, como a gripe H1N1, a poliomielite, o ebola, a Zika e a Covid-19, sendo esta a última a única que foi declarada como pandemia.
De acordo com a OMS, há novo risco de disseminação global da Mpox, após um surto da doença no Congo provocado pela cepa 1b, que tem se mostrado mais contagiosa e letal do que a identificada em 2022. O país africano já registrou mais de 15 mil casos e 537 mortos pela doença desde o início de 2024. Também há registros de surtos em quatro países vizinhos: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.
Diferentemente dos países africanos, o Brasil não vive um surto de Mpox — há sinais de estabilidade e controle da doença, de acordo com o Ministério da Saúde.
- Desde o início do ano, a pasta registrou 709 casos confirmados ou prováveis no país;
- O número é menor em comparação aos mais de 10 mil casos notificados em 2022;
- Desde 2022, foram registradas 16 mortes, sendo a mais recente em abril de 2023.
O CFM (Conselho Federal de Medicina) orientou que os médicos fiquem atentos a pacientes com sintomas da doença, que incluem: febre, dor de cabeça intensa, dor nas costas, dores musculares e inchaço dos gânglios linfáticos. A Mpox também provoca manchas vermelhas lisas, que evoluem para feridas com bolhas repletas de líquidos.
A Mpox é contraída por meio do contato próximo e prolongado com uma pessoa ou um animal infectado por meio de secreções respiratórias, feridas na pele de uma pessoa infectada e objetos contaminados, como lençóis e roupas utilizadas pelos infectados.
O caminho da checagem:
Aos Fatos assistiu à coletiva em que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, classificou a doença como emergência de saúde na última quarta-feira (18). Constatou que não houve qualquer recomendação para que países implementassem lockdowns para conter o avanço da doença.
Tampouco foi localizado qualquer documento em que a OMS recomende medidas de isolamento social e restrição à atividade comercial como formas de combater a doença. As peças de desinformação que fazem essa alegação não fornecem quaisquer provas da existência dessa ordem ou recomendação por parte da organização.