O presidente Lula (PT) foi submetido na madrugada desta terça-feira (10) a uma cirurgia de emergência para conter uma hemorragia intracraniana, segundo boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, às 3h20.
O sangramento foi consequência de um acidente doméstico que Lula sofreu no dia 19 de outubro, quando bateu a cabeça centímetros acima da nuca. Ele caiu no banheiro do Alvorada enquanto cortava as unhas do pé.
Pela manhã, a equipe médica informou em entrevista à imprensa que o procedimento ocorreu com sucesso e que Lula está consciente, sob monitoramento, em um leito de tratamento intensivo. “O presidente não teve sequela alguma, nem alteração de movimento, tanto que ele está estável, conversando normalmente e se alimentando”, afirmou o cardiologista Roberto Kalil Filho.
Na quarta-feira (11), o Sírio-Libanês divulgou um novo boletim médico e informou que o presidente seria submetido a um novo procedimento no dia seguinte. Na manhã desta quinta (12), a equipe médica disse que a intervenção foi um sucesso e Lula está consciente e conversando.
Nas redes, a notícia foi distorcida a fim de reempacotar teorias conspiratórias antigas, como a de que o presidente da República teria morrido e sido substituído por um sósia. Informações falsas do tipo circulam desde a eleição, em 2022, e voltam a viralizar sempre que a saúde de Lula é assunto do noticiário.
Aos Fatos detalha a seguir o que causou a hemorragia no presidente, como foi a cirurgia a que ele foi submetido e qual é a expectativa para os próximos dias.
- O que causou o problema?
- Como foi a cirurgia?
- Qual é a expectativa para a recuperação?
- Como foi o segundo procedimento e por que ele foi necessário?
1. O que causou o problema?
Lula foi diagnosticado com um hematoma intracraniano de aproximadamente 3 centímetros, resultado da queda no banheiro sofrida em 19 de outubro, no Palácio da Alvorada.
Segundo o neurologista Rogério Tuma, que participou da entrevista coletiva sobre o estado de saúde do presidente, o primeiro sangramento identificado à época foi absorvido.
No entanto, durante o processo natural de cicatrização, houve o rompimento de pequenos vasos entre as camadas das meninges, membranas que revestem o sistema nervoso central, causando um segundo sangramento.
A complicação é comum, especialmente entre pacientes idosos, e pode surgir dias ou meses após o trauma inicial. O segundo sangramento foi identificado por meio de exames feitos na noite de segunda-feira (9), no Sírio-Libanês de Brasília, após o presidente relatar dores de cabeça durante o dia.

Contexto da queda. O presidente estava sentado para cortar as unhas do pé quando se desequilibrou do assento e bateu a parte de trás da cabeça. À época, ele foi levado para o Hospital Sírio-Libanês em Brasília, onde realizou exames e passou por uma cirurgia que resultou em cinco pontos. No momento do acidente, Lula estava no Alvorada com a primeira-dama Janja.
2. Como foi a cirurgia?
Lula foi submetido a um procedimento de emergência chamado trepanação, em que o crânio é perfurado para a drenagem do sangue de um hematoma formado internamente. A cirurgia ocorreu no Sírio-Libanês em São Paulo, para onde Lula foi transferido após decisão da equipe médica do hospital em Brasília.
De acordo com o neurocirurgião Mauro Suzuki, que participou da entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (10), o procedimento é padrão na neurocirurgia e na maior parte dos casos não precisa de intervenções futuras para a cicatrização do crânio.
No boletim médico divulgado às 3h20 desta terça-feira (10), o Sírio-Libanês afirmou que o presidente havia sido submetido a uma craniotomia. Na entrevista à imprensa, no entanto, Suzuki explicou que o termo costuma ser usado em intervenções que exigem uma abertura maior do crânio, o que não foi o caso de Lula.
Leia a íntegra do boletim médico
“Presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve ontem à noite (09/12) no Hospital Sírio-Libanês, unidade Brasília, para realizar exame de imagem após sentir dor de cabeça. A ressonância magnética mostrou hemorragia intracraniana, decorrente do acidente domiciliar sofrido em 19/10.
Foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, unidade São Paulo, onde foi submetido à craniotomia para drenagem de hematoma. A cirurgia transcorreu sem intercorrências. No momento, o presidente encontra-se bem, sob monitorização em leito de UTI.
O boletim médico atualizado será emitido pela manhã. Coletiva de imprensa será realizada pela manhã também.
O presidente segue sob acompanhamento da equipe médica, sob os cuidados do prof. dr. Roberto Kalil Filho e da drª. Ana Helena Germoglio.
Dr. Luiz Francisco Cardoso — diretor de governança clínica
Dr. Ângelo Fernandez — diretor clínico”
Segundo as atualizações, o presidente está bem, já despertou e está conversando e se alimentando normalmente. Ele ficará em observação em leito de UTI (unidade de terapia intensiva) pelas próximas 48 horas. Não há sinais de lesões ou sequelas decorrentes do sangramento ou do procedimento.
3. Qual é a expectativa para a recuperação?
O presidente Lula continuará internado e em observação nos próximos dias. Só deve retornar a Brasília no início da próxima semana, mas a equipe médica explicou que esse prazo depende da evolução do seu quadro de saúde. O médico Roberto Kalil Filho, que acompanha Lula, ressaltou que tudo “está correndo bem”.
O presidente vai permanecer na UTI nas próximas 48 horas, acompanhado pela primeira-dama Janja. Segundo a equipe que o atendeu, ele está consciente, se alimentando e conversando com os médicos. Lula terá que ficar de repouso e só deve retomar o trabalho quando voltar a Brasília.
Apesar da internação, a expectativa do Planalto é que o presidente não se licencie do trabalho — situação em que seria substituído temporariamente pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). Questionada pelo Aos Fatos, a assessoria do presidente afirmou que ainda não há uma definição sobre o assunto.
Na prática, no entanto, Alckmin deve assumir os compromissos da agenda de Lula nos próximos dias. O vice-presidente, que participaria hoje de um evento em São Carlos (SP), retornou a Brasília para se encontrar com o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, que se reuniria originalmente com o petista.
4. Como foi o segundo procedimento e por que ele foi necessário?
Na quarta-feira (11), o Sírio-Libanês divulgou um novo boletim médico com atualizações sobre o estado de saúde do presidente. A equipe disse que Lula havia passado o primeiro dia pós-operatório bem, mas que deveria ser submetido a um novo procedimento na manhã de quinta-feira (veja íntegra da nota abaixo).
Leia a íntegra do boletim médico
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece sob cuidados intensivos no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Passou o dia bem, sem intercorrências, realizou fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares.
Como parte da programação terapêutica, fará complementação de cirurgia com procedimento endovascular (embolização de artéria meníngea média) amanhã, pela manhã.
Outras atualizações serão dadas durante coletiva de imprensa a ser realizada amanhã às 10 horas.
O Presidente segue sob acompanhamento da equipe médica, sob os cuidados do prof. dr. Roberto Kalil Filho e da drª. Ana Helena Germoglio.
Segundo Kalil, essa nova operação é um procedimento de baixo risco e fazia parte do protocolo pós-cirúrgico. O objetivo da embolização é evitar novos sangramentos na área onde houve o acúmulo de sangue.
MÉDICOS ATUALIZAM SOBRE ESTADO DE SAÚDE DO PRESIDENTE LULA https://t.co/yj2LdXLGst
— Lula (@LulaOficial) December 12, 2024
No início desta quinta-feira (12), a equipe médica afirmou que o novo procedimento foi um sucesso e o presidente já acordou e está conversando.
O caminho da apuração
Aos Fatos consultou o boletim médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês na madrugada desta terça-feira (10) e assistiu à entrevista à imprensa concedida pela equipe médica do presidente. As informações repassadas pelos especialistas foram sintetizadas e categorizadas em tópicos.
Esta reportagem foi atualizada às 15h55 do dia 10 de dezembro de 2024 para incluir informações sobre um eventual afastamento de Lula durante o período de internação.
Esta reportagem foi atualizada às 12h15 do dia 12 de dezembro de 2024 para incluir informações sobre o segundo procedimento de Lula.