No dia 14 de agosto, a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou o cenário da Mpox no continente africano como uma emergência de saúde pública de importância internacional. O alerta significa que há risco de disseminação global da doença e possibilidade de uma nova pandemia.
O status já havia sido declarado em julho de 2022, mas foi rebaixado em maio de 2023 devido à tendência de queda nos casos. O que reacendeu o alerta foi uma mutação do vírus, que gerou uma subvariante mais letal. A rápida propagação da nova cepa na República Democrática do Congo e o espalhamento por países vizinhos também foram motivos de preocupação.
No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que foram notificados 709 casos da doença em 2024, nenhum deles envolvendo a nova variante. Não houve nenhuma morte confirmada. Apesar disso, a pasta criou um Centro de Operações de Emergência em Saúde no último dia 15 para coordenar ações de resposta à doença no país.
Mesmo que ainda não tenha chegado ao Brasil, a Mpox já tem sido mote de desinformação nas redes. Publicações enganosas criam teorias conspiratórias sobre as origens da doença e distorcem dados sobre formas de contágio para atacar a comunidade LGBTQIA+.
A seguir, Aos Fatos explica as dúvidas mais frequentes sobre o tema:
- O que é Mpox?
- Como a Mpox é transmitida?
- A Mpox é uma infecção sexualmente transmissível?
- Existe tratamento para a Mpox?
- Quem pode tomar a vacina contra a Mpox?
1. O que é Mpox?
Antes conhecida como varíola dos macacos, a Mpox é uma zoonose — ou seja, uma doença infecciosa transmitida entre animais e pessoas — causada pelo vírus mpox, pertencente ao gênero Orthopoxvirus e à família Poxviridae, mesma do vírus da varíola comum.
Segundo a OMS, existem duas cepas geneticamente distintas do vírus: a clado 1, da Bacia do Congo, na África Central, e a clado 2, da África Ocidental. O surto atual é causado por uma subvariante da primeira cepa, a clado 1B, que é mais letal e causa quadros mais graves.
Os principais sintomas da doença são:
- erupções cutâneas semelhantes a bolhas ou feridas, que podem afetar diversas partes do corpo, como rosto, garganta, mãos, pés, olhos, boca e genitais;
- febre;
- dor de cabeça;
- dores musculares;
- calafrios;
- fraqueza;
- linfonodos inchados.
Na maioria dos casos, os sintomas duram em média entre duas a quatro semanas. O período de incubação — fase em que o vírus já se instalou no corpo, mas a pessoa ainda não apresenta sinais da doença — dura de 6 a 13 dias, mas pode chegar a 21 dias.
Mortalidade. Em geral, os sintomas da Mpox desaparecem sozinhos em poucas semanas. No entanto, pessoas imunocomprometidas, recém-nascidos, gestantes e crianças correm maior risco de apresentar sintomas graves da doença.
De acordo com o Ministério da Saúde, em áreas endêmicas — como países das regiões central e ocidental da África — a taxa de mortalidade da doença pode chegar a até 11%. Em países não endêmicos, como o Brasil, a taxa de mortalidade é de 0,022%.
Os quadros mais graves podem incluir lesões maiores e mais espalhadas pelo corpo, além de infecções bacterianas secundárias na pele, infecções sanguíneas ou pulmonares, miocardite, pneumonia e problemas oculares.
Pacientes que apresentem os aspectos mais graves da doença podem precisar de internação, medicamentos antivirais e cuidados intensivos para encurtar o tempo de recuperação.
2. Como a Mpox é transmitida?
A principal forma de transmissão da doença é por meio de contato direto com fluidos corporais (pus, sangue, saliva) e lesões na pele de pessoas ou animais infectados — principalmente roedores e primatas.
Há, no entanto, outras formas de contágio, como:
- exposição próxima e prolongada a gotículas e outras secreções respiratórias de pessoas doentes;
- contato com objetos recentemente usados por pessoas contaminadas, como toalhas, pratos, talheres, vestimentas e roupas de cama;
- no caso de gestantes, o vírus pode ser transmitido para o feto por meio da placenta ou da mãe infectada para o bebê via contato pele a pele durante ou após o parto.
3. A Mpox é uma infecção sexualmente transmissível?
Desde o início do novo surto, publicações têm disseminado desinformação nas redes para associar a Mpox à comunidade LGBTQIA+ e alegar que a doença é uma IST (infecção sexualmente transmissível). Porém, segundo a OMS, ainda não há evidências de que o vírus possa ser propagado pelo sêmen ou por fluidos vaginais.
No entanto, como a transmissão se dá pelo contato com feridas, secreção e gotículas contaminadas, é possível adquirir a Mpox durante relações sexuais. Esse risco não se limita a grupos específicos de pessoas.
“Qualquer pessoa que tenha contato próximo com alguém com sintomas está em risco [de contrair a doença] e qualquer pessoa com múltiplos parceiros sexuais também está em risco”, explica a organização em uma página de perguntas e respostas.
4. Existe tratamento para Mpox?
Ainda não há um tratamento específico para a infecção causada pelo vírus da Mpox. O que existe são medidas de suporte clínico para aliviar os sintomas e prevenir e tratar possíveis complicações e sequelas.
Veja abaixo algumas recomendações da OMS:
- evitar tocar nas feridas causadas pela infecção, e, se possível, protegê-las com um curativo quando estiver próximo de pessoas que não contraíram a doença;
- isolar-se para impedir a disseminação do vírus durante o período de sintomas;
- caso não seja possível ficar isolado, usar máscaras e abrir as janelas para arejar o ambiente;
- lavar as mãos com água e sabão ou desinfetante de mãos à base de álcool.
A entidade também afirma que enxaguantes bucais e colírios podem ser usados, desde que não possuam o hormônio cortisona.
Um antiviral desenvolvido para o tratamento da varíola comum foi aprovado em 2022 pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento da Mpox. Ele é eficaz contra a variante clado 2, que causou o surto ocorrido entre 2022 e 2023. Estudos apontam, no entanto, que os benefícios podem não se estender para o tratamento da subvariante clado 1B.
5. Quem pode tomar a vacina contra a Mpox?
Desenvolvida para a cepa anterior do vírus, que circulou entre 2022 e 2023, a vacina para a Mpox será aplicada no Brasil também para tentar conter o avanço do novo surto. A depender do caso, o imunizante pode ser aplicado antes e depois da exposição ao vírus.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, esclareceu que não haverá vacinação em larga escala contra a doença no Brasil. A prioridade será proteger pessoas que têm maior risco de evolução para formas graves da doença. A medida segue a recomendação da OMS.
A ministra afirmou também que especialistas seguem estudando a eficácia da vacina no enfrentamento da nova cepa. Atualmente, os imunizantes contra a Mpox não agem diretamente contra o patógeno causador da doença, e sim contra o gênero Orthopoxvirus, que inclui os vírus da varíola, varíola bovina e o da vaccinia.
Por compartilharem semelhanças genéticas, as vacinas já desenvolvidas também são aplicadas contra a Mpox. No entanto, imunizantes específicos para a doença estão sendo desenvolvidos.
O Ministério da Saúde determinou que a vacina será aplicada antes da exposição ao vírus nos seguintes casos:
- pessoas que vivem com HIV/Aids: homens cisgênero, travestis e mulheres transgênero, com idade igual ou superior a 18 anos e com status imunológico identificado pela contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses;
- profissionais de 18 a 49 anos que trabalham diretamente com o Orthopoxvírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2).
Já a aplicação da vacina após a exposição ao vírus deve ocorrer no caso de pessoas que tiveram contato direto com secreções e fluidos corporais de pessoas com suspeita ou contaminação confirmada para a doença. Mesmo nesses casos, a imunização é indicada apenas para aqueles cuja exposição é considerada de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS e avaliação da vigilância local.
Segundo a ministra da Saúde, apesar de ser necessário manter um estado de alerta em relação ao vírus, o país apresenta sinais de estabilidade e controle da doença, e não há motivos para alarde.
O caminho da apuração
Aos Fatos apurou informações sobre a doença junto ao Ministério da Saúde, consultando dados de monitoramento da Mpox no país, boletins epidemiológicos e recomendações da pasta.
Também foram consultadas referências da OMS sobre a infecção e a decisão de torná-la uma emergência de saúde pública global, bem como especialistas em saúde pública.