José Cruz/ABr

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2017. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

O que é fato no pronunciamento de fim de ano de Temer

Por Thays Lavor e Tai Nalon

30 de dezembro de 2017, 18h00

Por ocasião das festas de fim de ano, o presidente Michel Temer fez no último domingo (24) um pronuciamento em cadeia de rádio e TV com o objetivo de fazer um balanço das realizações do governo. No entanto, ao promover feitos na área da economia, citou meias-verdades.

A pedido do leitor Adriano Singolani por meio da plataforma #vamosaosfatos, Aos Fatos checou várias afirmações — dentre elas aquelas sobre o Risco Brasil, o desemprego, o custo de vida, a produção industrial e o comércio. Veja abaixo o resultado.


VERDADEIRO

O Risco Brasil diminuiu.

O Risco Brasil é um conceito que busca expressar de forma objetiva o risco de crédito a que investidores estrangeiros estão submetidos quando investem no país. Os indicadores diários mais usados são o EMBI+ e o CDS (Credit Default Swap) do Brasil, e esses apontam realmente uma redução no risco para o país.

O índice EMBI+ — considerado um dos principais termômetros da confiança dos investidores, calculado pelo Banco JP Morgan Chase — encerrou o último dia 21 com 233 pontos. No fim do ano passado, ele estava em 328.

Já o CDS apresentou recuo de 34%: caiu de 283 pontos-base para 187 pontos neste ano, registrando um recuo de 34%. Porém, o Brasil ainda é considerado o 12º país mais arriscado para se investir num grupo de 44 países. Em relação ao início do ano, o país caiu uma posição no ranking.

Por esse critério, o Brasil ainda é considerado menos seguro para investir do que economias emergentes como Turquia, que tem o CDS de 177 pontos, África do Sul (177) Indonésia (101), Peru (81) e Índia (76).


IMPRECISO

Os investimentos estão de volta.

Não exatamente. O indicador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de Formação Bruta de Capital Fixo — na sigla FBCF, que mede os investimentos na economia — aponta alta de 0,1% em outubro em relação a setembro de 2017, na série com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o indicador atingiu patamar 5,6% superior. O componente da construção registrou avanço de 0,2% na margem, corroborando o aumento da confiança entre os empresários do setor.

Entretanto, apesar dessa nova alta mensal, o indicador ainda acumula queda de 2,7% no acumulado do ano e de 2,8% no acumulado dos últimos 12 meses.

O Ipea explica que desempenho dos componentes da FBCF é heterogêneo na margem. O consumo aparente de máquinas apresentou queda de 2,4% entre os meses de outubro e setembro, na série dessazonalizada, e é um dos fatores que puxam a retomada para baixo.


VERDADEIRO

A balança comercial atingiu um superávit histórico.

Ao analisar o histórico da balança comercial do país a partir de 1997, percebe-se um superávit da balança comercial desde 2001, que é quando o total de exportações de bens e serviços é superior ao total de importações.

O ápice veio em novembro de 2017, que é quando a balança comercial brasileira acumulou um saldo positivo de US$ 62 bilhões. O resultado foi fruto de exportações na ordem de US$ 200,150 bilhões e importações que somaram US$ 138,147 bilhões. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.


IMPRECISO

O Produto Interno Bruto [registra alta] também.

É verdade que a economia voltou a crescer em 2017, porém, no acumulado de quatro trimestres, ainda representa queda de 0,2%, conforme o IBGE. Outro fator que causa insegurança e dá nuance ao cenário econômico é que, embora os resultados do PIB nos últimos três trimestres sejam positivos, a sequência é de queda: 1,3%no primeiro trimestre, 0,7% no segundo trimestre e 0,1% no terceiro trimestre.

O PIB no acumulado de 2017, até seu terceiro trimestre, cresceu 0,6% em relação a igual período de 2016. Segundo essa base de comparação, a atividade agropecuária cresceu 14,5%; a indústria registrou -0,9%; serviços, -0,2%.


VERDADEIRO

A indústria e o comércio dão sinais claros de revitalização.

Dados da última Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE, em outubro de 2017, mostram que a produção industrial nacional teve acréscimo de 0,2% frente a setembro, na série com ajuste sazonal. Foi o segundo resultado positivo seguido, acumulando ganho de 0,6% em dois meses.

Aumentaram as produções de farmoquímicos e farmacêuticos (20,3%) e de bebidas (4,8%), seguidas por vestuário e acessórios (4,3%). Recuou a produção de produtos alimentícios (-5,7%).

Na série sem ajuste sazonal, no confronto com outubro de 2016, a indústria cresceu 5,3%, sexta taxa positiva consecutiva e a mais elevada desde abril de 2013 (9,8%).

Quanto ao indicador acumulado nos últimos doze meses, ao avançar 1,5% em outubro de 2017, marcou o segundo resultado positivo consecutivo e o mais elevado desde março de 2014 (2,1%), e prosseguiu com a trajetória ascendente iniciada em junho de 2016 (-9,7%).

O comércio também tem registrado desempenho em geral positivo mês a mês. Conforme o Ipea, "após a queda registrada em outubro, segundo apontou a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, os resultados já divulgados para alguns indicadores coincidentes sugerem que o comércio varejista continuou oscilando em novembro".

A Carta de Conjuntura registra que o indicador Serasa Experian de atividade do comércio registrou avanço de 1% na comparação com o mês anterior. Dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram acomodação nas vendas do setor automotivo (autos e comerciais leves) no mesmo mês, com queda de 3,4% na série com ajuste sazonal.

"Com isso, o Indicador Ipea de Comércio [prévia do resultado da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE] prevê crescimento de 0,6% para as vendas no conceito ampliado e avanço no conceito restrito (0,3%), ambos os resultados são prévias do resultado da PMC do IBGE na comparação com o mês anterior. Já na comparação com novembro de 2016, as altas previstas são de 4,4% e 3,5%, respectivamente", demonstra o Ipea.


EXAGERADO

Nos últimos meses, mais de 1 milhão de novos postos de trabalho foram criados.

O número divulgado pelo governo, além de superestimado, não estabelece parâmetros de comparação confiáveis, que levam em conta a sazonalidade. A comparação anual é, muitas vezes, considerada mais adequada por refletir fatores sazonais. O dado também não considera que o saldo positivo é referente apenas à criação de vagas informais, conforme a Pnad Contínua, do IBGE.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada (33,2 milhões) diminuiu na comparação com o trimestre anterior (agosto a outubro), quando esse número era de 33,3 milhões de pessoas. Ou seja, são 100 mil vagas a menos. Conforme o IBGE, essa taxa ficou estável frente ao trimestre de junho a agosto de 2017, cujo o número de trabalhadores formais era também de 33,3 milhões.

No confronto com o trimestre de setembro a novembro de 2016, houve declínio: -2,5% , ou menos 857 mil vagas.

Já o número de empregados sem carteira de trabalho assinada (11,2 milhões de pessoas) cresceu 3,8% em relação ao trimestre anterior (mais 411 mil vagas). Em relação ao mesmo trimestre de 2016, subiu 6,9% (mais 718 mil vagas). No entanto, não chega a mais de um milhão.

A taxa de desocupação recuou 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre de junho-julho-agosto (12,6%). Hoje essa taxa é de 12,0%, referente ao trimestre de setembro-outubro-novembro de 2017. Para o IBGE, o quadro é de estabilidade se comparado com o mesmo trimestre de 2016, quando a taxa foi estimada em 11,9%.


EXAGERADO

Está mais barato para comer, para vestir, para morar.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de novembro ficou em 0,28%, 0,14 ponto percentual abaixo do resultado de outubro (0,42%). O acumulado no ano está em 2,50%: o menor resultado para um mês de novembro desde 1998 (1,32%) e bem abaixo dos 5,97% em igual período de 2016.

O acumulado dos últimos 12 meses (2,80%) superou os 2,70% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2016, o IPCA foi de 0,18%.

Porém, alimentação e bebidas (-0,38%) e artigos de residência (-0,45%) foram os únicos grupos com queda nos preços. Entre os demais, destaque para habitação (inflação de 1,27% e 0,20 ponto percentual de impacto no índice do mês), e transportes (inflação de 0,52% e 0,09 ponto percentual).

No grupo da habitação, pode-se destacar a elevação nas tarifas de energia elétrica e o gás de cozinha. O preço do gás de botijão subiu, em média, 1,57%, influenciado pelo reajuste nas refinarias. Já a energia elétrica subiu, em média, 4,21%. Em novembro, vigorou a bandeira tarifária vermelha patamar 2, já com a cobrança adicional do novo valor de R$ 5 a cada 100 Kw/h consumidos.

O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980 e refere-se às famílias com rendimento monetário de um a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, abrangendo dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, de Campo Grande e de Brasília.

São considerados nove grupos de produtos e serviços: alimentação e bebidas; artigos de residência; comunicação; despesas pessoais; educação; habitação; saúde e cuidados pessoais; transportes e vestuário.Eles são subdivididos em outros itens. Ao todo, são consideradas as variações de preços de 465 subitens.

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