O que é fato no pronunciamento de fim de ano de Temer

Compartilhe

Por ocasião das festas de fim de ano, o presidente Michel Temer fez no último domingo (24) um pronuciamento em cadeia de rádio e TV com o objetivo de fazer um balanço das realizações do governo. No entanto, ao promover feitos na área da economia, citou meias-verdades.

A pedido do leitor Adriano Singolani por meio da plataforma #vamosaosfatos, Aos Fatos checou várias afirmações — dentre elas aquelas sobre o Risco Brasil, o desemprego, o custo de vida, a produção industrial e o comércio. Veja abaixo o resultado.


VERDADEIRO

O Risco Brasil diminuiu.

O Risco Brasil é um conceito que busca expressar de forma objetiva o risco de crédito a que investidores estrangeiros estão submetidos quando investem no país. Os indicadores diários mais usados são o EMBI+ e o CDS (Credit Default Swap) do Brasil, e esses apontam realmente uma redução no risco para o país.

O índice EMBI+ — considerado um dos principais termômetros da confiança dos investidores, calculado pelo Banco JP Morgan Chase — encerrou o último dia 21 com 233 pontos. No fim do ano passado, ele estava em 328.

Já o CDS apresentou recuo de 34%: caiu de 283 pontos-base para 187 pontos neste ano, registrando um recuo de 34%. Porém, o Brasil ainda é considerado o 12º país mais arriscado para se investir num grupo de 44 países. Em relação ao início do ano, o país caiu uma posição no ranking.

Por esse critério, o Brasil ainda é considerado menos seguro para investir do que economias emergentes como Turquia, que tem o CDS de 177 pontos, África do Sul (177) Indonésia (101), Peru (81) e Índia (76).


IMPRECISO

Os investimentos estão de volta.

Não exatamente. O indicador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de Formação Bruta de Capital Fixo — na sigla FBCF, que mede os investimentos na economia — aponta alta de 0,1% em outubro em relação a setembro de 2017, na série com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o indicador atingiu patamar 5,6% superior. O componente da construção registrou avanço de 0,2% na margem, corroborando o aumento da confiança entre os empresários do setor.

Entretanto, apesar dessa nova alta mensal, o indicador ainda acumula queda de 2,7% no acumulado do ano e de 2,8% no acumulado dos últimos 12 meses.

O Ipea explica que desempenho dos componentes da FBCF é heterogêneo na margem. O consumo aparente de máquinas apresentou queda de 2,4% entre os meses de outubro e setembro, na série dessazonalizada, e é um dos fatores que puxam a retomada para baixo.


VERDADEIRO

A balança comercial atingiu um superávit histórico.

Ao analisar o histórico da balança comercial do país a partir de 1997, percebe-se um superávit da balança comercial desde 2001, que é quando o total de exportações de bens e serviços é superior ao total de importações.

O ápice veio em novembro de 2017, que é quando a balança comercial brasileira acumulou um saldo positivo de US$ 62 bilhões. O resultado foi fruto de exportações na ordem de US$ 200,150 bilhões e importações que somaram US$ 138,147 bilhões. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.


IMPRECISO

O Produto Interno Bruto [registra alta] também.

É verdade que a economia voltou a crescer em 2017, porém, no acumulado de quatro trimestres, ainda representa queda de 0,2%, conforme o IBGE. Outro fator que causa insegurança e dá nuance ao cenário econômico é que, embora os resultados do PIB nos últimos três trimestres sejam positivos, a sequência é de queda: 1,3%no primeiro trimestre, 0,7% no segundo trimestre e 0,1% no terceiro trimestre.

O PIB no acumulado de 2017, até seu terceiro trimestre, cresceu 0,6% em relação a igual período de 2016. Segundo essa base de comparação, a atividade agropecuária cresceu 14,5%; a indústria registrou -0,9%; serviços, -0,2%.


VERDADEIRO

A indústria e o comércio dão sinais claros de revitalização.

Dados da última Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE, em outubro de 2017, mostram que a produção industrial nacional teve acréscimo de 0,2% frente a setembro, na série com ajuste sazonal. Foi o segundo resultado positivo seguido, acumulando ganho de 0,6% em dois meses.

Aumentaram as produções de farmoquímicos e farmacêuticos (20,3%) e de bebidas (4,8%), seguidas por vestuário e acessórios (4,3%). Recuou a produção de produtos alimentícios (-5,7%).

Na série sem ajuste sazonal, no confronto com outubro de 2016, a indústria cresceu 5,3%, sexta taxa positiva consecutiva e a mais elevada desde abril de 2013 (9,8%).

Quanto ao indicador acumulado nos últimos doze meses, ao avançar 1,5% em outubro de 2017, marcou o segundo resultado positivo consecutivo e o mais elevado desde março de 2014 (2,1%), e prosseguiu com a trajetória ascendente iniciada em junho de 2016 (-9,7%).

O comércio também tem registrado desempenho em geral positivo mês a mês. Conforme o Ipea, "após a queda registrada em outubro, segundo apontou a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE, os resultados já divulgados para alguns indicadores coincidentes sugerem que o comércio varejista continuou oscilando em novembro".

A Carta de Conjuntura registra que o indicador Serasa Experian de atividade do comércio registrou avanço de 1% na comparação com o mês anterior. Dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram acomodação nas vendas do setor automotivo (autos e comerciais leves) no mesmo mês, com queda de 3,4% na série com ajuste sazonal.

"Com isso, o Indicador Ipea de Comércio [prévia do resultado da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE] prevê crescimento de 0,6% para as vendas no conceito ampliado e avanço no conceito restrito (0,3%), ambos os resultados são prévias do resultado da PMC do IBGE na comparação com o mês anterior. Já na comparação com novembro de 2016, as altas previstas são de 4,4% e 3,5%, respectivamente", demonstra o Ipea.


EXAGERADO

Nos últimos meses, mais de 1 milhão de novos postos de trabalho foram criados.

O número divulgado pelo governo, além de superestimado, não estabelece parâmetros de comparação confiáveis, que levam em conta a sazonalidade. A comparação anual é, muitas vezes, considerada mais adequada por refletir fatores sazonais. O dado também não considera que o saldo positivo é referente apenas à criação de vagas informais, conforme a Pnad Contínua, do IBGE.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada (33,2 milhões) diminuiu na comparação com o trimestre anterior (agosto a outubro), quando esse número era de 33,3 milhões de pessoas. Ou seja, são 100 mil vagas a menos. Conforme o IBGE, essa taxa ficou estável frente ao trimestre de junho a agosto de 2017, cujo o número de trabalhadores formais era também de 33,3 milhões.

No confronto com o trimestre de setembro a novembro de 2016, houve declínio: -2,5% , ou menos 857 mil vagas.

Já o número de empregados sem carteira de trabalho assinada (11,2 milhões de pessoas) cresceu 3,8% em relação ao trimestre anterior (mais 411 mil vagas). Em relação ao mesmo trimestre de 2016, subiu 6,9% (mais 718 mil vagas). No entanto, não chega a mais de um milhão.

A taxa de desocupação recuou 0,6 ponto percentual em relação ao trimestre de junho-julho-agosto (12,6%). Hoje essa taxa é de 12,0%, referente ao trimestre de setembro-outubro-novembro de 2017. Para o IBGE, o quadro é de estabilidade se comparado com o mesmo trimestre de 2016, quando a taxa foi estimada em 11,9%.


EXAGERADO

Está mais barato para comer, para vestir, para morar.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de novembro ficou em 0,28%, 0,14 ponto percentual abaixo do resultado de outubro (0,42%). O acumulado no ano está em 2,50%: o menor resultado para um mês de novembro desde 1998 (1,32%) e bem abaixo dos 5,97% em igual período de 2016.

O acumulado dos últimos 12 meses (2,80%) superou os 2,70% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2016, o IPCA foi de 0,18%.

Porém, alimentação e bebidas (-0,38%) e artigos de residência (-0,45%) foram os únicos grupos com queda nos preços. Entre os demais, destaque para habitação (inflação de 1,27% e 0,20 ponto percentual de impacto no índice do mês), e transportes (inflação de 0,52% e 0,09 ponto percentual).

No grupo da habitação, pode-se destacar a elevação nas tarifas de energia elétrica e o gás de cozinha. O preço do gás de botijão subiu, em média, 1,57%, influenciado pelo reajuste nas refinarias. Já a energia elétrica subiu, em média, 4,21%. Em novembro, vigorou a bandeira tarifária vermelha patamar 2, já com a cobrança adicional do novo valor de R$ 5 a cada 100 Kw/h consumidos.

O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980 e refere-se às famílias com rendimento monetário de um a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, abrangendo dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, de Campo Grande e de Brasília.

São considerados nove grupos de produtos e serviços: alimentação e bebidas; artigos de residência; comunicação; despesas pessoais; educação; habitação; saúde e cuidados pessoais; transportes e vestuário.Eles são subdivididos em outros itens. Ao todo, são consideradas as variações de preços de 465 subitens.

Compartilhe

Leia também

falsoDenúncia de fraude no INSS em 2005 não tem relação com esquema atual

Denúncia de fraude no INSS em 2005 não tem relação com esquema atual

Alexandre de Moraes e Carmen Lúcia vão debater desinformação em evento global de checadores

Alexandre de Moraes e Carmen Lúcia vão debater desinformação em evento global de checadores

falsoReportagem da Record não revelou que fraude do INSS financiou campanha de Bolsonaro

Reportagem da Record não revelou que fraude do INSS financiou campanha de Bolsonaro