O que checamos sobre Ricardo Nunes, reeleito para a Prefeitura de São Paulo

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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), se reelegeu nas eleições municipais deste domingo (27). O resultado foi confirmado por volta das 18h45, com 89,78% das urnas apuradas: àquela altura, o prefeito reeleito tinha 59,56% dos votos válidos, contra 40,44% de seu adversário, Guilherme Boulos (PSOL).

Eleito vice-prefeito em 2020, Nunes assumiu o comando da gestão municipal em maio de 2021, com a morte de Bruno Covas (PSDB). Antes, o político atuou como vereador por dois mandatos.

Ao longo da disputa eleitoral deste ano, Aos Fatos acompanhou a participação de Nunes em atos de campanha, entrevistas e debates. A seguir, listamos os principais argumentos desinformativos usados pelo candidato.

“Nós tínhamos 400 policiais militares na Operação Delegada, hoje são 2.400, eu coloquei 2.000 a mais.” — no debate da Band, em 14.out.2024.

Nunes exagera o número de vagas que criou na Operação Delegada — convênio entre a prefeitura e o governo do estado que emprega policiais militares de folga em serviços que caberiam à administração municipal, como o combate a ambulantes ilegais.

Em 2023, a Subprefeitura da Sé divulgou que o número de agentes abrangidos pelo convênio em toda a cidade havia passado de 1.163 para 2.400 — um aumento de 1.237 postos, e não de 2.000. Aos Fatos não encontrou dados mais recentes.

Já outra notícia do site da prefeitura dizia que, em maio de 2020, ainda na gestão de Bruno Covas (PSDB), a operação tinha 964 vagas — também acima das 400 mencionadas por Nunes.

“Nós temos no Brasil o percentual de evasão escolar acima de 5%, 5,5%. Vamos falar de São Paulo. A gente tinha na época lá em 2015, 2016, 1,5% de evasão. Eu estava com 0,95%, eu falei: não, ainda é muito. A gente chegou agora em 0,7% de evasão escolar.” — em entrevista ao Flow Podcast, em 10.set.2024.

A comparação feita pelo prefeito é incorreta por dois motivos:

  • Não há dados oficiais recentes sobre evasão escolar;
  • Os números sobre evasão são diferentes para alunos dos ensinos fundamental e médio.

Os últimos dados disponíveis foram calculados em 2021 pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Na época, a rede municipal de São Paulo registrou 2,8% de evasão escolar entre alunos do ensino médio e 0,9% entre matriculados no fundamental.

Os índices representam uma queda em relação aos números de 2015 e 2016, quando a taxa de evasão escolar foi de 1,7% no fundamental e de 6,9% no médio.

“A Regina já falou que ela não fez [boletim de ocorrência]. Ela contratou um advogado. Eu até separei o material para te entregar. O advogado entrou com uma petição falando que queria esse boletim de ocorrência assinado. Veio a resposta da delegacia que não existe esse boletim de ocorrência.” — em entrevista ao UOL e à Folha de S.Paulo, em 15.jul.2024.

A declaração foi dada por Nunes em resposta a um questionamento sobre o boletim de ocorrência que sua mulher, Regina Carnovale, registrou contra ele em 2011 por violência doméstica e ameaça. O emedebista negou que o registro exista e disse que ele teria sido “forjado”, o que é FALSO.

O documento foi entregue à Folha de S.Paulo em 2020. O jornal também encontrou na época publicações nas redes de Carnovale que narravam brigas entre os dois. À polícia, a mulher acusou Nunes de não aceitar a separação e de ameaçá-la “todos os dias”.

Eu tinha 14 mil vagas [de acolhimento para pessoas em situação de rua]. Hoje, eu tenho 29.400 vagas.” — no debate da Globo, em 25.out.2024.

A declaração é imprecisa. Em abril de 2021, um mês antes de Nunes assumir a prefeitura, a cidade já contava com mais de 23 mil vagas de acolhimento para pessoas em situação de rua, de acordo com dados oficiais. Já em agosto de 2023, havia cerca de 25 mil vagas.

Apesar de não haver dados mais recentes, foram abertos desde então novos centros, que ampliaram a abrangência dos atendimentos. É o caso da Vila Reencontro Guaianases (1.200 vagas) e da Vila Reencontro Jabaquara I (520 vagas).

“Ele [Guilherme Boulos] falou aqui, gente, infelizmente, mais uma inverdade: que eu dei o negócio do transporte aquático para Transwolff. Quem opera, quem opera, é a Prefeitura de São Paulo, é a SPTrans.” — no debate da Globo, em 25.out.2024.

Ao se referir ao Aquático SP, transporte público por barcos na represa Billings, Nunes omite que, de junho de 2023 a abril de 2024, o projeto, em caráter experimental, de fato esteve sob responsabilidade da Transwolff, empresa de ônibus suspeita de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A escolha foi feita sem licitação, por meio de um aditivo ao contrato pelo serviço de ônibus.

Em abril deste ano, a prefeitura tirou o projeto da Transwolff, que estava sob intervenção da administração municipal, e repassou para a SPTrans, empresa que gerencia o transporte público da cidade. O transporte de passageiros na represa Billings foi inaugurado no mês seguinte.

“É inaceitável que o governo federal, que é quem detém a concessão, regulação e fiscalização [das concessionárias de energia], não tenha feito nada.” — no debate da Band, em 14.out.2024.

Ao comentar sobre o apagão que atingiu São Paulo no início de outubro, Nunes omitiu que, apesar de o contrato de concessão de energia ter sido assinado entre o governo federal e a Enel, diversos entes federativos compartilham a responsabilidade pela gestão e a supervisão do trabalho.

A fiscalização é feita pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), autarquia que é ligada ao Ministério de Minas e Energia, mas não é subordinada à pasta, e pela Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), ligada ao governo estadual. Já a responsabilidade pela poda de árvores é compartilhada entre a Enel e a Prefeitura de São Paulo.

Vale ressaltar que o governo federal multou a empresa por conta do apagão ocorrido no fim de 2023, mas a Justiça Federal suspendeu a tramitação do processo.

“O Bruno [Covas] e eu entregamos muitas UPAs. E só eu entreguei 19.” — no debate da Band, em 14.out.2024.

Nunes exagera o número de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) inauguradas em sua gestão. Questionada pelo Aos Fatos no início de setembro, a Secretaria Municipal de Saúde enviou uma lista de 18 unidades que teriam sido entregues pelo prefeito. Três delas, no entanto, foram inauguradas antes de seu mandato:

  • A UPA Jabaquara, entregue em abril de 2021, quando Bruno Covas (PSDB) ainda era o prefeito;
  • A UPA 24h Vera Cruz, inaugurada em 2018 pelo prefeito João Doria (PSDB);
  • E a UPA Santo Amaro, entregue em 2018, também na gestão Doria. Nunes foi responsável pela transferência do local e pela ampliação da unidade em junho deste ano.

A partir de meados de setembro, o prefeito passou a contabilizar mais uma unidade na lista: a AMA (Assistência Médica Laboratorial) Jardim Helena, na zona leste, que foi reformada e transformada em UPA.

“A cidade de São Paulo se tornou a capital mundial da vacina.” — no debate da Band, em 14.out.2024.

Nunes se refere a uma reportagem da Forbes publicada em janeiro de 2022, intitulada “Como São Paulo se tornou a ‘capital mundial da vacina’”. O texto exalta o avanço da imunização na cidade, mas não faz comparações com metrópoles de outros países.

Aos Fatos identificou ao menos duas cidades com taxas de vacinação maiores do que São Paulo: em setembro de 2021, por exemplo, quando a capital paulista tinha 75,1% da população adulta totalmente vacinada, a capital chinesa, Pequim, já tinha 97% dos adultos imunizados.

Em outubro de 2021, a capital da Austrália, Canberra, se aproximava de 100% da população vacinada e disputava o título de cidade com maior taxa de imunização do mundo.

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