Luiz Fernando Menezes/Aos Fatos

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Notícias falsas foram compartilhadas ao menos 3,84 milhões de vezes durante as eleições

Por Bárbara Libório e Ana Rita Cunha

31 de outubro de 2018, 19h30

De julho a outubro, Aos Fatos desmentiu 113 boatos sobre eleições que, somados, acumularam ao menos 3,84 milhões de compartilhamentos no Facebook e no Twitter. Apenas no fim de semana do segundo turno, Aos Fatos desmentiu 19 peças de desinformação que, ao todo, foram compartilhadas 290 mil vezes no Facebook.

Os boatos que tiveram maior tração nas redes foram relacionados às urnas eletrônicas que autocompletavam para o PT e ao "kit gay", cuja criação fora falsamente atribuída ao candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad. No fim de semana do segundo turno, viralizaram com força boatos sobre um suposto acordo secreto entre a Organização dos Estados Americanos, a OEA, e o Partido dos Trabalhadores, e também uma falsa capa da revista Veja com uma foto do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa pedindo que os brasileiros não votassem no PT. Esses dois boatos somaram mais de 100 mil compartilhamentos no Facebook.

Os números, no entanto, tendem a ser subestimados, uma vez que o maior vetor de desinformação desta eleição é o WhatsApp — uma plataforma fechada. É impossível, portanto, saber quantas pessoas de fato foram afetadas por desinformação. Números de julho davam conta de que havia no Facebook 127 milhões de usuários ativos mensais no Brasil. No WhatsApp, eram 120 milhões de usuários ativos no país.

O número de compartilhamentos levantado por Aos Fatos também diz respeito somente àqueles perfis que de fato se engajaram na disseminação de conteúdo falso ou distorcido na rede social. Levando em conta que uma informação compartilhada pode ser vista por dezenas ou centenas de outros perfis em diferentes plataformas sociais, a quantidade de pessoas expostas aos vários tipos de desinformação tende a ser muito maior.

Ação inédita. A maratona de checagens do fim de semana do segundo turno das eleições contou com uma iniciativa inédita de checadores de todo o país. O Aos Fatos se uniu a outras cinco agências de checagens de notícias para verificar as mensagens de conteúdo suspeito na reta final das eleições com o objetivo de ganhar mais agilidade e aumentar o alcance das checagens. A parceria reuniu Fato ou Fake, Comprova, Agência Lupa, Boatos.org e e-Farsas. No total, foram checadas em conjunto 50 notícias falsas em 48 horas de trabalho.

Mais tração. Ao longo do período de campanha, a peça de desinformação com maior número de compartilhamentos foi a pretendia denunciar que uma urna eletrônica autocompletava voto no candidato do PT, Fernando Haddad. Catalisada por um tweet do senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do candidato à Presidência, a peça de desinformação foi compartilhada ao menos 732,1 mil vezes nas redes sociais.

As peças de desinformação sobre o projeto Escola Sem Homofobia, apelidado por seus opositores de “kit gay”, foram as que tiveram mais compartilhamentos de modo difuso, já que foram divulgadas em formatos diversos — vídeos, fotos e notícias falsas. O material do projeto foi produzido em 2011 por organizações de defesa da população LGBT em convênio com o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), uma autarquia do Ministério da Educação, à época sob gestão de Fernando Haddad. Ao contrário do afirmado nos boatos, o material não era destinado “a crianças de seis anos”, mas a estudantes do ensino médio, adolescentes e pré-adolescentes.

Outro boato que teve forte difusão ao longo do período eleitoral foi o do suposto apoio do padre Marcelo Rossi. Um áudio que viralizou nas redes sociais e aplicativos de mensagem mostrava o líder católico condenando o voto em Fernando Haddad, Marina Silva e Geraldo Alckmin para, no fim, recomendar o voto em Jair Bolsonaro. O próprio sacerdote desmentiu a informação em vídeo nas redes sociais. Ao longo da campanha o mesmo áudio voltou a circular, mas atribuído ao padre Fábio de Melo. Ele também negou a autoria das afirmações em redes sociais.

No fim de semana do segundo turno, o boato checado por Aos Fatos com maior reverberação foi o que distorcia a reunião realizada pela OEA (Organização dos Estados Americanos) com o PT para sugerir que houve um acordo para fraudar as eleições no próximo domingo. As postagens compartilhavam as fotos da equipe da organização com a chapa petista ou de Fernando Haddad (PT) cumprimentando a chefe da missão acompanhadas de diversas mensagens que sugeriam que o encontro tivesse sido escondido. Na verdade, a reunião sempre foi divulgada, teve como objetivo a apresentação de denúncias por parte do PT e a organização tentou se encontrar também com o PSL. A peça de desinformação foi compartilhada ao menos 58 mil vezes no Facebook desde a manhã de sábado (27). Os dados foram atualizados pela última vez na última segunda-feira (29).

A segunda peça de desinformação com maior engajamento foi uma montagem antiga de uma capa da revista Veja, de 2014, com a foto do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa pedindo para que os brasileiros o homenageassem não votando no PT. O boato voltou a circular depois que Barbosa declarou se voto no petista Fernando Haddad. A montagem foi compartilhada ao menos 58 mil vezes no Facebook desde a manhã de domingo (28) e foi checada por Aos Fatos e pela Agência Lupa.

Desde agosto, Aos Fatos publicou 113 checagens sobre informações falsas ou distorcidas relacionadas a eleições que circulam nas redes sociais abertas, como Facebook e Twitter, e nas redes sociais fechadas, como o Whatsapp. As checagens foram selecionadas a partir de solicitação na ferramenta de verificação do Facebook (veja como funciona) e de sugestão de checagens dos nossos leitores pelo WhatsApp (saiba mais). Dado que a quantidade de desinformação é muito maior do que a capacidade de Aos Fatos checá-la, os editores deste site criaram uma fórmula interna para hierarquizar prioridades editoriais: o alvo preferencial dos checadores é o boato que tem maior capilaridade nas redes — ou seja, a peça de desinformação que tem mais compartilhamentos visíveis no Facebook ou cuja checagem foi solicitada por mais de dez pessoas em um dia no WhatsApp do Aos Fatos.

Veja, abaixo, quais foram os boatos mais compartilhados nas redes sociais durante as eleições. Clique em cima para acessar suas respectivas checagens:

1

Urna está programada para autocompletar voto em Fernando Haddad (boato com aos menos 732,1 mil compartilhamentos)

2

É falso que Haddad criou 'kit gay' para crianças de seis anos (boato com ao menos 400 mil compartilhamentos)

3

Vídeo em que Haddad diz que 'a eleição acabou' é de 2016, não de agora (boato com ao menos 397 mil compartilhamentos)

4

Vídeo mostra torcedores vendo jogo da Copa, e não ato pela saúde de Bolsonaro (boato com ao menos 225 mil compartilhamentos)

5

Padre Marcelo Rossi não declarou apoio a Bolsonaro; áudio é falso (boato com ao menos 200 mil compartilhamentos)

6

OEA não fez reunião secreta com PT, não é comandada por venezuelanos nem fiscalizará eleições (boato com ao menos 175,4 mil compartilhamentos)

7

É falso que Fernando Haddad defendeu em livro sexo entre pais e filhos (boato com ao menos 173 mil compartilhamentos)

8

Imagens de caravana de motos são de romaria, e não de apoio a Bolsonaro (boato com ao menos 171,6 mil compartilhamentos)

9

Declaração de Cid Gomes é tirada de contexto e atribuída a Fernando Haddad (boato com ao menos 159 mil compartilhamentos)

10

Haddad nunca disse que cabe ao Estado decidir sexualidade de crianças (boato com ao menos 140 mil compartilhamentos)

11

Jean Wyllys não foi convidado para ser ministro da Educação de Haddad nem disse que 'a Bíblia é uma piada' (boato com ao menos 98,6 mil compartilhamentos)

12

PF não apreendeu van com urnas eletrônicas adulteradas (boato com ao menos 97,3 mil compartilhamentos)

13

'Mamadeiras eróticas' não foram distribuídas em creches pelo PT (boato com ao menos 95 mil compartilhamentos)

14

Livro infantil que trata de incesto não foi distribuído pelo MEC na gestão Haddad (boato com ao menos 95 mil compartilhamentos)

15

Vídeo não mostra mãe e criança dentro de carro sendo atacadas por petistas (boato com ao menos 87 mil compartilhamentos)

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