Não há evidências científicas de que a ivermectina, remédio contra vermes e parasitas, cure a infecção pelo novo coronavírus, como afirma uma mulher não identificada em um vídeo que tem sido compartilhado nas redes sociais (veja aqui). Segundo o relato, após tomar o medicamento, ela estaria "bem melhor". No entanto, além de não haver pesquisas que provem a eficácia clínica do remédio contra a Covid-19, outros argumentos usados pela mulher para defender o seu uso, como o êxito no combate ao HIV, também são falsos.
Veja abaixo o que checamos:
1. Segundo o Ministério da Saúde, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina contra o novo coronavírus. Portanto, não é verdade que o ivermectina elimine a Covid-19 em 48 horas;
2. Não é verdade que crianças são imunes à infecção porque tomaram ivermectina em algum momento. Ainda que jovens apresentem menos complicações da Covid-19, eles são suscetíveis à doença e há relatos de mortes de crianças de 12 anos no Brasil, por exemplo;
3. Também é falso que pesquisadores constataram que o ivermectina bloqueia o HIV e que, por isso, também serviria contra o novo coronavírus. Além de o medicamento não constar nos protocolos de tratamento da Aids, a mulher se refere a pesquisas da década de 1990 feitas em laboratório e cujos resultados não se comprovaram em testes clínicos;
4. Por fim, o ivermectina não é um remédio inofensivo e que pode ser tomado por qualquer pessoa, como sustenta a mulher no vídeo. Além de contraindicações e efeitos adversos, ele só pode ser adquirido com prescrição médica.
Uma peça de desinformação sobre a eficácia do ivermectina circulou nas redes sociais espanholas no começo do mês. No Brasil, o vídeo tem sido difundido no Facebook desde o começo da semana e já acumula ao menos 2.000 compartilhamentos até a tarde desta quinta-feira (30). Os posts foram marcados com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona).
Eu tomei ivermectina a grosso modo (...) o medicamento mata o vírus.
Circula nas redes sociais um depoimento em vídeo de uma mulher não identificada que diz ter se curado da infecção do novo coronavírus com o uso do ivermectina, medicamento vermífugo e antiparasita. Ela, no entanto, não apresenta exames que comprovem que tinha de fato Covid-19 ou que foi curada da doença. Além disso, apesar de haver pesquisas sobre o efeito do medicamento, nenhuma delas atestou até o momento que a substância é eficaz no tratamento da infecção.
Em nota enviada ao Aos Fatos, o Ministério da Saúde reforçou que não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a Covid-19.
Segundo a bióloga do IQC (Instituto Questão de Ciência) Natália Pasternak, há apenas uma pesquisa publicada na Antiviral Research no dia 3 de abril que apontou que, em ambiente controlado de laboratório, o ivermectina serviu como inibidor do Sars-CoV-2. Porém, não houve testes clínicos, o fármaco foi testado apenas em células in vitro (em laboratório). Segundo o artigo, o resultado também não prova que o medicamento é benéfico no tratamento, apenas “demonstra que a ivermectina é digna de consideração adicional como um possível antiviral do Sars-CoV-2”.
Pasternak cita, ainda, um preprint (quando o estudo ainda não foi publicado ou sequer revisado) de pesquisadores da Nuverma Pharma Sciences que aponta que, para obter sucesso, seria necessário tomar uma dose de ivermectina mais de 10 vezes maior do que a aprovada.
No dia 24 de abril, o Ministério da Saúde citou o medicamento em suas revisões de evidências e disse que a eficácia do ivermectina — e de outros compostos sintéticos como hidroxicloroquina e azitromicina — carecia de comprovação por estudos clínicos.
Crianças são imunes ao coronavírus. Gente, isso é mentira. Criança não vai ser imune ao coronavírus, a realidade é que todas as crianças, em algum momento da vida já utilizaram a ivermectina.
No vídeo, a mulher também diz que as crianças seriam imunes à Covid-19 porque tomaram o ivermectina em algum momento antes da pandemia, uma vez que é um medicamento usado contra vermes e piolhos. Porém, é falso que jovens não são acometidos pela infecção e que o fármaco crie algum tipo de imunidade contra o novo coronavírus.
Conforme já explicado por Aos Fatos, por mais que pesquisas e dados mostrem que crianças não tendem a apresentar quadros graves da doença, isso não significa que eles não são suscetíveis à doença. Há casos, inclusive, de mortes de crianças e bebês decorrentes de Covid-19. Já foram noticiadas, por exemplo, vítimas de 12 e 13 anos na Europa e no Brasil.
Também não existe nenhuma evidência de que qualquer medicamento ou vacina disponível promova imunidade ou previna a infecção, conforme aponta a OMS (Organização Mundial da Saúde). Vale ressaltar que mesmo a imunidade pós-infecção ainda não é certa. Segundo a organização, ainda não existe evidência de que pessoas curadas da Covid-19 criem anticorpos que as tornem imunes a uma segunda infecção.
Por fim, a mulher do vídeo omite que a ivermectina só pode ser receitada a crianças maiores de 5 anos e com peso superior a 15 kg. Sendo assim, o argumento de que elas seriam todas imunes não se sustenta.
Na década de 1990, final de década de 1990, os pacientes com HIV já tomavam a ivermectina para a ivermectina bloquear o HIV.
Outra desinformação levantada pelo vídeo é a de que o ivermectina teria sido usado com sucesso para combater o vírus HIV já na década de 1990. De acordo com a mulher não identificada, isso seria uma prova de seu potencial contra o novo coronavírus.
No entanto, segundo explicou Leonardo Weissmann, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), ao Aos Fatos, foram feitos apenas estudos in vitro (em laboratório) sobre a droga, “mas com resultados que não se comprovaram em seres humanos”.
O Aos Fatos também não encontrou menções ao ivermectina nos protocolos de tratamento de HIV indicados pela OMS, pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA e pelo Ministério da Saúde brasileiro.
DISTORCIDO
Nunca ouvi falar de ninguém que morreu tomando ivermectina. A ivermectina é um medicamento que é expelida do organismo em 24h.
Por fim, a mulher do vídeo distorce informações para sugerir que o ivermectina seria um remédio completamente seguro e que não apresenta risco à saúde. De fato, o medicamento é expelido do corpo depois de um dia, mas isso não significa que ele possa ser tomado sem recomendação por qualquer pessoa. O remédio, inclusive, só pode ser vendido com prescrição médica.
O fármaco é contraindicado para pessoas com afecções do sistema nervoso central, como pacientes com meningite, e crianças menores de 5 anos. De acordo com a sua bula, ele tem como reações adversas e efeitos colaterais diarreia, náusea, astenia (perda de força física), dor abdominal, anorexia, constipação e vômitos. Há, ainda, uma pequena probabilidade de os pacientes serem acometidos por tontura, vertigem e tremores.
Segundo artigo do The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, a ivermectina pode gerar riscos principalmente para pacientes com Covid-19 em estado grave, uma vez que pode causar neurotoxicidade e gerar reações adversas quando utilizado em combinação com outros medicamentos.
Uma peça de desinformação semelhante, que afirmava que o ivermectina mataria o novo coronavírus em menos de 48 horas, circulou em língua espanhola no começo de abril, quando foi checado pela equipe da Maldita.
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