Contém informações falsas e distorcidas imagem que circula no Facebook acusando o marido da presidenciável da Rede, Marina Silva, de ser “um dos maiores desmatadores da Amazônia”. O conteúdo, que traz uma foto da candidata com Fábio Vaz de Lima, seu marido, e outra que mostra toras de madeira derrubadas, enuncia ainda: “6 mil toras de mogno apreendidas, valor: R$ 8 milhões”.
As informações na imagem distorcem os fatos de uma investigação do TCU (Tribunal de Contas da União). Em 2004, o órgão apurou a doação de quase seis mil toras de madeira clandestina apreendidas na Amazônia à ONG Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), por meio de um convênio via Ibama. Fábio Vaz é um dos fundadores do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), entidade que tem vínculos com a ONG Fase.
Em 2003, a Fase recebeu 5.731 toras de mogno e as vendeu a uma madeireira por R$ 3,5 milhões. A investigação no tribunal se deu por divergências entre o valor real da madeira e o valor que foi atribuído pela contabilidade da empresa compradora do material: R$ 8 milhões. Na época, Marina era ministra do Meio Ambiente.
Em 2011, Marina Silva pediu ao MPF (Ministério Público Federal) para investigar as acusações contra o seu marido nesse caso. A Procuradoria, no entanto, não encontrou elementos que respaldassem a denúncia e arquivou o processo.
Essas informações sustentam também checagem do projeto Comprova a partir de uma outra versão desse mesmo boato. O Comprova é uma coalizão de veículos de imprensa brasileiros do qual Aos Fatos é parceiro institucional.
A imagem foi denunciada por usuários do Facebook (entenda como funciona) em uma postagem feita na segunda-feira (27) que já acumula mais de 21 mil compartilhamentos. O conteúdo foi marcado como FALSO na ferramenta de verificação da rede social.
Veja abaixo, em detalhes, o que foi verificado.
6 mil toras de mogno apreendidas. Valor: 8 milhões. Um dos maiores desmatadores da Amazônia é marido de Marina Silva.
Não é verdade que Fábio Vaz de Lima, marido da candidata a presidente pela Rede, Marina Silva, é um dos maiores desmatadores da Amazônia, como sugere imagem publicada no Facebook na última segunda-feira (27) e que conta com mais de 21 mil compartilhamentos.
O conteúdo também traz informações incorretas sobre a doação, pelo Ibama, de toras de mogno apreendidas a uma ONG que tem ligações com um grupo fundado pelo marido da candidata. Na verdade, os R$ 8 milhões citados na imagem dizem respeito a uma estimativa da contabilidade da madeireira que acabou por adquirir o material por R$ 3,5 milhões, de acordo com investigação do TCU (Tribunal de Contas da União) de 2004. Em 2011, o MPF (Ministério Público Federal) não encontrou indícios da participação de Fábio Vaz na transação entre a ONG e a empresa.
Este caso remonta a uma discussão que ocorreu em maio de 2011, em sessão do Senado que discutia o Código Florestal. Durante um debate, o então deputado pelo PC do B Aldo Rebelo se irritou com uma provocação feita por Marina no Twitter, que criticava a apresentação de um texto com “novas pegadinhas, minutos antes da votação”. Rebelo foi à tribuna e rebateu a ex-ministra, lançando a acusação de que seu marido havia fraudado “contrabando de madeira”. No dia seguinte, Marina convocou uma coletiva de imprensa para tratar das acusações, classificadas de “levianas e infundadas”. O deputado também se manifestou, dizendo ter feito as declarações de cabeça quente e afirmando que ligaria para se desculpar.
Rebelo fez referência a uma investigação do TCU de 2004. O órgão investigou a doação de quase seis mil toras de madeira clandestina apreendidas na Amazônia para a ONG Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), por um convênio via Ibama. Em 2003, a Fase recebeu 5.731 toras de mogno. A investigação se deu por divergências entre o valor real da madeira e o valor atribuído.
O Ibama repassou o material à Fase – que, por sua vez, entregou o material nas mãos de uma madeireira, a Cikel. Descontados os custos do processo, a empresa pagou R$ 3,5 milhões à ONG para ficar com as toras de mogno, ainda que o custo estimado pela sua contabilidade tenha atribuído ao material o valor de R$ 8 milhões, segundo o TCU.
O caso ocorreu durante a gestão de Marina Silva como ministra do Meio Ambiente — ela ocupou o cargo entre 2003 e 2008, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e enquanto ainda era filiada ao PT.
A ligação de Fábio Vaz de Lima com o caso é que ele havia sido um dos fundadores do Grupo de Trabalho amazônico (GTA), grupo ao qual a ONG Fase era ligado. Em uma nota oficial de Marina, ainda em 2011, ela explicava que o marido havia trabalhado no GTA entre 1996 e 1999, quando deixou o grupo para trabalhar no governo estadual do Acre, durante a gestão de Jorge Viana (PT), entre 1999 e 2007.
Ainda em 2011, Marina pediu ao MPF para investigar as acusações contra o seu marido. O Ministério Público Federal não encontrou elementos sobre a denúncia e arquivou o processo.
O então procurador-geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, assina a conclusão do procedimento administrativo, divulgada em 23 de julho de 2013. “Quanto às acusações feitas contra Fábio Vaz de Lima, não há um único elemento que confira foros de verossimilhança aos fatos noticiados pela imprensa. Como disse a representante, à data em que assumiu o Ministério do Meio Ambiente o seu marido já não mantinha vínculos com as entidades que integram o Grupo de Trabalho Amazônico - GTA, não havendo a indicação de um fato concreto que o vincule à FASE na época em que foi feita a doação do mogno”, diz a decisão.
O Boatos.org já publicou um desmentido sobre outra versão deste boato em 2014. A própria candidata também já publicou sua versão sobre o fato.