É falso que 80% das vagas deixadas por cubanos que participavam do programa Mais Médicos não foram preenchidas por outros profissionais, como sugerem postagens de 2019 que voltaram a circular nas redes sociais (veja aqui). No fim de 2018, após conclusão de um edital para novas contratações, 29,9% dos postos ocupados anteriormente por médicos cubanos não haviam sido preenchidos.
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Passando pra lembrar que 80% das vagas, deixadas pelos “escravos cubanos”, não foram ocupadas pelos “médicos patriotas”!
Voltou a circular nas redes sociais a alegação falsa de que 80% das vagas desocupadas por médicos cubanos no programa Mais Médicos não foram preenchidas por médicos brasileiros. Os dados oficiais disponíveis não sustentam essa afirmação, inicialmente publicada em 2019.
Em novembro de 2018, o governo federal lançou um edital para ocupar 8.517 vagas devido ao encerramento da parceria com Cuba. Nessa primeira chamada, 2.549 postos não foram repostos, segundo o governo informou em 20 de dezembro, resultando em 29,9% de vagas ociosas, percentual inferior ao citado pela peça de desinformação.
Já uma reportagem da Deutsche Welle de 22 de julho de 2019 dizia que, com base em informações do Ministério da Saúde, que 2.149 das 18.337 vagas do programa estavam abertas na época. O número corresponde a 25,3% da parcela de postos ocupados por cubanos (8.517 ao fim da parceria, em 2018).
Pela nova política do programa, médicos brasileiros foram priorizados, mas os estrangeiros ainda podem participar. Para tentar uma vaga, é preciso ter diploma de graduação em medicina em uma instituição de educação superior brasileira ou possuir diploma estrangeiro revalidado no Brasil. No edital de 2018, 126 médicos estrangeiros que cumpriam esse requisito foram selecionados, segundo o Ministério da Saúde.
Um dos fatores que dificulta medições desse tipo é a alta rotatividade do programa, motivada pelas desistências. Só no primeiro mês da gestão de Bolsonaro, em 2019, ao menos 200 vagas foram devolvidas.
Relembre. Cuba anunciou a retirada de seus profissionais no dia 14 de novembro de 2018, logo após Jair Bolsonaro (sem partido), recém-eleito, dizer que iria modificar os termos de colaboração do programa. O Mais Médicos foi lançado em 2013, na gestão de Dilma Rousseff (PT), e contava com a parceria da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e o governo de Cuba.
Em 19 de novembro de 2018, a Opas anunciou que cerca de 8.300 médicos cubanos deixariam gradualmente o programa até o dia 12 de dezembro. No dia seguinte, o então presidente Michel Temer (MDB) lançou o edital. No fim do ano, foi divulgada uma nova chamada para preencher as vagas remanescentes.
O último edital do programa, que agora se chama Mais Médicos pelo Brasil, foi divulgado em 25 de setembro de 2021, com 1.502 vagas. Na época, o Ministério da Saúde disse que o número total de profissionais — atuando em 3.727 municípios e áreas indígenas — era de 15.609.
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