🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Novembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Na véspera do 1º turno, Paes, Crivella e Martha Rocha patrocinam conteúdos falsos ou imprecisos

Por Bernardo Barbosa

14 de novembro de 2020, 18h15

As campanhas dos três candidatos mais bem colocados nas mais recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha — Eduardo Paes (DEM), Marcelo Crivella (Republicanos, candidato à reeleição) e Martha Rocha (PDT) — fizeram alegações falsas ou imprecisas em conteúdos impulsionados no Facebook e no Instagram neste sábado (14), último dia antes de os cariocas irem às urnas.

Impulsionar conteúdos quer dizer que as campanhas investiram dinheiro para aumentar o alcance das postagens nas duas redes sociais. O alcance pode ser medido em número de pessoas atingidas e em impressões, ou seja, o número de vezes que aquele conteúdo apareceu em uma tela. Este número pode incluir várias visualizações pelas mesmas pessoas, informa o Facebook.

Veja abaixo as checagens de algumas das declarações impulsionadas nas redes sociais.


FALSO

[Chefe de gabinete de Martha Rocha] foi preso na sala dela com uma mala cheia de dólares - Vídeo impulsionado no Facebook pela campanha de Eduardo Paes

A declaração é FALSA, porque o então chefe de gabinete de Martha Rocha não estava com dólares no momento da prisão, nem foi detido na sala dela, segundo o voto de um ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A fala da campanha de Paes se refere ao delegado Inaldo Júlio de Santana, que era chefe de gabinete do DGPE (Departamento Geral de Polícia Especializada), área então comandada por Martha Rocha, quando foi preso em 1993 por intermediar uma tentativa de suborno do bicheiro Fernando Ignácio ao delegado Mário Covas, então chefe do DGPI (Departamento Geral de Polícia do Interior).

Em voto proferido no julgamento de um habeas corpus pedido pelo bicheiro Fernando Ignácio em 1994, o ministro Assis Toledo dá detalhes do encontro entre Ignácio e Covas.

O voto do ministro diz que o encontro foi intermediado por Santana e ocorreu no dia 4 de novembro de 1993, “no próprio Gabinete de trabalho do Delegado Covas, onde, mais tarde, [Fernando Ignácio] compareceu e, sacando de sua pasta um envelope branco, colocou-o sobre a mesa do Delegado. Pouco depois, deu-se a prisão em flagrante do Dr. Fernando, paciente desta impetração, constatando-se que o envelope antes referido continha sete mil dólares americanos.”

O voto de Assis Toledo pode ser encontrado na página 281 do número 82 da Revista do STJ, datado de junho de 1996.

Até o final da tarde deste sábado (14), o vídeo impulsionado tinha atingido entre 125 mil e 150 mil impressões, segundo o Facebook, com um gasto entre R$ 800 e R$ 899 pela campanha de Eduardo Paes. Naquele momento, o alcance potencial do post era superior a 1 milhão de pessoas.

A campanha de Paes não respondeu a um pedido de comentário sobre o anúncio feito pela reportagem.

A campanha de Martha Rocha enviou nota para o Aos Fatos citando trecho do parecer da procuradora eleitoral Silvana Batini sobre outra peça de propaganda da campanha de Paes que cita o caso de Inaldo Júlio de Santana. No documento, Batini diz que a peça faz uma “crítica subliminar de caráter misógino e preconceituoso”.


FALSO

[A] Carioca Engenharia, que declarou que comprou pra fazer as obras da Transcarioca (...). E na sua delação, ela diz claramente que comprou essa obra do ex-prefeito [Eduardo Paes], que fraudou a licitação - Vídeo impulsionado no Facebook pela campanha de Marcelo Crivella

A declaração é FALSA, porque executivos da Carioca Engenharia que fizeram acordo de delação não fazem tal acusação a Eduardo Paes.

Executivos da Carioca Engenharia denunciaram irregularidades no BRT Transcarioca. No entanto, segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo em 2017, eles negaram ter pagado propina a Paes.

Os executivos da Carioca denunciaram, por outro lado, que houve pagamento de propina a Alexandre Pinto, ex-secretário de Obras do Rio na gestão de Eduardo Paes. Pinto já foi condenado quatro vezes em processos da Operação Lava Jato.

Em 2018, em depoimento à Justiça, Pinto acusou Paes de ter participado “pessoalmente” de negociações de esquemas de corrupção ligados a obras no Rio, incluindo a Transcarioca. Em vídeo disponível em seu site, Paes rebate as acusações e diz que as sentenças contra Pinto “deixam muito claro que ele era o chefe desse esquema criminoso”.

Até o final da tarde deste sábado (14), o vídeo impulsionado tinha atingido entre 2.000 e 3.000 impressões, segundo o Facebook, com um gasto inferior a R$ 100 pela campanha de Crivella. Naquele momento, o alcance potencial do post era superior a 1 milhão de pessoas.

As campanhas de Paes e de Crivella não responderam a pedidos de comentário sobre o anúncio feitos pela reportagem.


IMPRECISO

Fui presidente da CPI que apurou a corrupção da saúde no Rio que tirou o Witzel do governo - Post impulsionado no Facebook pela campanha de Martha Rocha

A declaração é IMPRECISA, porque o trabalho feito pela comissão presidida por Martha Rocha na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) não foi o único elemento levado em conta no afastamento de Wilson Witzel do governo do estado do Rio, nem integrou o pedido original de impeachment do governador, que ainda está em andamento.

Martha Rocha comandou a Comissão Especial de Fiscalização dos Gastos da Saúde no Combate ao Coronavírus, que foi aberta em 2 de junho deste ano.

No entanto, o pedido de impeachment de Witzel foi protocolado em 27 de maio. Foi feito um dia depois da Operação Placebo, quando Witzel foi alvo de um mandado de busca e apreensão. Ou seja: tudo isso aconteceu antes de a comissão sobre a Covid-19 começar.

Além disso, a Alerj aceitou abrir o processo de impeachment contra Witzel no dia 10 de junho, apenas oito dias depois de a comissão comandada por Martha Rocha iniciar seus trabalhos.

A comissão apresentou seu relatório final em 6 de outubro, cerca de duas semanas depois de a Alerj aprovar o prosseguimento do impeachment de Witzel, o que determinou seu afastamento também pelo Legislativo estadual.

Segundo nota da Alerj, o projeto de resolução que autorizou a continuação do processo de impeachment tem como base o relatório do deputado estadual Rodrigo Bacellar (SDD). No documento, Bacellar diz que usou documentos pedidos pela comissão sobre Covid-19, mas também “documentos públicos, obtidos diretamente nos portais eletrônicos da Secretaria de Estado de Saúde e Portal da Transparência, bem como do site do Ministério Público Federal”.

Em nota enviada para o Aos Fatos, a campanha de Martha Rocha disse que “a delegada se referia aos documentos e informações encaminhadas por ela, ao longo das investigações da Comissão Covid, à CPI do Impeachment de Witzel. Cada requerimento de informações à Secretaria de Saúde ou às empresas envolvidas, assim como a cópia dos depoimentos eram encaminhados à comissão e serviram como base para o processo de afastamento definitivo do governador, pela Assembleia Legislativa.”

Até o final da tarde deste sábado (14), o post impulsionado tinha atingido entre 7.000 e 8.000 impressões, segundo o Facebook, com um gasto inferior a R$ 100 pela campanha de Martha Rocha. Naquele momento, o alcance potencial do post estava entre 100 mil e 500 mil pessoas.

Referências:

1. G1 (1, 2, 3, 4)

2. Folha de S. Paulo

3. Facebook (1, 2, 3, 4, 5, 6)

4. STJ

5. O Globo (1, 2)

6. Agência Brasil

7. Site de Eduardo Paes

8. Alerj (1, 2, 3, 4, 5)

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