Funcionário durante oito anos e chefe da área de integridade e segurança quando deixou o Twitter, em novembro do ano passado, Yoel Roth disse nesta sexta-feira (30) que o empresário Elon Musk estava ciente dos riscos que a plataforma representava em relação à violência eleitoral no Brasil quando decidiu dissolver as equipes de moderação de conteúdo.
“Assim que eu saí e parei de falar sobre os riscos [das eleições brasileiras] para ele [Musk], a empresa parou de fazer seu trabalho”, afirmou Roth em painel da conferência GlobalFact10, em Seul, na Coreia do Sul. “Isso revela a relação ambígua que ele parece ter com problemas como desinformação, segurança e confiança, de modo geral.” Ele classificou como “inexistente” a moderação de conteúdo realizada atualmente pela empresa.
Após deixar a empresa, o ex-executivo passou a ser alvo de ataques na plataforma, inclusive por parte de Musk. O dono do Twitter tuitou um trecho da tese de doutorado de Roth, que é gay, e insinuou que o ex-funcionário incentivava que crianças tivessem acesso a conteúdo pornográfico — o que é mentira. A informação falsa se liga a teorias conspiratórias homofóbicas que tentam relacionar pessoas LGBTQIA+ com pedófilos. Por causa de ameaças de morte, Roth teve que mudar de casa.
Nesta sexta (30), o ex-executivo relatou que, em outubro, Musk disse a ele que gostaria de evitar que a plataforma fosse responsável por alimentar a violência no Brasil durante as eleições. No mês seguinte, no entanto, o empresário demitiu a equipe, dissolveu o escritório no país e encerrou as atividades de integridade e segurança em todo o mundo.
Na época em que Musk assumiu o comando da empresa, Roth chefiava a equipe responsável pela moderação de conteúdo. Ele disse que o novo dono sempre acatava as recomendações e que se posicionou contra, por exemplo, a limitação de ferramentas de moderação que pudessem ter impacto no trabalho das equipes brasileiras. O ex-funcionário disse ter pedido demissão no início de novembro ao se desentender com Musk em questões relacionadas à mudança na verificação de perfis.
Ao longo dos últimos meses, a falta de políticas de moderação auxiliou na proliferação de desinformação no Twitter:
- Exemplo disso foi o encerramento da política contra desinformação sobre Covid-19 em novembro, que fez com que publicações enganosas sobre o tema conseguissem alto engajamento na plataforma nos dias seguintes;
- No início deste ano, o Twitter também foi usado para desinformar sobre os atos golpistas de 8 de janeiro no Brasil;
- A mudança nas regras de verificação de perfis na rede social também levou parlamentares brasileiros a ficarem sem selos, sujeitos à criação de perfis falsos, e permitiu que os parlamentares que mentiram durante a campanha adquirissem o novo serviço pago para aumentar o alcance das postagens.
Hoje, uma das únicas formas de moderação disponível na plataforma são as chamadas notas da comunidade, sistema de denúncias enviadas pelos próprios usuários. O recurso, no entanto, também tem sido usado para disseminar desinformação e preconceito.