É falso que a Mpox — antes chamada de varíola dos macacos — seja considerada uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) restrita à população LGBTQIA+, como alegam peças de desinformação que tentam disseminar ódio contra esse grupo. Especialistas afirmam que há diversas formas de transmissão da doença, que pode ser mais nociva para crianças por conta de seus sistemas imunológicos em formação.
As publicações enganosas acumulavam 2.000 compartilhamentos no X (ex-Twitter) até a tarde desta terça-feira (20). O conteúdo enganoso também circula no Facebook.
Só uma pergunta: Por que uma DST específica de um determinado grupo de risco foi parar em crianças? Algum infectologista poderia me responder? Obrigado.
Publicações nas redes mentem que a Mpox é uma IST restrita à comunidade LGBTQIA+ para questionar por que crianças estariam sendo infectadas pela doença. Consultada pelo Aos Fatos, a OMS (Organização Mundial da Saúde) explicou, em nota, que o sexo não é a principal forma de transmissão da doença.
A transmissão da Mpox pode ocorrer pelo contato físico não-sexual com lesões, secreções respiratórias ou objetos contaminados. A OMS cita como exemplos o toque, o beijo, o compartilhamento de lençóis e roupas e o contato com animais infectados. Mulheres grávidas também podem passar o vírus para os fetos durante a gestação.
Contaminação em crianças. Diferentemente do que sugerem as publicações falsas, também não há uma correlação entre a letalidade da infecção em crianças e adolescentes e supostos casos de abuso infantil.
De acordo com a OMS, há uma combinação de fatores que levam ao avanço da doença em menores de 15 anos. Estão entre elas a falta de vacinação contra a varíola comum — que proporciona alguma forma de proteção —, e o contato próximo e frequente com familiares potencialmente infectados.
A organização ressaltou, no entanto, que ainda estão em andamento investigações que buscam entender o avanço da doença nesse público.
Andrea von Zuben, professora de epidemiologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), também destacou ao Aos Fatos que o sistema imunológico das crianças, que ainda está em desenvolvimento, as torna mais vulneráveis às complicações provocadas pela Mpox.
Emergência em saúde. A OMS declarou emergência de saúde pública na última quarta-feira (14) devido a um novo surto de Mpox na República Democrática do Congo e em outros países da África. No dia seguinte, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou a instalação de um centro de operações para coordenar ações de resposta à doença. Ainda não há notificação de casos da nova variante no país.
A Anvisa também emitiu uma nota técnica sobre o assunto, e o Ministério da Saúde publicou um guia com orientações sobre medidas de vigilância e prevenção.
Após o anúncio da OMS, passaram a viralizar nas redes diversas peças de desinformação. Aos Fatos já desmentiu que a doença seria causada pela vacina contra Covid-19 e que haveria planos para decretar um novo lockdown.
O caminho da checagem
Aos Fatos procurou a OMS (Organização Mundial da Saúde) e especialistas para que explicassem se a Mpox poderia ser considerada uma IST. Buscamos também em reportagens na imprensa quais são as principais formas de transmissão do vírus.
Por fim, procuramos em notas oficiais e textos noticiosos informações sobre o anúncio de emergência de saúde pública feito pela OMS e sobre as ações tomadas pelo Ministério da Saúde em resposta à nova diretriz.