O Ministério da Saúde confirmou 17 casos e três óbitos por intoxicação por metanol desde meados de setembro. Outros 200 casos e 12 mortes estão sendo investigados. O estado mais afetado, até o momento, é São Paulo, com 15 casos confirmados e 164 sob análise.
As ocorrências estão sendo investigadas pelas polícias estaduais, pelo MPF (Ministério Público Federal) e pela AGU (Advocacia-Geral da União). Entre as hipóteses em apuração estão a intoxicação durante a higienização de garrafas, o uso do metanol barato para adulterar bebidas e até erros no processo de destilação.
No momento, o Ministério da Saúde recomenda que a população:
- Evite beber destilados, especialmente os que não têm cor;
- Caso opte por beber, certifique-se da origem da bebida;
- Não aceite bebidas de estranhos;
- E mantenha-se alimentado e hidratado antes e durante o consumo.
Como é recorrente em crises de saúde pública, a internet tem sido usada para espalhar pânico e desinformação sobre o assunto. Publicações enganosas nas redes também têm tentado politizar a questão ao apontar supostos culpados, a despeito da ausência de evidências conclusivas.
Veja abaixo tudo o que checamos sobre os casos de intoxicação por metanol:
É falso que STF acabou com fiscalização de bebidas alcóolicas
Não tem relação com o atual surto de intoxicação por metanol a decisão recente do STF (Supremo Tribunal Federal) de não reativar o Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas). Além de o mecanismo da Receita Federal ter sido descontinuado em 2016, ele não fiscalizava a qualidade dos produtos, apenas as quantidades envasadas de cervejas e refrigerantes. Destilados não entravam no controle.
É falso que café com metanol está sendo distribuído no Brasil
Posts também desinformam ao alegar que um erro de fabricação fez com que lotes de café fossem contaminados por metanol. Além de não haver nenhum registro de casos similares até o momento, as peças de desinformação compartilham um vídeo gerado por inteligência artificial para fazer crer que o Jornal Nacional teria noticiado o caso.
Não há registros de leite contaminado por metanol no Brasil
Não é verdade que lotes de leite contaminados com metanol estão sendo distribuídos no país. Procurados pelo Aos Fatos, o Ministério da Saúde, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) desmentiram o boato. As peças enganosas compartilham um vídeo manipulado por inteligência artificial para fazer crer que a notícia foi veiculada pela CNN Brasil.
É falso que autoridades identificaram água mineral adulterada com metanol
Não é verdade que galões de água mineral estão sendo adulterados com metanol, como alegam posts nas redes. O Ministério da Saúde e a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) negaram as alegações e reforçaram que não há qualquer caso de contaminação por metanol relacionado a bebidas não alcoólicas.
É falso que metanol foi encontrado na Coca-Cola
Não é verdade que foi detectada a presença de metanol em lotes de Coca-Cola, como alegam posts nas redes. As peças de desinformação compartilham o print de um texto que imita a estrutura do g1, mas que nunca foi publicado pelo site. A Coca-Cola e as polícias civis de Minas Gerais e São Paulo desmentiram a alegação.
Não é verdade que metanol foi detectado na Heineken
Publicações nas redes também mentem ao afirmar que a Heineken seria a primeira marca de cerveja comprovadamente contaminada por metanol. Em nota, a empresa negou as alegações e informou que, entre os casos recentes envolvendo a substância, não há registro de contaminação em cervejas, apenas em bebidas destiladas.
Paraguai não fez alerta sobre risco de bebidas com metanol do Brasil
Não é verdade que o Paraguai teria emitido um alerta sobre o risco de comprar bebidas adulteradas no Brasil. Aos Fatos verificou que a publicação que viralizou nas redes foi originalmente postada por um perfil de humor. O post ironizava o fato de o país ser uma das rotas de contrabando de bebidas alcoólicas destiladas para o Brasil.
É falso que hospital de São Paulo registrou 20 casos de intoxicação por metanol
É falso que o hospital Vila Nova Star, em São Paulo, registrou 20 casos de intoxicação por metanol após a ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas, como alegam posts nas redes. Em nota ao Aos Fatos, a instituição desmentiu a alegação. Até o momento, a capital paulista tem 15 casos de envenenamento confirmados.
É falso que água de coloração rosa em Itu esteja contaminada com metanol
Não é verdade que a Polícia Civil de São Paulo investiga a presença de metanol na água de Itu (SP), que chegou a residências nesta semana com uma coloração rosada. A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) desmentiu a alegação. A Companhia Ituana de Saneamento disse que a cor foi causada pelo excesso de um produto químico usado no tratamento da água e que o abastecimento já foi normalizado.
É falso que teste com pão detecta presença de metanol em bebidas
Não tem fundamento científico o teste que promete detectar a presença do metanol em bebidas alcoólicas com o uso de uma fatia de pão. Especialistas consultados pelo Aos Fatos negaram que o procedimento seja eficaz. Não há atualmente testes caseiros que permitam identificar a presença da substância em alimentos e bebidas.
Não há registros de gás de cozinha adulterado com metanol
É falso que botijões de gás de cozinha adulterados com metanol estejam sendo comercializados, como alegam peças de desinformação nas redes. Em nota ao Aos Fatos, o Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Justiça e Segurança Pública negaram ter recebido qualquer notificação similar. Até o momento, os casos de contaminação estão restritos ao consumo de bebidas alcoólicas destiladas.
Ministro da Saúde não anunciou casos de água e refrigerante contaminados por metanol
Não é verdade que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que foi identificada a presença de metanol na água e na Coca-Cola, como alegam posts nas redes. Além de não haver comunicados similares em canais oficiais e na imprensa, os registros de envenenamento pela substância até o momento estão relacionados apenas ao consumo de bebidas alcoólicas destiladas.
Mulher que aparece em vídeo não morreu após tomar Coca-Cola com metanol
Não é verdade que um vídeo mostra uma mulher que morreu após consumir Coca-Cola contaminada com metanol. O secretário de Saúde de Santa Luzia (MA) — município onde foi feita a gravação — afirmou ao Aos Fatos que o motivo do óbito foi uma overdose por consumo de drogas. Até o momento, os casos de contaminação por metanol se restringem ao consumo de bebidas alcoólicas destiladas.
