Meta muda política e permite anúncios que alegam fraude nas eleições brasileiras de 2022

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As alegações de fraude nas eleições de 2022, que motivaram tanto a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro como a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ajudam a incrementar as receitas com publicidade da Meta, dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp.

A empresa decidiu liberar em sua política de anúncios peças que questionam a legitimidade de pleitos passados, medida que atinge também o Brasil, segundo o Aos Fatos apurou. A empresa considera encerrada uma eleição quando “ela tiver sido confirmada e os candidatos forem empossados”.

Apenas alegações de fraude sobre processos eleitorais em andamento ou futuros continuam proibidas nas regras de anúncios da Meta. Nesse caso, o veto engloba questionamentos tanto aos resultados como aos métodos utilizados para votação.

A mudança veio à tona na semana passada, após reportagem do jornal The Wall Street Journal. Segundo a apuração do jornal, a alteração teria sido feita com base em considerações sobre a liberdade de expressão.

A reportagem diz ainda que a decisão da Meta ganha importância porque a empresa planeja reduzir a exposição dos usuários do Facebook a posts políticos nas eleições de 2024 nos Estados Unidos, nas quais o país escolherá novo presidente. A medida reduz a exposição orgânica dos candidatos nas plataformas, o que pode incentivar a publicidade política digital.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que recorreu às alegações de fraude quando foi derrotado nas urnas por Joe Biden em 2020, pretende concorrer no pleito marcado para o próximo ano. Em 2020, a campanha de Trump desembolsou 87,2 milhões de dólares em anúncios no Facebook e no Instagram, praticamente o dobro do que havia gasto na corrida eleitoral anterior, segundo relatório do projeto de jornalismo de dados Illuminating.

O Aos Fatos conseguiu confirmar que, além dos Estados Unidos, a liberação dos anúncios com alegações de fraudes em eleições passadas afeta também Brasil, Israel e Itália.

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Procurada para comentar a reportagem do The Wall Street Journal, a Meta apenas compartilhou o link com as regras de anúncios vigentes, nas quais o Brasil é citado, mas informou que “não tinha novidades” sobre eleições municipais marcadas para o ano que vem no país.

Campanhas de desinformação com suspeitas sobre a legitimidade das eleições brasileiras foram usadas tanto em 2022 como em 2018 como arma eleitoral. Como o Aos Fatos publicou, o então presidente Jair Bolsonaro já havia repetido, em junho do ano passado, ao menos 84 alegações falsas nesse sentido.

Por ter feito falsas acusações contra as urnas em reunião com diplomatas estrangeiros no ano passado, o ex-presidente foi declarado inelegível em junho deste ano, após julgamento do TSE.

O “PL das Fake News” (PL 2.630/2020), que está parado na Câmara dos Deputados, prevê que as plataformas digitais devam agir para evitar a prática de crimes, incluindo contra o Estado Democrático de Direito. A versão do projeto que era discutida na Casa até o impasse que bloqueou sua votação previa que, se a publicação envolvesse dinheiro — como é o caso dos anúncios —, as empresas poderiam ser responsabilizadas pelo conteúdo veiculado.

As mentiras de que houve fraude nas eleições de 2022 instigaram o movimento golpista que culminou nos ataques de 8 de Janeiro a Brasília, como mostrou o Golpeflix, memorial digital da escalada de violência produzido pelo Aos Fatos.

Em junho deste ano, o Comitê de Supervisão da Meta afirmou que a empresa havia errado ao manter no Facebook um vídeo que questionava os resultados das eleições de 2022 e convocava para os ataques que destruíram as sedes dos Três Poderes.

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