🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Mesmo após banimentos, Facebook tem ao menos 95 perfis e grupos ativos que divulgaram conspirações QAnon em português

Por Bruno Fávero, Débora Ely, João Barbosa e Marina Gama Cubas

16 de outubro de 2020, 17h32

O Facebook anunciou o banimento de milhares de páginas QAnon de sua plataforma no último dia 6, mas ao menos 95 páginas e grupos em português que publicaram algum conteúdo ligado ao movimento conspiratório nos últimos cinco meses ainda estão ativos na rede, mostra levantamento do Radar Aos Fatos.

Cinquenta e três desses endereços (56%) são de grupos e perfis simpáticos ao presidente Jair Bolsonaro ou que se declaram de direita. Isso inclui, por exemplo, o perfil do filósofo Olavo de Carvalho e grupos de discussão de apoiadores do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta criar. Em menor número, 10 (11%), também estão presentes páginas ligadas a doutrinas esotéricas.

A maior parte dos endereços mapeados pelo Radar —78 ou 82%— é de grupos públicos, ou seja, em que qualquer pessoa pode entrar e comentar. Quatorze deles têm mais de 100 mil participantes; o maior, "Aliança Pelo Brasil 🇧🇷", tem cerca de 644 mil. Os outros 17 endereços da lista são de páginas ou perfis, ambientes nos quais todo conteúdo é publicado por seu dono. O mais popular é o perfil de Olavo de Carvalho, com mais de 591 mil seguidores; outras três páginas têm mais de 50 mil adeptos.

No início deste mês, o Facebook anunciou que endureceu sua política contra o QAnon e que passaria a remover páginas, perfis e grupos que "representassem" o movimento conspiracionista. Segundo o jornal The Guardian, que cita um porta-voz da empresa, a nova regra só se aplicaria a endereços cujos nomes ou descrições indiquem que eles são dedicados ao QAnon. Os casos encontrados pelo Radar são perfis e grupos sobre outros assuntos que eventualmente reproduzem conteúdo relacionado ao movimento.

No anúncio do dia 6, o Facebook afirmou que começaria "a aplicar a diretriz atualizada hoje e a remover conteúdos, mas este trabalho levará tempo e continuará nos próximos dias e semanas". O Aos Fatos entrou em contato com a empresa na manhã desta sexta-feira (16) com um pedido de comentário sobre esta reportagem, mas não teve resposta até a publicação deste texto.

O Radar ainda encontrou outras quatro páginas e grupos que compartilharam conteúdo QAnon, mas que foram excluídos antes da publicação deste texto: "K-4N0W, Full Disclosure Revelação Total NOVO GRUPO", "Patriotas Q - Portugal O Grande Despertar", "Q-Anon e Mentes Livres" e "MICHELLE NOSSA PRIMEIRA DAMA". Não é possível saber se as páginas foram excluídas pelo Facebook ou por seus donos.

Para o levantamento, foram feitas duas coletas de dados na ferramenta CrowdTangle, do Facebook, uma em 22 de setembro, outra em 9 de outubro. Foram incluídos grupos e páginas que publicaram ao menos duas mensagens com conteúdo QAnon entre 8 de maio e 9 de outubro.

Teorias QAnon. Com origem nos EUA, o QAnon é um movimento de extrema-direita que promove teorias conspiratórias. O grupo sustenta, entre outras coisas, que existe no mundo uma rede internacional de autoridades e celebridades envolvidas com pedofilia e satanismo, incluindo nomes como o empresário Bill Gates e o ator Tom Hanks.

Desde que a pandemia de Covid-19 começou, o movimento também incorporou informações falsas sobre a doença em suas publicações — como, por exemplo, que o desenvolvimento de vacinas seria uma estratégia de Gates para rastrear toda a população mundial. No Brasil, publicações QAnon já tentaram associar autoridades como os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) a pedofilia.

No Facebook em português, uma das teorias QAnon que mais aparecem é a "Storm", nome de uma suposta operação policial internacional que estaria sendo articulada para prender os supostos pedófilos. Um exemplo é este post de agosto de Olavo de Carvalho, mentor intelectual da família Bolsonaro e que é seguido por 591 mil pessoas na rede social.

Esse também foi o assunto do post com referência a teorias QAnon mais popular encontrado pelo Radar Aos Fatos. Publicado pela página Questione-se, o conteúdo gerou cerca de 4.700 interações (compartilhamentos e reações) na rede.

Outras publicações em português com o vocabulário QAnon ainda contêm desinformação sobre Covid-19, como o post abaixo, postado em 3 de junho no grupo "JAIR MESSIAS BOLSONARO", que defende o uso hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus.

Banimento. Nos últimos meses, empresas de tecnologia anunciaram medidas para tentar bloquear ou diminuir o alcance das teorias conspiratórias, principalmente depois que o assunto ganhou força no debate eleitoral dos EUA —uma reportagem da New York Magazine publicada em setembro mostrou que ao menos 24 candidatos ao Congresso americano são seguidores de teorias QAnon.

O Facebook afirma ter tirado do ar mais de 8.000 páginas e grupos desde agosto por conter discussões com potencial de violência ou por estarem ligados a "movimentos sociais militarizados". No Brasil, a empresa disse ter bloqueado ao menos cinco endereços ligado ao QAnon depois de uma reportagem do Estadão sobre o assunto.

Nesta semana, o YouTube também anunciou que aumentaria restrições ao conteúdo QAnon em sua plataforma. Segundo o comunicado, serão retirados vídeos que sejam usados para estimular violência ou assediar indivíduos.

Metodologia

Para a análise do conteúdo foi feita uma coleta a partir da API do CrowdTangle que contemplou postagens entre os dias 8 de maio a 9 de outubro, com os seguintes termos:pizzagatebrasil, pizzagate, QAnonBrasil, adenocromo, operação storm, operacao storm, QAnonBR, confiem no plano, QAnons, QAnonBrazil, QBR, Trust the plan, Q Anon, Deep State, Grande Despertar, Confie no plano, Não há nada em oculto que não seja revelado, Nada que seja oculto que não seja revelado, Das sombras para a luz, #WeAreThePlan, #redpill, #GreatAwakening, #QAnons, #QAnonBrasil, #QAnonBR, #TrustThePlan, #ConfieNoPlano, #pedogate2020 e #WWG1WGA. A busca resultou em 1.435 postagens.

As postagens foram agrupadas por nome de página ou grupo em que elas estavam inseridas e passaram por análise qualitativa. As páginas que continham ao menos dois conteúdos que disseminassem as teorias do movimento foram selecionadas. Em seguida, os nomes das páginas foram categorizados pelo assunto que se propunham a debater.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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