🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Mentiras virais sobre Covid-19 prosperam no Twitter após fim da política de combate

Por Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki, João Barbosa e Milena Mangabeira

19 de dezembro de 2022, 15h07

Desde que o Twitter anunciou o fim da política de combate à desinformação contra Covid-19, no mês passado, tuítes com informações falsas ou enganosas permaneceram de forma consistente entre os de maior engajamento sobre o tema.

  • O Radar Aos Fatos revisou as 50 publicações mais populares com termos associados a Covid-19, em português, diariamente, de 21.nov a 9.dez — totalizando 950 tuítes;
  • A análise mostra que a incidência de desinformação sobre o assunto se manteve alta, com aumento sutil após a mudança de política;
  • A cada 3 tuítes virais sobre Covid-19 publicados entre 21 e 23.nov, 1 continha informações falsas ou enganosas (33%);
  • Foi com essa incidência de desinformação que o Twitter decidiu acabar com a política de combate a informações falsas e enganosas sobre o vírus;
  • Nos 15 dias seguintes à mudança de política, 2 a cada 5 publicações (40%) sobre o tema eram falsas ou enganosas;
  • Ao menos 9 dos tuítes analisados aproveitaram a mudança para desinformar, e 2 reciclaram falsas alegações já desmentidas sobre as vacinas.

A empresa informou sobre a atualização em seu blog oficial. “A partir de 23 de novembro de 2022 o Twitter não está mais executando a política de informações enganosas sobre a Covid-19”, diz o texto. A alteração só foi percebida por usuários no dia 28 de novembro e noticiada pela CNN no dia seguinte.

A plataforma já vinha passando por mudanças na área de moderação de conteúdo desde o final de outubro, quando fechou capital e concluiu a venda ao empresário Elon Musk, que promoveu cortes no organograma e alterações nas regras do Twitter.

Após a adoção das novas regras, o dono do Twitter usou sua conta na plataforma para criticar medidas de isolamento social defendidas pelo infectologista Anthony Fauci, conselheiro do governo dos Estados Unidos no combate à Covid-19. Em 11 de dezembro, Musk sugeriu que Fauci deveria ser processado e zombou dos usuários que reclamaram do post. “Os covidianos estão chateados”, escreveu.

Aos Fatos questionou a plataforma sobre o que motivou a mudança na política e o impacto percebido até agora, mas não teve resposta.

Agentes desinformativos

Apesar do percentual alto de tuítes enganosos, foram poucos influenciadores que contribuíram para que a desinformação sobre Covid-19 estivesse presente entre os mais populares sobre o tema no Twitter.

  • Dos 371 tuítes desinformativos encontradas nos 19 dias analisados pela reportagem, 100 (27%) foram publicados por apenas cinco usuários.

O principal deles é a conta da Claudia, que se apresenta como correspondente do portal hiperpartidário My Right News, e fez 32 tuítes enganosos sobre o assunto no período. A conta possui 13,5 mil seguidores e foi criada em julho, após ter sido banida da plataforma em um perfil anterior, conforme revela em sua descrição. “Recomeçando depois de ter sido derrubado pelo redbird.”

Em seguida vem um perfil chamado Jornal das Vítimas, inteiramente dedicado a publicar supostos relatos de pessoas que sofreram com efeitos colaterais das vacinas contra Covid-19. Nos dias analisados, a conta relacionou falsamente o câncer enfrentado por Pelé à sua imunização.

Também colaborou para os altos índices de desinformação o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), responsável por 17 tuítes enganosos sobre o tema nos 19 dias analisados. Em 2020, o Radar Aos Fatos identificou que ele foi o parlamentar que mais havia difundido mentiras na plataforma nos primeiros dois meses de pandemia.

Um dia após o outro dia

Os picos de desinformação no período analisado ocorreram em 2, 3 e 8 de dezembro, três datas em que a maior parte (54%) dos tuítes analisados continha informações falsas ou enganosas.

Entre os conteúdos há publicações que negam ou minimizam a existência da pandemia, repercutindo fala de um suposto ex-funcionário de laboratório em Wuhan, na China, que alegou que o vírus teria sido criado artificialmente. Na verdade, o homem não trabalhou no laboratório, conforme desmentido pelo Instituto de Tecnologia de Melbourne, da Austrália.

No dia 8, a desinformação foi impulsionada por perfis que usavam argumentos falsos sobre as vacinas contra Covid-19 para atacar o anúncio do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), que anunciou que priorizará a imunização de crianças.

Outras notícias relacionadas ao governo eleito e à eleição presidencial também foram usadas para desinformar, entre elas publicações que sugeriam que a alta de casos de Covid-19 no final de novembro teria sido inventada para suprimir as manifestações de bolsonaristas contrários ao resultado do pleito.

Além do contexto político nacional, os protestos contra a política de isolamento adotada na China também foram usados para desinformar. Tuítes sugeriram que o vírus teria sido uma criação do governo para o controle social da população e questionavam a de medidas de proteção comprovadamente eficazes como o isolamento social e o uso de máscaras.

METODOLOGIA

O Radar Aos Fatos coletou, por meio da API do Twitter, publicações entre 21 de novembro e 9 de dezembro deste ano que continham termos relacionados a Covid-19 em português. Depois, analisou os 50 tweets mais populares de cada um dos dias da amostra, avaliando a incidência de desinformação e o assunto presente.

Referências:

1. CNN
2. Aos Fatos (1, 2)
3. RMIT

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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