Sabatinados pela TV Globo e pelo SBT nesta segunda (24), os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL) preferiram dar versão própria a uma série de fatos recentes de suas trajetórias políticas.
Enquanto o último confronto entre os postulantes a prefeito não vem, Aos Fatos checou duas entrevistas concedidas pelos candidatos já nesta semana e verificou que Crivella manteve, sim, alianças para ser eleito. Freixo, por sua vez, deu a entender ter declarado apoio à tática black bloc, embora tenha reclamado de descontextualização. Veja o resultado.
O povo do Rio de Janeiro tem acompanhado minhas campanhas, perdi quatro, onde é que estavam esses banners? Ganhei duas para senador sozinho, nunca tive alianças. Minhas campanhas sempre foram modestas. — Marcelo Crivella (PRB)
Em entrevista ao SBT, o candidato foi questionado a respeito de suspeitas, veiculadas pelo jornal O Globo, de que teria recebido R$ 12 milhões em caixa dois para impressão de 100 mil placas — os banners a que ele se refere — durante sua campanha ao Senado em 2010. A acusação está na delação premiada de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, em negociação com o Ministério Público Federal.
Crivella se elegeu senador pelo PRB em 2010 sem coligação. No entanto, entre os doadores do político estava a campanha da então candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, que doou R$ 92,5 mil ao candidato, segundo informações da prestação de conta da campanha de Crivella no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A campanha dela também está na mira da Justiça, sob acusação de também ter sido financiada por dinheiro de propina da Petrobras.
Em 2002, eleito senador pelo extinto PL, Crivella também fez alianças. Participou da coligação Educação é a Solução, com PL, PSL e PSDC.
Em relação aos valores de campanha de Crivella, em 2010, o candidato arrecadou R$ 2,6 milhões em doações. À época, sua campanha foi a quarta mais cara, em uma disputa que tinha 11 candidatos. Em 2002, as doações a Crivella somaram R$ 418,7 mil. As informações constam do site do TSE.
Essa declaração [sobre black blocs] diz respeito a uma manifestação dos professores. E, no momento, não é compatível com a imagem que meu adversário coloca ali. Ali tem uma edição que não é leal, que não é justa. — Marcelo Freixo (PSOL)
Em entrevista ao RJTV, a jornalista da TV Globo Ana Luiza Guimarães questionou nesta segunda-feira o candidato do PSOL, Marcelo Freixo, a respeito de uma declaração dada por ele de "que não era juiz para avaliar o método" black bloc. Segundo a jornalista, Freixo disse que "todo movimento que visasse uma sociedade mais justa era válido".
Segundo o candidato, a declaração não se referia aos black blocs, mas dizia "respeito a uma manifestação dos professores".
A informação, no entanto, não é verdadeira. A declaração de Freixo mencionada pela jornalista foi dada em resposta à pergunta "Fala um pouco sobre os black blocs, o que você acha? Sua opinião pessoal", numa entrevista realizada em setembro de 2013. A fala pode ser ouvida a partir do minuto 2'10 do vídeo abaixo.
Diferentemente da afirmação da jornalista da TV Globo, no entanto, a declaração não foi dada no dia 12 de setembro de 2013, mas em 10 de setembro do mesmo ano. Além de dar entrevista, Freixo conversava com manifestantes na porta da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, após a aprovação da lei estadual 6.528/13, que proíbe o uso de máscaras em manifestações.
Quem tem apoio do [ex-governador Sergio] Cabral, do Eduardo Cunha, quem tem apoio do Eduardo Paes, quem tem apoio dessa turma pesada do PMDB é o Freixo. Taí nos jornais: a Prole, agência que ganhou milhões, milhões, seguramente no governo do Eduardo Paes, R$ 800 milhões. Ela tá fazendo a campanha do Freixo. — Marcelo Crivella (PRB)
Oficialmente, o PMDB não declarou apoio a nenhum dos candidatos no segundo turno das eleições no Rio. Não existem manifestações públicas de apoio do ex-governador Sergio Cabral e do deputado federal cassado Eduardo Cunha a nenhum dos candidatos.
O atual prefeito, Eduardo Paes, não fez declaração pública de apoio a qualquer dos postulantes no segundo turno. Ele, no entanto, apareceu em fotos ao lado de eleitores de Marcelo Freixo.
Em nota da assessoria de imprensa, o prefeito negou que os registros manifestem apoio. "O meu candidato, o Pedro Paulo, perdeu as eleições. E no segundo turno não apoio nenhum dos dois, até porque não me pediram apoio. Sempre que me perguntam afirmo que não tenho opinião", disse.
No Twitter, nesta segunda-feira, Paes criticou a propaganda de ambos os postulantes à prefeitura:
Crivella, por sua vez, recebeu apoio oficial de ao menos seis dos dez vereadores eleitos pelo PMDB para a Câmara do Rio, na disputa pela prefeitura. Rosa Fernandes, vereadora mais votada do partido, Junior da Lucinha, segundo mais votado no PMDB, Jairinho, Chiquinho Brazão, Rafael Aloisio Freitas e Verônica Costa anunciaram apoio ao bispo licenciado.
O candidato do PRB afirma ainda, em entrevista ao SBT, que o apoio da "banda podre do PMDB" a Freixo seria comprovado pela contratação da agência Prole, que trabalhou em campanha para a gestão Eduardo Paes. A afirmação não se sustenta, já que a agência também trabalhou em campanhas do PSDB, como a presidencial de Aécio Neves, em 2014 — e o partido, inclusive, apoia oficialmente Crivella.
Fui contrário [à carta de corrente do PSOL que chamou Shimon Peres de 'genocida'], lancei nota no mesmo dia. — Marcelo Freixo (PSOL)
No RJTV, Freixo foi questionado a respeito de um texto publicado pela Corrente Socialista dos Trabalhadores, pertencente ao PSOL, que acusou o ex-presidente de Israel Shimon Peres de crimes contra a humanidade. O candidato afirmou que publicou uma resposta de repúdio no mesmo dia.
A afirmação é falsa. O texto foi publicado em 9 de outubro e a resposta de Freixo foi publicada quatro dias depois, em 13 de outubro, na página do Facebook do candidato.
Fatos relacionados a essa contradição já tinham sido expostos durante o debate da RedeTV! com os candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, em 18 de outubro. O PSOL não se manifestou.