Mauro Cid usou, sim, o termo ‘golpe’ em delação à Polícia Federal

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É falso que o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, nunca usou o termo “golpe” em delação premiada à PF (Polícia Federal). As peças enganosas reproduzem um áudio revelado pela Veja no fim de janeiro — antes, portanto, da derrubada do sigilo da delação — e omitem que o militar mencionou a palavra diversas vezes em testemunho dado à PF em agosto de 2023.

As peças de desinformação somavam cerca de 60 mil curtidas no Instagram até a tarde desta segunda-feira (10).

Mauro Cid diz que não usou a palavra ‘golpe’ em delação

Imagem mostra o tenente-coronel Mauro Cid, homem branco, de cabelos castanhos e farda militar; ao fundo, está a sede da Polícia Federal. Legenda no topo da imagem diz: ‘Urgente! A máscara está caindo! Mauro Cid diz que não falou a palavra ‘golpe’ em delação

Diferentemente do que afirmam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros usuários nas redes, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou, sim, em depoimento à PF que a cúpula do governo planejou um golpe de Estado em 2022. O termo aparece diversas vezes no primeiro depoimento de Cid, em 28 de agosto de 2023 (veja aqui os volumes 1, 2, 3 e 4 da delação).

Cid disse à PF que Bolsonaro estava trabalhando com duas hipóteses: a primeira seria apontar indícios de fraude nas eleições e a outra seria “encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um golpe de Estado”. Segundo o depoimento, o ex-presidente se encontrava com cinco grupos distintos:

  • Um formado por “conservadores”, que entendia não haver nada a ser feito diante do resultado das eleições;
  • Um formado por “moderados”, que se dividiam em dois subgrupos, sendo que um deles, classificado por Cid como “radical”, aconselhava o ex-presidente “a fazer alguma coisa, um golpe armado”;
  • E, por fim, um conjunto formado por radicais, que se dividiam em dois subgrupos: o primeiro, segundo Cid, formado por “menos radicais”, que “queriam achar uma fraude nas urnas”, e o segundo por pessoas “a favor de um braço armado, e que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado”.

Cid ainda disse que os radicais “romantizavam o art. 142 da Constituição Federal como o fundamento para o Golpe de Estado”. A interpretação deturpada do artigo constitucional foi usada por bolsonaristas ao longo dos anos para promover a ideia de que haveria a possibilidade de um “golpe constitucional”.

Durante depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, Cid afirmou também que Bolsonaro “ainda mantinha a chama acesa que pudesse acontecer alguma coisa”. Perguntado em seguida se ele próprio acreditava na viabilidade da trama golpista, respondeu que não.

As peças de desinformação deturpam um áudio divulgado pela Veja em janeiro deste ano — antes, portanto, de o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes derrubar o sigilo da delação. Nele, Cid mente a pessoas próximas ao alegar que não teria usado a palavra “golpe” em nenhum momento de seu testemunho à PF.

Aos Fatos entrou em contato com as defesas de Mauro Cid e Jair Bolsonaro, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

O caminho da apuração

Aos Fatos analisou a delação premiada de Mauro Cid à PF e contextualizou o caso a partir de outras reportagens publicadas pela imprensa.

Também entramos em contato com as defesas de Cid e do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas não houve retorno.

Referências

  1. Slack Files (1, 2, 3 e 4)
  2. Aos Fatos (1 e 2)
  3. Veja
  4. Agência Brasil

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