Não é verdade que um mapa de distribuição de votos prova que a extrema-direita, e não a esquerda, venceu as eleições para o Parlamento francês no último domingo (7). As peças de desinformação omitem que a visualização mostra os resultados do pleito para o Parlamento europeu, ocorrido em junho. A apuração dos votos do último final de semana atestou a vitória da coalizão de esquerda Nova Frente Popular.
As peças de desinformação acumulam milhares de compartilhamentos no X (ex-Twitter) e no Facebook até a tarde desta segunda-feira (8).
O partido Nacional de Marine Le Pen venceu em TODOS os distritos, exceto Paris. E vamos acreditar que eles ficaram em 3º lugar nas eleições parlamentares? Pois é, se ninguém fala do elefante na sala, eu falo. Foi fraude descarada.
Usuários têm compartilhado de forma enganosa um mapa dos círculos eleitorais franceses para sugerir que o partido de extrema-direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, teria vencido a disputa para o Parlamento francês no último domingo (7). A imagem, no entanto, mostra o resultado da eleição para outra instituição, o Parlamento Europeu, ocorrida em 9 de junho.
Quem saiu vencedora no último final de semana foi a coalizão de esquerda Nova Frente Popular, que conseguiu 182 cadeiras na Assembleia Nacional. O Reunião Nacional ficou em terceiro, com 143, atrás ainda do Juntos, grupo do atual presidente Emmanuel Macron, que conseguiu 168 vagas.
Diferentemente do mapa compartilhado nas redes, a distribuição de votos pelos círculos eleitorais foi muito mais diversificada no pleito de domingo (veja gráfico abaixo).
As eleições parlamentares francesas ocorrem por meio de votação direta: cada partido indica um representante para o círculo eleitoral. Se um candidato não conseguir mais do que 50% dos votos no primeiro turno, é realizado um segundo pleito com os dois candidatos mais votados.
Entenda a situação política francesa na linha do tempo abaixo:
- 9 de junho: o Reunião Nacional ficou em primeiro lugar nas eleições para o Parlamento Europeu — realizadas em 27 países, que escolhem 720 representantes para discutir questões ligadas a toda a União Europeia. Após a publicação do resultado, Macron dissolveu o Parlamento francês, outra instituição, e convocou novas eleições;
- 30 de junho: o Reunião Nacional também sai vitorioso no primeiro turno da eleição para a Assembleia Nacional francesa, com 33% dos votos. A coalizão de esquerda fica em segundo, com 28%, seguida pelo bloco do presidente, com 20%. No primeiro turno, o Reunião Nacional conseguiu 37 assentos, o Nova Frente Popular, 32 e o Juntos, 2.
- 7 de julho: no segundo turno, no entanto, o Nova Frente Popular ultrapassou o partido de extrema-direita e venceu as eleições parlamentares francesas;
- 8 de julho: com o resultado, o atual primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, que é filiado ao Juntos, colocou seu cargo à disposição. Na França, a tradição é que o premiê pertença ao partido ou coalizão com maior número de parlamentares eleitos. Macron, no entanto, rejeitou o pedido e solicitou que Attal permaneça no cargo por enquanto para “garantir a estabilidade do país”.
O caminho da checagem:
Aos Fatos procurou o mapa compartilhado pelas peças de desinformação por meio de busca reversa e encontrou reportagens em francês que explicavam o contexto real. Também procuramos por visualizações do resultado das eleições do último domingo em veículos da imprensa francesa, que atestaram a vitória do Nova Frente Popular. A comparação dos dois mapas evidencia o uso enganoso.