Kamala trabalhou no McDonald’s? Trump frita batatas, e rede de fast food vira tema na eleição dos EUA

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A pouco mais de uma semana da eleição americana, contra todas as expectativas, um dos principais assuntos da campanha é o McDonald’s.

Imagens do ex-presidente Donald Trump fritando batatas e servindo pedidos no drive-thru de uma unidade na Pensilvânia, no último dia 20, inundaram as redes. E como é regra em casos internacionais, houve até uma brasileira que foi atendida pelo republicano e ganhou minutos de fama na imprensa nacional.

Mas a cena de Trump trabalhando no restaurante é só uma das pontas de uma trama mais intrincada, que envolve a disputa do voto da população pobre — e uma campanha de desinformação contra a vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris.


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Dois hambúrgueres, alface…

Ao longo da campanha, Kamala tem dito em alguns de seus discursos que trabalhou no McDonald’s na década de 1980, quando estudava na HCBU (Historically Black College and Universities).

Essa passagem no currículo da vice-presidente foi repisada pela campanha democrata sempre que houve chance:

  • A declaração foi incluída em uma propaganda oficial;
  • O ex-presidente Bill Clinton disse em discurso que, caso Kamala vença a eleição, ela “irá quebrar o meu recorde como o presidente que mais gastou tempo no McDonald’s”, em referência à sua predileção pelo restaurante;
  • E a congressista democrata Jasmine Crockett declarou que a disputa presidencial seria entre “uma candidata que trabalhou no McDonald’s durante a faculdade e outro que nasceu com a colher de prata na boca e ajudou seu papai no negócio da família”.

Trump ficou obcecado com a história. Ele repetiu diversas vezes que o relato da adversária é inventado e passou semanas prometendo auxiliar — por algumas horas — na cozinha de alguma unidade da rede, para “trabalhar mais no McDonald’s” do que a vice-presidente.

Depois que o candidato republicano serviu alguns hambúrgueres em um evento de campanha na Pensilvânia, a tese de que Kamala nunca teria trabalhado no McDonald’s ganhou tração — e começou, inclusive, a emergir em publicações brasileiras.

Fotos de Trump e Kamala circulam com legenda ‘Kamala mentiu que trabalhou no McDonald’s na juventude. Trump foi lá e trabalhou de verdade!’
Dúvida sobre veracidade do passado de Kamala circulou também nas redes brasileiras (Reprodução/Instagram)

Mas, afinal, Kamala trabalhou no McDonald’s?

Por conta da importância que o assunto tomou na eleição americana, diversos veículos de imprensa tentaram checar a alegação de Kamala. Ninguém conseguiu provar que ela, de fato, tenha trabalhado no McDonald’s — mas também ninguém conseguiu desmenti-la.

Procurada pelo Washington Post, a rede de fast-food afirmou que “nós e nossos franqueados não temos registros de todos os cargos que datam do início dos anos 1980”. O mesmo posicionamento consta em uma nota oficial do McDonald’s, publicada no dia 20 de outubro.

Vídeo de Trump fritando batatas circula com legenda ‘Kamala mentiu afirmando que trabalhou no McDonald’s, até a corporação desmentiu. O que o Trump fez? Foi trabalhar de verdade no McDonald’s’
Uma desinformação viral nos EUA e no Brasil alega que o McDonald’s desmentiu Kamala (Reprodução/Instagram)

Apesar de não haver uma confirmação oficial, há indícios de que a versão de Kamala é verdadeira:

  • A democrata diz ser uma ex-funcionária da rede desde antes da eleição. Em junho de 2019, ela participou de um protesto da Seiu (Service Employees International Union) em Las Vegas com trabalhadores do McDonald’s pelo aumento do salário mínimo. Na ocasião, afirmou ter trabalhado na rede “fazendo batata frita e sorvete”;
  • Uma amiga de Kamala da época da faculdade, Wanda Kagan, afirmou ao New York Times que se lembra da democrata trabalhando na rede de fast-food.

Sobrou até para a bactéria

Dias depois de Trump colocar os pés na cozinha de uma unidade, saiu a notícia de que uma pessoa morreu e ao menos dez foram infectadas com a bactéria E. coli após comerem no McDonald’s. As ações da empresa caíram 5% no dia seguinte a um comunicado do CDC (Centers for Disease Control and Preventions) indicar um surto do patógeno em sanduíches da rede.

Na internet, usuários sugeriram que as infecções teriam sido causadas pelas pequenas mãos de Donald Trump. Isso não é verdade: os casos noticiados aconteceram em Colorado e em Nebraska, não na Pensilvânia, estado-chave na disputa eleitoral onde o ex-presidente fez o bico.

Do outro lado do espectro político, os apoiadores do republicano inverteram a história e passaram a alegar que a divulgação da notícia seria uma conspiração da imprensa para ferir a imagem de Trump.


Na terça-feira (22) — mesmo dia em que o John Kelly, ex-chefe de gabinete de Trump chamou o republicano de “fascista” —, o ex-presidente sofreu, durante um discurso, para lembrar a palavra “fritadeira”. A gafe ganhou espaço na imprensa, ainda que, na mesma fala, Trump tenha dito que precisaria de generais “como os que Hitler tinha” caso fosse eleito.

As eleições americanas acontecem na próxima terça-feira (5), mas a desinformação sobre o assunto já está circulando no Brasil há semanas. Se na reta final da campanha, o discurso de Trump vai de McDonald’s ao autor do Holocausto, o que esperar desses próximos dias?

Descubra acompanhando o Aos Fatos.

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