Em entrevista à NABJ (Associação Nacional de Jornalistas Negros), na quarta-feira (31), Donald Trump disse que Kamala Harris “aconteceu de se tornar negra recentemente”. A fala é mentirosa: Harris é filha de pai negro jamaicano e mãe indiana — e há décadas se identifica como mulher americana com ascendência africana e asiática.
A ofensa também foi rechaçada pela pré-candidata: “Foi o mesmo show de sempre, a divisão e o desrespeito. O povo americano merece algo melhor”.
Como se não bastasse a acusação infundada sobre a identidade racial da democrata, peças de desinformação que circulam nas redes também têm questionado o gênero de Kamala (veja abaixo).
Segundo as publicações que circulam em diversas línguas nas redes, Kamala teria nascido homem, não seria americana e se chamaria, originalmente, Kamal Aroush. Essas peças de desinformação são completamente mentirosas:
- A imagem do suposto Aroush nada mais é do que uma edição feita com uma foto dela registrada em 2017 e disponível na Wikimedia Commons. A montagem provavelmente foi feita por meio de um aplicativo de edição como o FaceApp, já que o rosto e as roupas foram modificados, mas os outros elementos da foto, como as bandeiras e o fundo, são os mesmos nas duas fotos;
- Existem inúmeros registros de Kamala em sua infância e juventude que provam que ela nunca se identificou como homem;
- De acordo com a biografia oficial, ela nasceu em Oakland, na Califórnia.
A tese mentirosa sobre Kamala Harris segue a mesma lógica de teorias conspiratórias que sugerem que Michelle Obama seria uma mulher trans ou que Barack Obama seria gay: atacam adversários políticos da direita no âmbito privado, quase sempre em assuntos relacionados à sexualidade.
Circulam nas redes, por exemplo, montagens que sugerem que a presidenciável teria relação com o empresário Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual, ou que ela teria ascendido na carreira política por meio do sexo com políticos.
Uma das peças mentirosas mostra uma imagem que supostamente seria de Kamala com 29 anos, quando ela trabalharia como “acompanhante” de políticos e juízes (veja abaixo).
Outra mentira: as duas fotos nada mais são do que imagens produzidas por inteligência artificial. Os dedos da mão esquerda da primeira foto estão colados e na imagem da direita é possível ver que as letras no painel ao fundo não formam palavras inteligíveis.
Essa onda de ataques contra a pré-candidata democrata nos Estados Unidos é mais uma exibição de uma estratégia mundial que usa desinformação baseada em gênero com motivações políticas. Ataques mentirosos que miram mulheres na política tendem a adotar misoginia e propagar estereótipos preconceituosos.