🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Justiça do DF rejeita pedido de censura ao Aos Fatos por Bia Kicis

2 de dezembro de 2020, 13h40

A juíza Marília de Ávila e Silva Sampaio, do 6o Juizado Especial Cível de Brasília, julgou improcedente nesta segunda-feira (30) pedido de censura em ação impetrada pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) contra o Aos Fatos. Além de retratação, a congressista demandava a retirada do ar da reportagem “Cotado para Saúde, Osmar Terra é o congressista que mais publicou desinformação sobre Covid-19 no Twitter”, segundo a qual Kicis disseminou informações enganosas sobre temas relacionados à pandemia do novo coronavírus.

"O interesse público legitima a liberdade de expressão, de informação e de veiculação da imagem, ao qual está atrelada a liberdade de imprensa, como meio ou instrumento de difusão do conhecimento e das questões relevantes para a formação de opinião e exercício pleno da democracia", afirma a juíza na decisão.

"A parte autora ocupa cargo político e é pessoa pública, status que decorre da própria natureza da função que desempenha. Neste diapasão, a vida privada, a intimidade e a imagem da pessoa que ocupa cargo público sofrem natural mitigação frente à liberdade de informação e suas prerrogativas inerentes de opinar e criticar, bem assim quando, formuladas por outrem, são reproduzidas pelo meio de comunicação, afinal, o cargo que a autora ocupa (deputada federal) lhe deixa suscetível às críticas, observação e controle da população", completa.

A decisão, que ainda pode ser revertida por meio de recurso, rejeitou também o pedido de indenização à deputada, que demandava reparação no valor de R$ 38 mil.

Conforme a juíza, "as pessoas que gozam de notoriedade pública e que exercem cargos públicos estão sujeitas à crítica e censura pelos seus atos. Aliás, seja pela influência e repercussão de suas condutas ou pelas suas manifestações no meio social, é indissociável que seu comportamento seja 'julgado' pelo corpo social e pelos instrumentos de formação de opinião com maior rigor ético-moral".

Flávia Penido, advogada que representa Aos Fatos no processo, afirma que "a decisão no estado do processo, sem necessidade de produção de outras provas, evidencia que a estratégia perpetrada contra o Aos Fatos não é a de obter prestação jurisdicional, mas tentar intimidar agências de checagem".

Assédio judicial. A decisão em favor do Aos Fatos é apenas mais um desdobramento de uma série de tentativas de constrangimento ao trabalho jornalístico da organização. Em novembro, o procurador da República Ailton Benedito, ao anunciar no Twitter que estava processando o Aos Fatos, estimulou que seus seguidores usassem Juizados Especiais para contestar "violações a seus direitos fundamentais praticadas por autodeclaradas 'agências de checagem de fatos'". A deputada Bia Kicis se utilizou da mesma estratégia.

A reportagem alvo de questionamento na Justiça por parte do procurador tem como título "Apoio à cloroquina engaja mais no Twitter sustentado em desinformação" e limita-se a mencioná-lo como um dos "influenciadores que mais falou sobre cloroquina".

A acusação afirma que Aos Fatos "age como uma Gestapo, perseguindo opositores e críticos, querendo tomar para si o monopólio da verdade, como apenas ela fosse ente legitimado a dizer o que é ou não, verdade ou mentira". De autoria do advogado Emerson Tadeu Kuhn Grigolette Junior, a peça tem padrões curiosos: são argumentos muito semelhantes a outro processo impetrado pelo famoso site bolsonarista Jornal da Cidade Online contra o Aos Fatos, também representado por ele.

Jornalistas, veículos de comunicação e entidade de defesa da imprensa já se solidarizaram com Aos Fatos desde que foi alvo, no início de novembro, de uma campanha de assédio e desinformação nas redes sociais fomentada por expoentes do bolsonarismo.

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