Jaques Wagner não defendeu adiar eleições de 2026

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Não é verdade que Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, propôs adiar as eleições de 2026 e, consequentemente, dar mais tempo de mandato ao presidente Lula (PT). As peças enganosas tiram de contexto uma fala do senador em entrevista à GloboNews na qual ele afirma ser favorável à adoção de pleitos a cada cinco anos, sem direito à reeleição, para todos os cargos.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 2.300 compartilhamentos no Facebook e 3.000 curtidas no Instagram até a tarde desta terça-feira (7).

LÍDER DO GOVERNO PROPÕE ADIAR AS ELEIÇÕES DE 2026 ‘PELO BEM DA DEMOCRACIA’

A imagem mostra uma captura de tela do programa Estúdio i, da GloboNews. À esquerda, está a apresentadora Andréia Sadi sentada em uma poltrona vermelha, vestindo roupa também vermelha. À direita, há a imagem de Jaques Wagner, um homem de barba branca e camisa azul, aparecendo em uma tela de vídeo, com uma bandeira da Bahia ao fundo. No canto superior direito está o logotipo da GloboNews. Na parte inferior da imagem, há duas faixas de texto. A faixa superior é do programa e tem o título 'Estúdio i' em vermelho, seguida da frase 'JAQUES: TENHO CRENÇA DE QUE PRECISAMOS GERAR NOVOS QUADROS'. Abaixo, uma legenda menor diz: 'Líder do governo fala sobre sucessão de Lula na eleição de 2026'. Abaixo dessa faixa, há um texto em letras maiúsculas brancas sobre fundo verde-escuro: 'LÍDER DO GOVERNO PROPÕE ADIAR AS ELEIÇÕES DE 2026 ‘PELO BEM DA DEMOCRACIA’'.

Circulam nas redes publicações que distorcem uma entrevista do senador Jaques Wagner à GloboNews, sugerindo que ele teria proposto adiar as eleições de 2026 “pelo bem da democracia”. Na verdade, o parlamentar defendeu uma mudança estrutural na legislação eleitoral brasileira, não uma alteração imediata no calendário.

Durante participação no programa Estúdio i da última quarta-feira (1º), Wagner afirmou ser pessoalmente favorável a mandatos de cinco anos sem reeleição, com a realização simultânea de todas as eleições, de vereador a presidente.

O senador, no entanto, não sugeriu que a proposta fosse aplicada já em 2026. Ele afirmou esperar que o Senado possa votar para 2030 os projetos que tramitam na Casa com as possíveis mudanças eleitorais. Já para o pleito do ano que vem, Wagner reforçou o apoio à candidatura do presidente Lula.

Na ocasião, o senador respondia a jornalista Andréia Sadi, que o questionou sobre o motivo de a esquerda não discutir um nome para suceder Lula com a mesma intensidade que a direita. Wagner respondeu que, para 2026, o presidente manterá “vigor físico e mental excepcionais” e deve disputar a reeleição, uma possibilidade prevista na legislação atual.

Na sequência, Sadi questionou quem seria o sucessor de Lula em 2030, caso o petista vencesse as eleições do ano que vem. O parlamentar então afirmou ser favorável à renovação política e citou como exemplo o fato de não ter tentado novamente o governo da Bahia em 2022:

“Então, é difícil realmente para 2030 você pensar. Eu espero que aquelas mudanças que estão previstas no Senado da República, a gente consiga votá-las para 2030, quais sejam. Eu sou defensor de cinco anos sem reeleição e com coincidência de todas as eleições, de vereador a presidente da República. Isso não é unanimidade no PT, não é unanimidade na esquerda. Eu tô emitindo a minha opinião.”

Wagner argumentou que o Brasil vive “em campanha permanente”, com eleições a cada dois anos, o que na sua avaliação desgasta a democracia.

O senador defendeu que a coincidência de todos os mandatos ajudaria a reduzir esse ciclo contínuo. Segundo ele, “a reeleição não fez bem ao país”, e o modelo atual cria um ambiente político em que, “menos de um ano após a última eleição, o país já está pensando na próxima”.

O senador Jaques Wagner, um homem de cabelos e barba brancos, está em pé atrás de um púlpito de madeira escura, com as mãos apoiadas sobre ele. Ele veste terno preto, camisa clara e gravata rosa. Há dois microfones posicionados à sua frente e uma pasta com papéis sobre o púlpito. Atrás dele, aparece parte de uma bandeira do Brasil e uma estrutura metálica com janelas ou divisórias. O ambiente é interno e bem iluminado.
Senador propõe que mudanças eleitorais sejam aprovadas para entrarem em vigor a partir de 2030 (Lula Marques/Agência Brasil)

Propostas em debate no Senado. Atualmente, há uma proposta em tramitação no Senado Federal semelhante à sugestão de Wagner. A PEC 12/2022, de autoria do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), prevê o fim da reeleição para cargos do Executivo e a ampliação dos mandatos para cinco anos.

A proposta foi aprovada em 21 de maio pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado e recebeu em agosto uma emenda do senador Ciro Nogueira (PP-PI) propondo as seguintes regras de transição:

  • Prefeitos eleitos em 2024 poderão tentar reeleição;
  • O mesmo vale para os governadores e o presidente eleitos em 2026, desde que não tenham exercido o cargo anteriormente;
  • A partir de 2028 (para prefeitos) e 2030 (para governadores e presidente), o direito à reeleição deixaria de existir;
  • O mandato de prefeitos e vereadores eleitos em 2028 teria duração de seis anos, passando a cinco anos a partir de 2034.

A sugestão apresentada pelo parlamentar ainda precisa ser apreciada pelo plenário do Senado.

Wagner, no entanto, defende que o modelo seja estendido também ao Legislativo, de forma a unificar todos os mandatos — um ponto que não consta no texto atual da PEC ou na emenda.

Esta peça de desinformação também foi checada pelo Estadão Verifica.

O caminho da apuração

Aos Fatos buscou a entrevista completa do senador Jaques Wagner à GloboNews, analisou o trecho que circula nas redes e verificou que ele foi compartilhado fora de contexto.

Também consultamos propostas sobre mudanças eleitorais em tramitação no Senado e notícias publicadas pela imprensa para contextualizar as declarações do parlamentar.

Referências

  1. Senado federal
  2. Lula

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