Não é verdade que o Japão demonstrou que a ivermectina pode ser usada como uma cura mais eficaz da Covid-19 do que as vacinas e que, por isso, irá suspender a vacinação, como alegam postagens (veja aqui). A campanha de imunização japonesa continua e não será substituída pelo antiparasitário, que tampouco consta na lista de remédios aprovados para o tratamento da Covid-19 no país.
A publicação enganosa reunia ao menos mil compartilhamentos no Facebook até a tarde desta segunda-feira (24) e também circula no WhatsApp, no Twitter e no Gettr.
Japão declara ao mundo que a ivermectina é mais eficaz que a vacina
O Japão não vai substituir a vacinação contra Covid-19 pela aplicação de ivermectina em larga escala, como afirma um vídeo que circula nas redes sociais. Conforme explicou a embaixada do Japão no Brasil ao Aos Fatos, a informação é falsa: o país não suspendeu a campanha de imunização, iniciada em fevereiro de 2021, nem comunicou intenção semelhante. O antiparasitário não é recomendado pelas autoridades médicas do país no tratamento do novo coronavírus.
O país aprovou a administração de três vacinas – Moderna, Pfizer e AstraZeneca – e aplicou 202,87 milhões de doses até o dia 20 de janeiro, segundo a base de dados Our World in Data. No dia 19, foram administradas 202,66 milhões de doses, e no dia 18, 202,47 milhões de doses, o que mostra que a campanha avança.
No site do Ministério da Saúde japonês, existe uma seção que explica os benefícios, a segurança e a eficácia dos imunizantes. A ivermectina, por sua vez, não consta na lista de medicamentos aprovados pelo ministério contra Covid-19. Até o dia 1º janeiro de 2022, o órgão incluía como possíveis remédios contra a infecção o remdesivir, a dexametasona, o baricitinib, o casirivimab, o sotrovimab e o monulpiravir.
A peça afirma ainda que a ivermectina seria uma “cura maior e mais duradoura” da Covid-19, mas sua eficácia contra a infecção não é comprovada. Na verdade, metanálises de estudos científicos, como a da Cochrane, publicada em julho de 2021, e da Clinical Infectious Diseases, de junho do ano passado, mostram que os dados disponíveis não garantem a segurança ou a eficácia do antiparasitário no tratamento da infecção.
Além disso, não é possível comparar o nível de eficácia entre remédios e vacinas, segundo a farmacêutica Laura de Freitas, do canal Nunca vi 1 cientista. “Medicamentos agem modificando uma função do corpo, ativando, inibindo, desviando, são várias possibilidades. Enquanto a vacina não modifica nada, apenas estimula o sistema imune”, afirma.
Segundo Freitas, a comparação entre dois medicamentos só é possível se eles agirem da mesma forma e forem avaliados no mesmo estudo.
Vacinação infantil. O vídeo desinforma ainda ao dizer que o Japão seria o país com o menor calendário de vacinação de crianças menores de um ano do mundo e, ao mesmo tempo, a nação com a menor mortalidade infantil dessa faixa etária. Apesar de realmente possuir a segunda menor taxa de mortalidade entre crianças abaixo de um ano, não é possível dizer que o Japão aplica o menor número de vacinas nessa faixa etária, muito menos traçar uma relação entre esses dois fatores.
Aos Fatos não encontrou nenhum levantamento que compare o calendário de vacinação infantil de crianças menores de um ano no mundo, mas há países com menos vacinas em seu esquema vacinal. De acordo com o levantamento de imunização feito pela OMS (Organização Mundial da Saúde), o Japão possui um esquema vacinal de crianças menores de um ano que inclui oito imunizantes. Já países que possuem taxas de mortalidade mais altas, como Afeganistão e Paquistão, por exemplo, aplicam sete vacinas em crianças menores de um ano.
Conspiração. Por fim, o vídeo ainda sugere que a Pfizer e outras farmacêuticas teriam banido a ivermectina porque o medicamento afetaria as campanhas de vacinação no mundo. Não há nenhum indício de que isso tenha ocorrido. No Brasil, inclusive, a ivermectina tem aval do Ministério da Saúde para ser prescrita por médicos contra a infecção, apesar da ausência de provas científicas de sua eficácia.
Também não é verdade que há uma cláusula no contrato de aquisição de vacinas da Pfizer com os países que impede os governos de quebrarem o contrato caso seja descoberto um medicamento que cure a Covid-19. O documento, que pode ser acessado na íntegra aqui, não possui nenhum trecho semelhante.
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