Índia não suspendeu vacinação, nem uso de ivermectina controlou a Covid-19 no país

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Não é verdade que a Índia suspendeu a vacinação contra Covid-19 após controlar a pandemia com ivermectina, como alegam postagens nas redes (veja aqui). O país aplicou 6 milhões de doses somente entre quinta (24) e sexta-feira (25). E, por mais que o governo recomende o antiparasitário em alguns quadros da doença, dados não evidenciam que há relação entre a droga e a recente queda de casos. Até agora, a ivermectina só se provou eficaz contra o novo coronavírus em laboratório e em dosagem tóxica para humanos.

Postagens no Facebook com a falsa alegação reuniam centenas de compartilhamentos até a tarde desta sexta-feira (25) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da plataforma ‌(‌saiba‌ ‌como‌ ‌funciona‌). A mensagem enganosa também circula no Instagram, onde acumula dezenas de milhares de interações.


A Índia acaba de reabrir o seu maior ponto turístico, o Taj Mahal, pois o Covid foi controlado após a suspensão da vacinação em massa em maio de 2021 e adoção de Ivermectina em todo o país (a Índia é um dos maiores produtores de ivermectina). Era um país de 1.400.000.000 de habitantes que estava incinerando cadáveres em praças públicas em abril-maio. Daí suspendeu a vacinação massiva, controlou completamente a Covid-19 a ponto de poder reabrir o turismo. E mais: a Ordem dos advogados indianos está processando a OMS por não estar divulgando os efeitos benéficos da ivermectina na profilaxia e terapia da Covid-19, com índices surpreendentes de sucesso.

Postagens nas redes sociais enganam ao afirmar que a campanha de vacinação contra a Covid-19 na Índia foi suspensa porque o país conseguiu controlar a expansão da doença liberando o uso de ivermectina. Somente nas últimas 24 horas anteriores à publicação desta checagem, 6 milhões de doses de imunizantes haviam sido aplicadas, segundo o Ministério da Saúde e Bem-Estar Familiar da Índia.

Desde que a campanha de imunização começou, em dezembro de 2020, o país já administrou 307,9 milhões de vacinas, sem interrupções. A plataforma Our World in Data, mantida pela Universidade de Oxford, aponta ainda que 247 milhões de indianos já tomaram ao menos uma dose (17,9% da população) e 51,6 milhões completaram a proteção contra o vírus (cerca de 3,7% do total de habitantes).

A ivermectina é de fato recomendada pelo governo indiano para casos assintomáticos e médios da Covid-19 desde 28 de abril e consta no atual protocolo de manejo clínico indiano, publicado em 24 de maio. A orientação, entretanto, pode ser revertida caso o Conselho de Pesquisas Médicas da Índia aprove uma revisão feita pela Diretoria Geral de Serviços de Saúde que excluiu a ivermectina da lista de alternativas para o tratamento da infecção.

Correlação. Por mais que a prescrição do antiparasitário esteja de fato liberada na Índia, os dados disponíveis não permitem apontar uma relação entre a utilização do remédio pela população e a recente queda nos registros de casos e mortes pela Covid-19 no país.

O Aos Fatos não encontrou, por exemplo, informações oficiais sobre quantas doses de ivermectina foram distribuídas e consumidas no país, nem em quais condições isso aconteceu, dados essenciais para avaliar se há correlação. O governo indiano também não disponibiliza evidências da eficácia do medicamento para combater o avanço da Covid-19.

A alegação de causa e efeito das postagens checadas também ignora o fato de que outras medidas reconhecidamente eficazes para conter avanço de casos de Covid-19, como lockdown e incentivo ao uso de máscaras, também foram adotadas na Índia.

As mortes diárias pela infecção no país também continuaram em um patamar elevado mesmo após a inclusão da ivermectina no protocolo oficial, mostram dados do Our World in Data. No dia 10 de junho, por exemplo, o país notificou 7.374 mortes pela doença.


A Índia registrou um grande aumento no número de casos diários em março de 2021, atingindo o pico em 6 de maio, com 414 mil confirmados em um só dia, segundo o Our World in Data. O surto de Covid-19 se deu após o relaxamento de medidas de combate à pandemia, justificadas pela estagnação no número de casos. No início de março, o ministro da Saúde indiano chegou a declarar que o país teria vencido o vírus.

O número de casos notificados pelas autoridades indianas vem caindo atualmente, o que levou ao relaxamento de restrições, como a reabertura do Taj Mahal, citada pela peça de desinformação, em 16 de junho. A atração turística ficou dois meses fechada.

As publicações distorcem ainda ao afirmar que a OMS (Organização Mundial da Saúde) teria sido processada por uma associação de advogados indianos equivalente à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) por “não divulgar os efeitos benéficos da ivermectina”. A ação movida pela entidade é direcionada à Soumya Swamianatha, cientista-chefe da OMS na Índia, acusada de promover uma "campanha desinformativa" contra a droga.

Remédio. Até o momento, estudos demonstraram que a ivermectina inibiu a replicação do novo coronavirus apenas em experimentos com células em laboratório e em dosagens que são consideradas tóxicas para o consumo humano. Estudos clínicos abrangentes, como um da Universidade de Oxford, estão em curso para avaliar o potencial da droga no tratamento de infectados com a doença, mas, até o momento, não há comprovação de sua eficácia.

A OMS afirma que a evidência da eficácia do remédio é inconclusiva e que a droga só pode ser usada em testes clínicos. Ao menos 47 estudos registrados ainda estão em andamento.

Uma alegação semelhante à desta peça de desinformação circulou também nos Estados Unidos em maio de 2021 e foi checada pelo Health Feedback.


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