Antonio Augusto / Ascom / TSE

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Idosos são foco de desinformação sobre título de eleitor em grupos de WhatsApp

Por Débora Ely, Ethel Rudnitzki e João Barbosa

2 de maio de 2022, 17h40

“Atenção! Golpe do TSE! Sabia que estão cancelando o título de quem tem mais de 70 anos?”, alega de forma enganosa uma mensagem que foi compartilhada em 20 grupos de WhatsApp monitorados pelo Radar Aos Fatos. “Tirei uma certidão negativa do cartório eleitoral, diz que não devo nada. Mas no rodapé da página diz que a inscrição foi cancelada”, completa o texto. Em outros grupos, versões da mensagem circularam com emojis de sirenes e chamadas alarmistas.

Ao todo, foram 106 correntes observadas com o conteúdo, que é falso e foi desmentido recentemente pelo Aos Fatos. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não suspende automaticamente documentos de pessoas com mais de 70 anos, para quem o voto é facultativo. O título é cancelado apenas em situações específicas previstas no Código Eleitoral, como morte do eleitor, ausência de justificativa ou de pagamento de multa após não votar em três eleições seguidas, entre outros.

Mensagens com discursos focados em idosos representam mais da metade da desinformação sobre títulos de eleitor detectada pelo Radar, que monitora 220 grupos de discussão política no WhatsApp. Entre janeiro e abril deste ano, 284 postagens falsas relacionadas a cadastramentos eleitorais circularam 567 vezes. Dessas, 158 (54%), encaminhadas 290 vezes, miram essa faixa etária.

Corrente de Whatsapp desinforma sobre cancelamentos de títulos de eleitor de idosos

Em março, o TSE lançou uma campanha para incentivar a participação de jovens no próximo pleito. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, têm convocado, nas redes sociais, eleitores idosos a comparecerem às urnas. O prazo para regularização de cadastros e habilitação de novos eleitores termina em 4 de maio.

Segundo o tribunal, cerca de 27,5 milhões de títulos estão cancelados no país. O principal motivo relatado é a morte do eleitor (12 milhões), seguido da revisão do eleitorado (10,5 milhões) e da ausência sem justificativa em três eleições consecutivas (4,8 milhões). Entre janeiro de 2021 e março deste ano, mais de 2,3 milhões de documentos foram suspensos por esses motivos.

Para sustentar alegações falsas sobre registros de idosos, algumas mensagens no WhatsApp distribuem um vídeo gravado em um cartório eleitoral de Santa Catarina checado como falso pelo Aos Fatos. Nele, uma mulher alega que a mãe teve o título bloqueado indevidamente. “Por que está cancelado, sendo que ela votou na última eleição, para prefeito e vereador?”, ela questiona a um servidor.

O documento da idosa, porém, foi suspenso em 2016 porque ela não coletou a biometria — que à época era obrigatória em sua cidade, São José (SC) — dentro do prazo. Depois disso, a exigência do cadastramento das digitais foi suspensa devido à pandemia da Covid-19.

“Preste atenção no caso dessa senhora! O TSE cancelou o título da senhora, isso é armação dos togados”, conspira uma das correntes no WhatsApp. “Esse vídeo tem que chegar no Bolsonaro, as Forças Armadas convidadas pelo [Luís Roberto] Barroso tem que fiscalizar urgente”, protesta outra. O vídeo está presente em 19 postagens, compartilhadas 35 vezes.

A gravação também se espalhou em outras plataformas, como Facebook, YouTube e Telegram. Na rede social da Meta, por exemplo, 85 postagens reuniram mais de 5.000 interações e uma série de comentários falsos em ataque ao sistema eleitoral brasileiro. Um deles diz que “estão fazendo de tudo para roubar as eleições” assim “como fizeram nas eleições dos Estados Unidos”.

Print de vídeo falso sobre título de eleitor de idosos

Mensagens com falsas exigências da Justiça Eleitoral para idosos também foram compartilhadas nas últimas semanas. Usuários afirmam, por exemplo, que pessoas com mais de 70 anos precisam renovar o título e cadastrar a biometria para participar das próximas eleições. Na realidade, o título de eleitor não tem data de validade, e a exigência de coleta biométrica, como mencionado acima, está suspensa.

Impulsionada nas redes sociais por meio de um vídeo publicado no YouTube, que foi apagado posteriormente, essa narrativa esteve presente em 33 mensagens, repassadas 61 vezes no WhatsApp. “Alerta aos idosos bolsonaristas! Atenção para seu título de eleitor. Reativar a partir dos 70 anos”, desinforma um dos conteúdos. Segundo um usuário, o aviso teria de ser repassado, pois está em curso uma estratégia para impedir que idosos votem em Bolsonaro.

CANCELAMENTOS E DIGITAIS

A narrativa desinformativa sobre a biometria não se limitou a uma faixa etária. A alegação falsa de que o cadastramento das digitais no sistema do TSE é obrigatório para todos os eleitores que irão votar na eleição de 2022 apareceu em 80 mensagens do universo monitorado, com 180 envios. Em geral, os conteúdos desinformativos acusam a Justiça Eleitoral de esconder a exigência para sabotar o pleito.

“Já observou como a esquerda, a ‘imprensa’ (os ‘jornazistas’) e até o TSE estão caladinhos sobre isso???”, alega uma postagem. “Divulguem, essa é a oportunidade para os verdadeiros interessados em ter uma eleição limpa e democrática.” No entanto, para participar das próximas eleições, o eleitor só precisa apresentar um documento de identidade e regularizar o título dentro do prazo.

Alguns usuários relatam suspensões arbitrárias de documentos por parte do TSE. “Atenção, estão cancelando o título de eleitores de Bolsonaro depois de pesquisas nas redes sociais”, diz uma das postagens. Foram encontradas 46 publicações do tipo, compartilhadas 97 vezes.

Em quase metade dessas mensagens, um homem de São Luís (MA) afirma em vídeo que seu título foi cancelado, mesmo tendo votado nas últimas eleições, o que já foi desmentido por Aos Fatos.

O vídeo compartilhado nos grupos monitorados estimula os usuários a argumentarem que os documentos estão sendo cancelados sem motivo. “Eles são bandidos, canalhas…! O TSE fará de tudo para eleger o criminoso Lula…!”, diz uma das mensagens com o conteúdo, que extrapolou para outras redes. No Facebook e no YouTube, a gravação alcançou, respectivamente, 10.200 interações e 21.100 visualizações.

Vídeo enganoso de certidão eleitoral que circulou no whatsapp

METODOLOGIA

O Radar coletou mensagens que continham os termos “título” e “eleitor” ou “biometria” compartilhadas nos 220 grupos de discussão política monitorados na plataforma entre 1º de janeiro e 27 de abril de 2022. Depois, identificou quantas postagens difundiam desinformação sobre o assunto, de acordo com checagens produzidas anteriormente pelo Aos Fatos, e quais eram suas alegações.

Referências:
1. Aos Fatos (1, 2, 3, 4 e 5)
2. Site do Planalto
3. TSE (1, 2 e 3)

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.