Não é verdade que o hospital Vila Nova Star, em São Paulo, registrou 20 casos de intoxicação por metanol após a ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas, como alegam posts nas redes. Em nota ao Aos Fatos, a instituição desmentiu a alegação. Até o momento, a capital paulista tem dez casos de envenenamento confirmados.
As publicações falsas acumulavam ao menos centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quinta-feira (2). O texto enganoso também circula no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).
PESSOAL, apenas a título de informação: um colega que trabalha no Hospital Vila Nova Star acaba de nos informar que já registraram perto de 20 casos de pessoas intoxicadas por metanol, devido a lotes de bebidas destiladas falsificada, sendo servidas em bares de renome nas regiões dos Jardins e do bairro do Ipiranga.

Posts nas redes enganam ao afirmar que o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, teria registrado 20 pacientes com intoxicação por metanol após a ingestão de bebidas adulteradas. Em nota ao Aos Fatos, o hospital desmentiu as alegações. Dados do Ministério da Saúde também negam o total de registros mencionados pelas peças enganosas.
Segundo informações do CIEVS (Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde), foram notificados 43 casos desse tipo de intoxicação no país, sendo 39 deles em São Paulo. Desse total, dez foram confirmados até o momento, todos na capital paulista. O número corresponde à metade do que é citado pelo texto viral.
Já o último balanço divulgado pela Secretaria de Saúde de São Paulo aponta um total de 52 casos em investigação. Até o momento, foi confirmada uma morte decorrente da ingestão da substância e há outras seis em investigação.
Fora de São Paulo, o Ministério da Saúde confirmou um caso de intoxicação: o do rapper Gustavo da Hungria, internado nesta quinta (2) em Brasília após ingerir bebida adulterada. O cantor não corre risco de morte. Há ainda no país outras sete ocorrências em análise.
Aos Fatos também já desmentiu uma série de outras desinformações sobre a crise. É falso, por exemplo, que foram confirmados casos de contaminação por metanol em bebidas não alcoólicas, como café, leite, água mineral e Coca-Cola.
Sintomas e tratamento
O metanol é uma substância altamente tóxica, até mesmo quando ingerido em pequenas quantidades. De acordo com o coordenador do GT de Toxicologia do Conselho Federal de Farmácia e vice-presidente da SBTox (Sociedade Brasileira de Toxicologia), José Roberto Santin, e o processor de toxicologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Marcelo Arbo, é necessário ficar atento aos sintomas e buscar ajuda médica aos primeiros sinais de intoxicação.
Santin e Arbo explicam que é possível encontrar o metanol em bebidas alcoólicas em quantidades muito baixas, devido ao processo de fermentação. Essas quantidades são controladas por normas de segurança determinadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Quando está presente em quantidades maiores do que as consideradas seguras, no entanto, o metanol pode causar danos graves ao sistema nervoso central, aos rins e, especialmente, ao nervo óptico, levando à cegueira. Em doses ainda mais altas, a substância pode causar falência de órgãos e morte.
De acordo com os especialistas, não há uma forma simples de o consumidor identificar se a bebida que está ingerindo foi adulterada pela cor, sabor ou cheiro.
Por isso, é importante observar outros critérios, como preços muito abaixo dos praticados no mercado, embalagens improvisadas ou sem lacre, falta de rótulo com registro e procedência, além da compra em locais não autorizados.
Atenção. José Roberto Santin aponta que os consumidores devem ficar atentos aos sintomas, que são muito semelhantes aos da embriaguez, mas que vão além de náuseas, vômitos, dor abdominal, dor de cabeça e tontura:
- Alterações visuais: visão turva, pontos brilhantes e até mesmo cegueira;
- Dificuldade para respirar;
- Confusão mental;
- Convulsões;
- Em quadros mais graves, coma.
Em caso de suspeita de envenenamento, a recomendação é procurar atendimento médico com urgência para diagnosticar a intoxicação o mais breve possível e iniciar a terapia específica. Santin explica que isso pode envolver o uso de antídotos, como o etanol ou, em casos mais graves, até mesmo a hemodiálise.
O caminho da apuração
Entramos em contato por email com o Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, que negou, em nota, ter atendido 20 casos de intoxicação por metanol. Também procuramos o Ministério da Saúde para apontar quais procedimentos estão sendo adotados pelo órgão no monitoramento dos casos de intoxicação por metanol no país.
Aos Fatos ainda acionou especialistas da Sociedade Brasileira de Toxicologia, do Conselho Federal de Farmácia e da Faculdade de Farmácia da UFRGS para explicar sobre o que é o metanol e quais as consequências da ingestão da substância misturadas a bebidas destiladas. Por fim, consultamos notícias da imprensa para contextualizar o tema.




