É falso que o Grupo Consultivo Técnico Europeu de Peritos em Imunização da OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou que os vacinados contra a Covid-19 fiquem em quarentena porque estão mais suscetíveis à doença, como alegam posts nas redes (veja aqui). Não há registros de tal afirmação em comunicados do grupo, que defende a vacinação em massa como forma de conter a pandemia. O texto ainda cita dados enganosos sobre a incidência da infecção em Israel e no Reino Unido.
Nesta segunda-feira (29), essas alegações enganosas constavam em posts no Facebook com ao menos centenas de compartilhamentos.
VACINADOS DEVEM SER ISOLADOS E AFASTADOS DOS NÃO VACINADOS SOB RISCO DE INFECTÁ-LOS.O Grupo Consultivo Europeu sobre Imunização da Organização Mundial da Saúde, do qual o ex-vice-presidente é o professor Christian Perronne, disse que todos os vacinados devem ser colocados em quarentena durante os meses de inverno.Peronne, especialista em patologias tropicais e doenças infecciosas emergentes, foi presidente da comissão técnica de doenças transmissíveis do Conselho Superior de Saúde Pública.Ao confirmar a rápida deterioração da situação em Israel e no Reino Unido, o especialista em doenças infecciosas disse: ‘As pessoas vacinadas devem ser colocadas em quarentena e isoladas da sociedade’.Ele continuou: ‘Pessoas não vacinadas não são perigosas, já as pessoas vacinadas são perigosas para as outras. Isso foi comprovado em Israel. Estamos em contato com muitos médicos em Israel, eles têm grandes problemas. Casos graves em hospitais estão entre os vacinados. No Reino Unido o quadro é o mesmo. Lá existe o maior programa de vacinação, e por isso, há muitos problemas’.
O Grupo Consultivo Técnico Europeu de Peritos em Imunização da OMS (Organização Mundial da Saúde) não orientou que vacinados contra a Covid-19 façam quarentena no inverno na Europa porque estariam mais suscetíveis a contrair a doença do que aqueles que não foram imunizados.
O grupo não publicou nenhuma recomendação semelhante sobre quarentena ou a respeito de um suposto risco maior de infecção entre vacinados em seu site oficial ou na imprensa. Em sua última reunião, realizada entre 16 e 18 de novembro, a entidade indicou que a vacinação em massa era uma das formas de “reduzir os casos graves e as mortes e manter os serviços essenciais de saúde”.
Nenhuma vacina contra a Covid-19 oferece 100% de proteção, mas não se pode afirmar que vacinados estariam mais propensos a desenvolver a doença que os não imunizados. Para serem utilizados no Brasil, os fármacos precisam comprovar que oferecem um patamar mínimo de proteção.
Segundo as bulas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o ciclo completo (duas doses) da CoronaVac proporciona ao vacinado 50,83% menos chances de contrair a Covid-19. Na da AstraZeneca, esse percentual é de até 82,4% após a segunda dose; a da Pfizer, 95%, e a Janssen, dose única, de 66,9%. A imunidade contra a doença cresce ainda mais após a dose de reforço, que, no Brasil, é aplicada com Pfizer.
A informação enganosa é atribuída ao médico francês Christian Perronne, que não faz mais parte do grupo consultivo da OMS. Em agosto deste ano, em entrevista ao site UK Collumn, ele alegou que seria necessário pôr vacinados em quarentena. Perronne é conhecido por disseminar desinformação sobre a Covid-19 e, em 2020, foi demitido da chefia do departamento de doenças infecciosas do hospital Raymond-Poincaré, na França, por declarações enganosas a respeito de infectados pela doença.
O texto checado alega também que a fala do médico gerou “pânico” entre o “grupo de trabalho sobre a pandemia” na França, que estaria com medo de que houvesse uma alta expressiva de casos entre vacinados. Não há, no entanto, nenhuma informação semelhante sobre o Grupo de Trabalho Permanente sobre a Covid-19 do Alto Conselho de Saúde francês, que inclusive segue aconselhando a vacinação de toda a população.
É enganosa ainda a alegação de que o diretor-médico do Herzog Hospital de Jerusalém, Kobi Haviv, disse que “95% dos pacientes gravemente enfermos em Israel são vacinados”. O que ele afirmou, na realidade, é que 90% dos casos atendidos em seu hospital apenas seriam de imunizados, não que esse seria o percentual de hospitalizações graves no país.
Segundo o Ministério da Saúde de Israel, no dia 22 de novembro, foram registrados 131 casos graves ativos, sendo 76% deles de pessoas não vacinadas. Em outubro, a pasta divulgou que 10% de não vacinados eram responsáveis por 73% dos casos graves e 65% das mortes por Covid-19 no país.
Tampouco procede que, no Reino Unido, a maioria das infecções graves atinja hoje os vacinados, como alega o texto. De acordo com o último boletim sobre o assunto, publicado no dia 1º de novembro, a mortalidade de não vacinados foi 32 vezes maior do que a de totalmente vacinados. O governo estima que os três imunizantes aplicados no país — Astrazeneca, Pfizer e Moderna — têm 90% de eficácia contra hospitalizações.
Por fim, o texto repete ainda a informação enganosa de que as vacinas afetariam o sistema imunológico por meio da proteína Spike. Na verdade, como Aos Fatos já desmentiu, vacinas com a tecnologia RNA mensageiro induzem o corpo a produzir cópias de proteínas Spike do Sars-CoV-2 em quantidade controlada, por curto período e sem riscos à saúde, para ativar células de “memória” que estimulam a criação de defesas contra a Covid-19.
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