Não é verdade que o governo Lula enviou um livro sobre incesto a escolas públicas. As peças de desinformação compartilham uma reportagem exibida em 2017, ainda durante o governo Temer, sobre a reação de instituições de ensino do Espírito Santo à obra infantil “Enquanto o sono não vem”, distribuída pelo MEC e posteriormente recolhida. O livro conta a história de uma princesa que é assediada pelo pai e punida ao se negar a casar com ele.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 2.000 curtidas, milhares de visualizações no TikTok e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quarta-feira (5).
MEC envia livros comprados pelo governo Lula que incentiva filhas a se casarem com o pai
Uma reportagem de 2017 da TV Gazeta, afiliada da Globo no Espírito Santo, tem sido compartilhada nas redes como se fosse recente para alegar que o governo Lula teria enviado às escolas um livro que incentiva o incesto. O telejornal noticiou na época que prefeituras do Espírito Santo recolheram a obra “Enquanto o sono não vem” (Rocco, 2003), de José Mauro Brant, e a devolveram ao MEC (Ministério da Educação) por considerarem a temática inapropriada. O presidente era Michel Temer (MDB).
Um dos contos populares presentes no livro, distribuído a alunos do primeiro, segundo e terceiro anos do ensino fundamental da rede pública, conta a história de uma princesa que é assediada pelo pai. Ao se negar a casar com ele, ela é aprisionada e tem um fim trágico. Em resposta às críticas, a editora Rocco alegou que o livro passou por ampla avaliação antes de ser enviado às escolas.
Dias após a reportagem, o então ministro da Educação, Mendonça Filho, decidiu recolher os 93 mil exemplares que haviam sido distribuídos. O MEC informou que a obra tinha sido incluída no PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) em 2014, durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), e que estava revendo o processo de seleção dos livros.
“As crianças no ciclo de alfabetização, por serem leitores em formação e com vivências limitadas, ainda não adquiriram autonomia, maturidade e senso crítico para problematizar determinados temas com alta densidade, como é o caso da história em questão”, diz um trecho do parecer da Secretaria de Educação Básica do MEC. O órgão não considerou a obra adequada para crianças de sete a oito anos por abordar o tema do incesto.
A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que foi responsável por avaliar a adequação do livro ao ambiente escolar, afirmou na época que "o fato de uma obra tematizar incesto, como é o caso de ‘A triste história de Eredegalda’, não quer dizer que faça apologia do incesto. Ou seja, não é o tema que aborda, mas a maneira como o faz que deve ser considerado pelo leitor."
Aos Fatos consultou o Guia Digital do PNLD de obras literárias de 2022, documento mais recente, e verificou que a obra “Enquanto o sono não vem” não consta entre os livros passíveis de distribuição.
Esta peça de desinformação também foi desmentida pela Agência Lupa.