Não é verdade que o governador de Nova York, Andrew Cuomo, tenha apresentado dados mostrando que o isolamento social é ineficaz para conter a Covid-19. Publicações com essa alegação circulam na internet (veja aqui) desde que o político americano afirmou, na quarta (6), que a maioria dos novos internados pela doença no estado era de pessoas que permaneciam em casa. Embora verdadeiro, o dado não foi citado para desacreditar o isolamento, mas para enfatizar que a precaução é necessária até entre aqueles que seguem em quarentena. Na mesma entrevista, Cuomo também disse que as medidas de distanciamento social tomadas ajudaram a reduzir o número de novos casos em Nova York.
O conteúdo falso foi reproduzido por sites bolsonaristas, como o Senso Incomum, para sustentar que medidas de isolamento social não funcionam para combater o novo coronavírus. No Facebook, as peças de desinformação acumulavam mais de 35 mil compartilhamentos até a tarde desta terça-feira (12). Todas foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de monitoramento da rede social (saiba como funciona).
Governador de NY mostra pesquisa que comprova a ineficácia do isolamento
É falso que o governador de Nova York, Andrew Cuomo, tenha apresentado uma pesquisa que comprova que o isolamento social é ineficaz para deter a Covid-19. Os números mostrados pelo político indicam que a maioria dos recém-internados em hospitais do estado estava permanecendo em casa, mas nem o levantamento nem Cuomo sugerem que isso indicaria que o isolamento não está funcionando. Ao contrário, o governador disse que as medidas tomadas pelo governo levaram à recente diminuição de casos em Nova York.
As informações citadas por publicações enganosas constam em pesquisa feita pelo governo estadual com 1.289 pacientes que foram internados ao longo de três dias em 113 hospitais de Nova York e apresentada por Cuomo na última quarta-feira (6). Segundo o documento, 84% dos que responderam à pesquisa disseram que, antes de serem internados, estavam evitando sair de casa.
Na entrevista coletiva em que apresentou a pesquisa, Cuomo destacou esse número apenas para reforçar a orientação de que mesmo quem está de quarentena deve tomar precauções. Em nenhum momento ele usou o dado para questionar o isolamento.
"[Essa pesquisa] reforça aquilo que a gente vinha falando, que muito depende de como você se protege. Tudo está fechado. O governo fez tudo o que podia. A sociedade fez tudo o que podia. Agora é com você. Você está usando máscara? Você está aplicando álcool em gel? Se você tem pessoas mais novas que te visitam e que talvez sejam menos cuidados das com o distanciamento social, você estão ficando longe de pessoas mais velhas?", disse.
O governador ainda afirmou que as medidas de isolamento implementadas pelo governo ajudaram a reduzir o número de casos diários em Nova York: "O que estamos fazendo está dando resultados. A taxa de hospitalização caiu. O número de mortes caiu e o número de novos casos caiu", afirmou.
Dois dias depois, em entrevista ao apresentador Stephen Colbert, Cuomo disse que a pesquisa apresentada reforça que o isolamento é eficaz. "[Os dados mostram que] a taxa de infecção está restrita àqueles que estão ficando em casa, o que significa que o lockdown está funcionando e que agora chegamos a uma etapa que depende do comportamento individual, se as pessoas estão ou não usando uma máscara e usando álcool em gel."
Um especialista ouvido pela emissora americana NBC disse que já era esperado que uma grande parte dos infectados estivesse de quarentena simplesmente porque muitas pessoas no país estão ficando em casa. "A maioria de nós está em casa, então não surpreende que a maior fonte de hospitalizações recentes seja de pessoas que estão em casa", afirmou o epidemiologista da Universidade de Minnesota Kumi Smith.
Números errados. Uma segunda versão dessa peça de desinformação circulou dizendo que os dados de Nova York mostravam que 66% – e não 84% – dos internados estavam confinados em casa. Esse número aparece em outro slide da apresentação de Cuomo, mas diz respeito à situação de moradia dos internados, não se estavam respeitando ou não a quarentena.
Segundo o estudo, 66% das pessoas que foram internadas viviam em casa; 18% estavam em lares para idosos; 2% em abrigos para sem-teto; 2% em outras instalações e 1% estava em presídio.
Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com o site Senso Incomum para que pudesse comentar a checagem, mas não houve resposta até a publicação deste texto.
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