Sob um texto que nega a existência do Holocausto e promove teorias conspiratórias, um anúncio convida: “Aproveite os descontos”. A propaganda do Boticário, empresa fundada por um descendente de judeus, foi inserida ao lado de conteúdo neonazista do iFunny graças à falta de moderação do Google Ads, que gera lucro tanto para o Google como para a rede social.
O iFunny se propõe a ser uma plataforma de memes e conteúdo de humor e é popular entre o público infantojuvenil. Nos últimos anos, porém, o aplicativo se tornou centro irradiador de publicações preconceituosas e ideias extremistas. O MPF (Ministério Público Federal) em São Paulo abriu procedimento para investigar a presença de racismo na plataforma, conforme o Aos Fatos mostrou.
Apesar de suas falhas sistemáticas de moderação e da proliferação de posts ilegais, o iFunny é monetizado pelo Google AdSense, cujas regras dizem limitar os conteúdos que podem ser receber publicidade, para “manter a confiança no ecossistema de anúncios”.
Entre as condições que deveriam impedir o uso da ferramenta para monetização de um site ou aplicativo estão a publicação de pornografia, bullying ou discriminação e discurso de ódio com base em:
- raça ou origem étnica;
- religião;
- deficiência;
- idade;
- nacionalidade;
- orientação sexual;
- sexo;
- identidade de gênero;
- ou outras características associadas à marginalização ou discriminação sistêmicas.
A reportagem identificou todos esses tipos de preconceitos em publicações no iFunny. Ainda assim, todos os conteúdos exibidos por meio do aplicativo para celular traziam propaganda inserida pelo Google Ads.
Os anúncios do Google Ads no iFunny são exibidos tanto no celular como no computador. No celular, os banners aparecem na parte inferior da tela, o que pode fazer com que as propagandas dividam a atenção do potencial consumidor com posts machistas, racistas ou pornográficos, por exemplo.
As regras de conteúdo do Google AdSense existem para dar segurança aos anunciantes, já que a exposição da publicidade ao lado de conteúdos ilegais pode prejudicar as marcas.
As empresas não têm controle sobre onde suas peças serão publicadas quando investem em anúncios pelo Google. Segundo a plataforma, a publicidade pode aparecer “em vários lugares da web, dependendo do tipo de segmentação, do público-alvo e dos tipos de anúncio criados”.
No caso do Boticário, o Aos Fatos flagrou a propaganda sendo exibida junto a post que divulgava canais de comunicação de grupos neonazistas. Fundador do grupo, o empresário Miguel Krigsner é filho de judeus que vieram para a América do Sul por causa do nazismo. O Boticário não quis se posicionar sobre a falha de moderação do Google AdSense.
O Aos Fatos procurou o Google para comentar a monetização de posts neonazistas no iFunny, mas a empresa não respondeu até a publicação desta reportagem. A plataforma também não se posicionou quanto à presença do iFunny na loja de aplicativos Google Play, na qual possui mais de 10 milhões de downloads.