Posts nas redes usam um vídeo falso da jornalista Sandra Annenberg para enganar usuários interessados em resgatar uma indenização de R$ 7.000 que o governo federal estaria pagando a cidadãos devido a um vazamento de dados. As imagens da jornalista foram geradas por inteligência artificial, e a existência da indenização — que teria o nome de “Resgata Brasil” — é mentira.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quinta-feira (26).
Pessoal, só pra lembrar a vocês que em menos de 48 horas se encerram as análises da indenização do benefício Resgata Brasil por vazamento de dados. Para confirmar se você pode receber sua indenização de mil a sete mil reais, verifique agora se você tem direito.
Posts nas redes usam um vídeo manipulado da jornalista Sandra Annenberg e falsificam a identidade visual do portal gov.br para aplicar um golpe.
As peças de desinformação alegam ser possível receber uma indenização de R$ 7.000, o que é falso. Não há benefício com o nome “Resgata Brasil”, nem qualquer iniciativa do governo federal que vise indenizar cidadãos por vazamento de dados.
Por meio das redes sociais, Sandra Annenberg alertou seus seguidores sobre o mau uso da inteligência artificial. A ferramenta serviu para inserir no vídeo falso uma voz semelhante à dela para aplicar o golpe.
Na gravação original, publicada em 30 de agosto, a jornalista convidou os telespectadores a assistir uma edição do Globo Repórter no Sul de Minas Gerais.
As peças de desinformação que compartilham o golpe operam da seguinte forma:
- Ao clicar no botão “Saiba mais” que acompanha os posts enganosos, o usuário é direcionado a sites que simulam a identidade visual do portal oficial gov.br;
- Inicialmente, o site solicita ao usuário o número de CPF e, em seguida, começa a exibição de trechos de telejornais também adulterados por IA;
- Em simulações realizadas pelo Aos Fatos, os supostos valores a receber foram os mesmos independentemente do CPF — mais um indício de que o processo é uma farsa;
- Na tarde desta quinta-feira (26), Aos Fatos verificou que os sites enganosos estavam corrompidos, o que impossibilitou descrever o mecanismo completo implementado pelos golpistas;
- Golpes semelhantes levam os usuários a páginas de pagamento sem vínculo com órgãos do governo, em que precisam preencher dados como nome, endereço, email, CPF e telefone. As informações fornecidas e o dinheiro da taxa são roubados pelos criminosos.
A desinformação tem origem em uma ação ajuizada pelo Instituto Sigilo em 2021 contra um suposto vazamento de dados da base da Serasa. Em 2023, o MPF (Ministério Público Federal) entrou como coautor do processo e solicitou à Justiça que a empresa pagasse indenizações de R$ 30 mil a cada pessoa que teve os dados vazados. O pedido foi indeferido.
O caso tramita no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), e a empresa nega que tenha havido vazamento.
Em março, um golpe semelhante alegava que a Serasa tinha sido obrigada por decreto a indenizar os consumidores que tiveram dados pessoais vazados, o que é falso.
O caminho da apuração
Aos Fatos não localizou qualquer benefício com o nome de “Resgata Brasil” nem qualquer iniciativa federal para indenizar cidadãos por supostos dados vazados.
Em seguida, por meio de busca reversa de imagens, localizamos tanto o vídeo original do Globo Repórter como uma gravação feita por Sandra Annenberg em que ela alerta para um golpe financeiro com o uso de sua imagem.