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Gasto com energia elétrica freia redução de despesas do governo
Gasto com energia elétrica freia redução de despesas do governo
União já gastou 32% mais que em 2014 com conta de luz e é vítima da própria política de oneração do setor de energia; desembolso é de R$ 484 milhões a mais
Na contramão de sua política de redução de gastos, o governo federal aumentou em 2015 suas despesas com energia elétrica. Os dados constam do Boletim de Despesas de Custeio Administrativo, divulgado no mês passado pelo Ministério do Planejamento, e revelam variação real de 32% em relação ao mesmo período de 2014.
Para afirmar que houve esforço para redução dos gastos da máquina pública, o ministério preparou uma apresentação, em que mostra que, entre janeiro a novembro de 2014 e janeiro a novembro 2015, os custos caíram de R$ 20,573 bilhões para R$ 20,572 bilhões — se retirada do cálculo a conta de luz, conforme o fac-símile abaixo.
O problema é que, conforme também mostra a tabela, o custeio total subiu sobretudo graças ao aumento da tarifa de energia elétrica. Contra R$ 1,01 bilhão gastos entre janeiro e novembro de 2014, o mesmo período de 2015 registrou R$ 1,498 bilhão — R$ 484,4 milhões a mais.
No acumulado dos últimos 12 meses, isto é, de dezembro de 2014 a novembro de 2015, a conta fica maior: R$ 1,740 bilhão foi gasto para pagar serviços de energia elétrica. No período anterior, a conta tinha ficado em R$ 1,256 bilhão. Em 2013, quando entrou em vigor a política de desoneração das tarifas de energia, o valor ficou em R$ 1,186. Ou seja, houve significativo aumento das despesas, mesmo em um período de estímulo à sua contenção.
Veja, nos gráficos abaixo, como cada setor da administração federal gastou nos últimos anos.
De janeiro a novembro de 2015, a única área que teve incremento de gastos, seja com variação real, seja com variação nominal, foi a de serviços de energia elétrica. Ao considerar apenas a variação nominal — aquela que não leva em consideração a inflação, por exemplo —, os setores de serviços de limpeza, água e esgoto e de prestação de serviços de apoio (por exemplo, vigilância, apoio administrativo, contratações temporárias) também apresentaram aumento de despesas. O primeiro gastou R$ 124,3 milhões a mais que o período anterior, enquanto o segundo, R$ 480,9 milhões a mais.
Os gastos de prestação de serviços de apoio compõem a maior fatia do custeio administrativo: em 2015, correspondeu a 40% dos R$ 22 bilhões totais. Em segundo lugar, ficam os débitos com material de consumo (que abrangem, por exemplo, locação de máquinas e equipamentos, locação de veículos, serviços de cópia). As despesas com energia elétrica compõem 7% dessa conta.
Em outubro passado, a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de redução de gastos administrativos que, em resumo, pretendia cortar ao menos R$ 200 milhões das despesas governamentais. Oito ministérios foram abolidos, e a presidente prometeu cortar 3 mil cargos comissionados, além de reduzir em 20% dos gastos de custeio e de contratação de serviços de terceiros, e a reduzir em 10% do salário dela, do vice-presidente e de seus ministros.
Segundo dados do Ministério do Planejamento, esses percentuais para o custeio ainda não foram alcançados. Em valores nominais, de janeiro a novembro do ano passado, o governo aumentou as despesas em 2,2%. A variação real, sem ajuste pela inflação, ficou em -8,5%.