🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que gás de cozinha custa menos na Bolívia porque Lula doou refinarias ao país

Por Luiz Fernando Menezes

20 de abril de 2022, 15h05

Não é verdade que o gás de cozinha seria mais barato na Bolívia que no Brasil porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) doou ao país vizinho refinarias da Petrobras, como alegam nas redes (veja aqui). As unidades foram vendidas aos bolivianos em 2006, e o custo do insumo é menor atualmente em razão de subsídios.

O conteúdo enganoso reunia ao menos 100 mil visualizações no TikTok e centenas de compartilhamentos no Facebook nesta quarta-feira (20).


Selo falso

Enquanto você brasileiro paga quase R$ 100 num gás de cozinha no Brasil, aqui na Bolívia a gente tá pagando R$ 15. Isso tudo porque o pai dos pobres, o Lula, deu de presente uma refinaria para o Evo Morales.

Diferentemente do que diz homem do vídeo, Lula não deu refinarias à Bolívia

Em um vídeo publicado no TikTok, um homem engana ao dizer que o botijão de gás é mais barato na Bolívia que no Brasil porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) doou refinarias aos vizinhos. As unidades foram vendidas pela Petrobras para os bolivianos em 2006, e o custo menor do GLP resulta da adoção de subsídios pelo governo local.

Em maio de 2006, o então presidente da Bolívia, Evo Morales, determinou que os recursos naturais de hidrocarbonetos fossem nacionalizados e ordenou que os militares ocupassem as refinarias e campos de produção de empresas estrangeiras. Duas refinarias de petróleo da Petrobras, localizadas em Cochabamba e Santa Cruz, foram ocupadas. Um ano depois, o governo brasileiro, na época presidido por Lula, fechou um acordo para vender as refinarias à Bolívia por US$ 122 milhões. O pagamento foi finalizado ainda naquele ano.

As unidades pertenciam originalmente ao governo boliviano e foram compradas pela Petrobras em 1999, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ainda que elas tivessem uma grande participação na exportação do gás enviado para o Brasil, o argumento de que o botijão seria mais barato se Lula não as tivesse vendido também é enganoso.

O químico industrial Marcelo Gauto explicou ao Aos Fatos que o preço atual do GLP não tem relação com uma maior capacidade de refino do insumo, porque a Petrobras atualmente segue uma política de paridade internacional — os valores do gás vão diminuir se o dólar depreciar, o real valorizar ou o petróleo ficar mais barato, afirma.

Comparação. No Brasil, o preço médio de um botijão de 13 quilos estava em R$113,66 entre 3 e 9 de abril de 2022. Desse total, a Petrobras fica com R$ 57,75 do valor, R$ 41,06 vão para distribuição e revenda, e R$ 14,73 correspondem ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Na Bolívia, o preço do GLP é fixado em 2,25 bolivianos por quilo (cerca de R$ 1,50 na cotação de 18 de abril) há mais de cinco anos. Sendo assim, um botijão de 13 quilos custa atualmente cerca de R$ 18, valor próximo aos R$ 15 citados pelo autor do vídeo desinformativo.

Mas diferentemente do que é alegado na publicação, a discrepância entre os preços se dá porque o gás de cozinha boliviano é subsidiado pelo governo local. Para manter o preço congelado, parte do insumo é custeado pelos cofres públicos, o que não acontece no Brasil, explicou Marcelo Gauto.

Em 2022, o governo boliviano estima gastar ao menos US$ 700 milhões com sua política de preços, o equivalente a cerca de R$ 3,3 bilhões. De acordo com o economista e ex-vice-ministro de Planejamento da Bolívia, Armando Ortuño, não há uma estimativa oficial do valor do subsídio sobre o gás, e o governo pretende diminuir esse custeio a cada ano.

É possível, entretanto, medir o impacto da medida ao observar o preço praticado em países sem subsídios. Enquanto na Bolívia o quilo do GLP custa US$ 0,32, nos Estados Unidos o valor do insumo é de aproximadamente US$ 1,34 por quilo, e no Brasil, US$ 1,87.

Origem. O vídeo original foi publicado pelo usuário Gabriel Carneiro em seu canal no TikTok no dia 9 de abril, onde acumula dezenas de milhares de visualizações. Contatado via Instagram, ele não respondeu ao Aos Fatos.

Referências:

1. Folha de S.Paulo
2. O Globo
3. G1
4. Senado Federal
5. EBC
6. Petrobras
7. ANH
8. Olade
9. Los Tiempos
10. eia
11. ANP


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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