É falso que a Funai distribuiu peças de picanha para indígenas e que existam benefícios como “Bolsa Funai” ou “Cartão Funai”, como alegam publicações enganosas nas redes. As peças desinformativas usam como se fosse real um vídeo publicado por uma página de humor. Em nota, a Funai desmentiu as alegações.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam mais de 500 mil visualizações no YouTube até a tarde desta sexta-feira (26). O conteúdo falso também circula no X (ex-Twitter) e no Threads.
Indígena ostentando picanha e outros luxos pagos com cartão Funai. Os cachorros comem picanha, mas petistas não! O brasileiro pagando luxos pra geral e o povo passando fome.
É um vídeo de humor a gravação que mostra um homem indígena dizendo que recebeu 30 peças de picanha da Funai para distribuir aos cachorros. Publicações falsas também mentem ao afirmar que a carne teria sido paga com dinheiro do contribuinte pelo “Cartão Funai” ou “Bolsa Funai”.
As postagens enganosas tiram de contexto um conteúdo humorístico para mentir sobre a suposta doação e os falsos benefícios.
O conteúdo original foi publicado por Kauri Waiãpi em seus perfis no TikTok, no Instagram e no Kwai. Nas redes, Kauri faz piada do desconhecimento das pessoas sobre a vida e a cultura indígena — como no caso da picanha.
Em nota, a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) afirmou que não entrega peças de picanha para indígenas. O órgão explicou que a distribuição de alimentos só acontece “quando identificada uma situação de emergência", como desastres climáticos. Nesses casos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é a responsável por adquirir as cestas de alimentos, que não incluem picanha.
O órgão ainda negou a existência de um benefício chamado “Bolsa Funai” e afirmou que “não realiza repasse financeiro direto aos indígenas”.
Usando a ferramenta de busca avançada no Google nos sites da Funai e do MPI (Ministério dos Povos Indígenas), Aos Fatos também não encontrou nenhuma menção aos supostos “Cartão Funai” (aqui e aqui) e “Bolsa Funai” (aqui e aqui), nem à suposta distribuição de picanha (aqui e aqui).
Essa peça de desinformação também foi verificada pela AFP Brasil.
O caminho da checagem
Em uma busca reversa, Aos Fatos identificou que o vídeo original foi publicado por um humorista em seus perfis no TikTok, no Instagram e no Kwai.
A reportagem entrou em contato com a Funai por email e por mensagem, que negou, em nota, as alegações das peças falsas. O Ministério dos Povos Indígenas também foi procurado por email e por telefone, mas não respondeu.