Freire Gomes confirmou, sim, ao STF a existência da minuta do golpe

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Veículos de imprensa não mentiram ao alegar que o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes confirmou a existência de uma minuta golpista em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal). O general disse na última segunda (19) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou um “estudo” após as eleições de 2022 que trazia alternativas que supostamente permitiriam uma ruptura institucional.

Publicações nas redes com o conteúdo falso acumulavam 3.000 compartilhamentos no X (ex-Twitter) e 2.000 curtidas no Instagram até a tarde desta quarta-feira (21). Posts enganosos ainda alcançaram centenas de usuários no Facebook e no Threads.

Mesmo com a negativa de Freire Gomes sobre qualquer tentativa de ‘golpe’, O Globo inventa uma fala que nunca existiu em seu depoimento. O Globo mentiu! O Globo inventa afirmação que não existiu durante o depoimento de Freire Gomes.

Print de post do X com a frase: ‘Mesmo com a negativa de Freire Gomes sobre qualquer tentativa de ‘golpe’, O Globo inventa uma fala que nunca existiu em seu depoimento’. A imagem mostra a capa do jornal O Globo com a manchete ‘Ao STF, ex-chefe do Exército confirma minuta golpista’, com as duas últimas palavras sublinhadas em vermelho. Abaixo, aparecem as imagens do ministro do STF Alexandre de Moraes — um homem branco, calvo, usando toga preta — e o general Freire Gomes — um homem branco, de cabelo grisalho e curto, vestindo farda militar. Na parte inferior da imagem aparece em letras maiúsculas: ‘O GLOBO MENTIU! O GLOBO INVENTA AFIRMAÇÃO QUE NÃO EXISTIU DURANTE O DEPOIMENTO DE FREIRE GOMES’.

Publicações enganam ao afirmar que o general Freire Gomes não admitiu a existência da minuta golpista em depoimento ao STF na última segunda-feira (19). As peças de desinformação, que atacam veículos de imprensa que noticiaram o caso, omitem que o militar mencionou a existência de um “estudo” e de discussões sobre supostas alternativas para levar a cabo uma ruptura institucional.

Durante a oitiva, o militar confirmou que foi convocado por Bolsonaro a participar de uma reunião no Palácio do Alvorada no dia 7 de dezembro de 2022. Freire Gomes disse que, naquele dia, o ex-presidente apresentou a minuta do decreto golpista — chamada pelo militar de “estudo” — pela primeira vez.

Ainda de acordo com o depoimento, o texto apresentava uma série de argumentos supostamente fundamentados na Constituição que previam o uso das Forças Armadas em medidas como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e estado de sítio. Segundo ele, a primeira versão do documento não causou espanto aos chefes militares.

A minuta golpista tinha entre seus objetivos a intervenção no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), comandado à época pelo ministro Alexandre de Moraes, e a anulação do resultado das eleições de 2022.

Em depoimento concedido à Polícia Federal em março do ano passado (veja a íntegra aqui), Freire Gomes afirmou que ele e o então comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), brigadeiro Carlos Baptista Júnior, teriam se negado a aderir ao plano golpista. Já o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, declarou “estar ao lado do presidente”.

Já no depoimento ao STF da última segunda, o general abrandou suas acusações e disse que não podia inferir que Garnier estava em conluio com Bolsonaro para aplicar um golpe de Estado. A mudança no tom fez com que o militar fosse advertido pelo ministro Alexandre de Moraes, que o acusou de estar mentindo em juízo.

O ex-comandante do Exército negou que estivesse mentindo e confirmou, então, que o almirante Garnier “tomou a postura de ficar com o presidente”. “Não posso inferir o que ele quis dizer ‘estar com o presidente’. Eu sei exatamente o que falei e afirmo: ele disse que estava com o presidente, e a intenção do que ele quis dizer com isso não me cabe [interpretar]”, continuou.

Minuta golpista. A primeira versão do documento conhecido como minuta golpista foi encontrada em janeiro de 2023 na casa do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres. O texto previa a instauração de um estado de defesa no país e a anulação do resultado das eleições de 2022.

Print que mostra acima trecho da minuta da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) apresentada por Jair Bolsonaro (PL) no dia 7 de dezembro de 2022, em reunião com chefes das Forças Armadas, no Palácio do Alvorada, e um trecho da minuta de Estado de Defesa (abaixo), encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Os documentos estão anexados ao depoimento prestado no dia 2 de março de 2024, pelo general Marco Antônio Freire Gomes, à Polícia Federal.
Prints mostram techos das minutas de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e de Estado de Defesa anexadas ao depoimento prestado em março de 2024 pelo ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes (Imagem: Reprodução).

De acordo com depoimentos, o documento foi apresentado por Bolsonaro ao alto escalão das Forças Armadas em 7 de dezembro de 2022. Em sua primeira versão, o texto ainda previa a prisão de autoridades, como os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o então presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

De acordo com o depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, a segunda versão da minuta golpista foi editada pelo próprio ex-presidente e apresentada novamente aos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira. O novo texto previa a prisão de Moraes e a realização de novas eleições.

O caminho da apuração

Aos Fatos consultou relatos de veículos da imprensa que acompanharam a oitiva do general Marco Antônio Freire Gomes no STF na última segunda (19) e confrontou os dados com o depoimento prestado pelo militar à Polícia Federal em 2024.

Referências

  1. O Globo
  2. Folha de S.Paulo (1 e 2)
  3. CNN Brasil (1 e 2)
  4. STF
  5. Uol
  6. Aos Fatos

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