Não foram registradas em Criciúma (SC) grande parte das fotos que compõem uma galeria (veja aqui) que vem sendo compartilhada nas redes sociais como se fossem registros do assalto a uma agência do Banco do Brasil na madrugada desta terça-feira (1º). Das 13 imagens, ao menos seis delas foram tiradas em outras situações. Uma delas, que mostra destroços de um helicóptero, sequer é um registro de um crime.
O álbum com as imagens acumulava ao menos 34 mil compartilhamentos no Facebook até a tarde de hoje e foi marcado com o selo DISTORCIDO na ferramenta de verificação (veja como funciona). Esta classificação é empregada em publicações que mesclam informações verdadeiras e falsas.
Logo após o assalto à agência do Banco do Brasil em Criciúma (SC) entre a noite de segunda-feira (30) e a madrugada desta terça-feira (1º), passou a circular nas redes sociais uma galeria de 13 fotos que supostamente mostram registros do crime. O assalto, que chamou a atenção pela violência extrema dos criminosos e pela dimensão do ataque, teve troca de tiros, veículos incendiados e até civis que foram feitos de reféns. Algumas imagens da peça de fato mostram cenas desse caso, mas outras são de assaltos antigos.
Fotos descontextualizadas. Conforme verificado pelo Aos Fatos por meio de busca reversa, 6 das 13 imagens que compõem a galeria não foram registradas durante ou após o assalto na cidade catarinense.
A primeira imagem descontextualizada mostra um homem armado e vestindo máscara e capacete andando na rua. O registro, na verdade, é de dezembro de 2019, quando uma quadrilha assaltou uma agência bancária da Caixa em Botucatu, no interior de São Paulo. O crime foi registrado por uma câmera de segurança do local.
Também não foi tirada em Criciúma a foto que mostra os destroços de um helicóptero em um matagal. A imagem, divulgada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais, é de um caso ocorrido em junho de 2018 em Espírito Santo do Dourado (MG). Na ocasião, um helicóptero de luxo caiu em uma área rural da cidade. O acidente matou o empresário Márcio Bissoli e o piloto da aeronave, Luiz Gustavo Araújo Soares.
Outra imagem descontextualizada é a que mostra uma porta de um cofre aberta e ferramentas como furadeiras e cabos jogados no chão. Conforme noticiado pela imprensa goiana, trata-se de um registro de uma invasão a uma agência do Banco do Brasil em Anápolis (GO) em abril deste ano.
A imagem que mostra três homens encapuzados e armados invadindo uma agência bancária também não retrata o assalto de Criciúma. A mesma foto foi publicada pelo site Agora no Vale para ilustrar um assalto ao banco de Vale Verde (RS) ocorrido em agosto de 2019.
Também foi descontextualizada a foto que mostra um corredor com ferramentas e destroços. A imagem apareceu, pela primeira vez, em notícias (aqui e aqui) sobre uma tentativa de assalto a uma agência bancária em Tangará da Serra (MT) em fevereiro de 2019 e tem indicação de autoria da assessoria policial local.
Uma foto que mostra um assalto a uma agência bancária em Ourinhos (SP) em maio de 2020 também compõe a galeria. Como pode ser verificado na reportagem do Jornal da Record veiculada no dia 2 daquele mês, a imagem dos criminosos atirando para o alto foi gravada por uma câmera de segurança.
Fotos atuais. As outras sete imagens da galeria, no entanto, foram publicadas recentemente nas redes. Enquanto o Aos Fatos conseguiu verificar que três delas foram tiradas em Criciúma, as outras quatro possuem indícios de terem sido registradas durante ou momentos após o assalto.
A imagem que mostra várias notas de dinheiro jogadas nas ruas é um print de um vídeo que passou a circular nas redes na madrugada desta terça no Twitter e que foi publicado pelo DCM. Sem autoria especificada, o vídeo mostra homens recolhendo as notas do chão que teriam sido deixadas pelos assaltantes. Vale ressaltar que a polícia prendeu quatro homens que recolheram cerca de R$ 810 mil deixados nas vias públicas.
Outra imagem que foi publicada pela imprensa local para retratar o caso é a que mostra uma van no meio da rua e homens aparentemente feitos de reféns. Segundo o ND, a foto mostra um registro feito por volta da 0h10 desta terça, quando os criminosos mantiveram os reféns sentados na via pública.
Outra imagem publicada entre a noite de ontem e a madrugada de hoje como sendo atual é a que mostra um suposto explosivo perto de um poste. A imagem foi publicada na imprensa local como sendo um registro de bombas deixadas na praça Nereu Ramos, em Criciúma.
A foto que mostra uma mão segurando cápsulas de projéteis também parece ter sido registrada após o assalto. O Aos Fatos encontrou a imagem apenas em publicações recentes, como a da OCP News e do Notisul, mas não há indicação de autoria ou um contexto detalhado dos registros. A reportagem pediu mais informações sobre a foto na manhã desta terça-feira (1º), mas não obteve resposta.
As duas imagens que mostram pessoas em cima dos prédios também parece ser um registro feito na cidade catarinense nesta madrugada. As fotos aparecem, pela primeira vez, em um tweet de um perfil pessoal publicado às 2h de hoje. O Aos Fatos entrou em contato com o autor para pedir informações sobre o registro, que explicou que a foto foi enviada por um parente que mora na cidade e mostraria criminosos em cima dos edifícios.
O Aos Fatos não encontrou, no entanto, a origem de uma das fotos da galeria, que mostra um incêndio em uma área urbana. Uma busca reversa pela imagem mostra apenas que ela foi compartilhada por perfis pessoais nas redes para ilustrar o caso, mas sem indicar local ou autoria. É fato, no entanto, que os criminosos atearam fogo em veículos para impedir a ação policial, como pode ser visto na reportagem do NSC Total:
O caso. Na noite de ontem, uma quadrilha fortemente armada formada por cerca de 30 pessoas invadiu uma agência do Banco do Brasil localizada no centro de Criciúma. A ação, considerada a maior da história de Santa Catarina, durou cerca de 1h45min e terminou com um policial e um vigilante feridos.
Até a publicação desta checagem, a polícia ainda não havia estimado a quantia roubada pelos criminosos. Ao G1, o banco afirmou que não informa “valores subtraídos” durante ataque e que não há previsão de quando a agência será reaberta. Após o assalto, a PM apreendeu 10 veículos utilizados pela quadrilha em um milharal localizado numa cidade próxima, mas nenhum suspeito ainda foi detido.
Uma verificação semelhante foi produzida pelo e-Farsas.