🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Dezembro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Foto é falsamente atribuída a padre e fiéis da Catedral de Campinas e os associa à armas e a Bolsonaro

Por Luiz Fernando Menezes

13 de dezembro de 2018, 11h14

Não são padre e fiéis da Catedral Metropolitana de Campinas as pessoas na foto que circula em posts nas redes sociais para associar o ataque a tiros que deixou cinco mortos naquela igreja na terça-feira (11) a um suposto apoio de seguidores da paróquia à liberação de armas ou ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). O registro tampouco foi feito dentro do templo, que tem características arquitetônicas diferentes.

Na imagem, 14 pessoas — uma delas trajando batina — posam com os dedos indicadores apontados e os polegares levantados, em um gesto que remete a uma arma e que é usado por Bolsonaro, mas que também simboliza um curso de formação continuada para jovens da Igreja Católica, o TLC (Treinamento de Liderança Cristã), cuja marca é o caractere ✓. Aos Fatos ainda não conseguiu localizar a origem da foto, que começou a se espalhar por Facebook, Instagram e WhatsApp na tarde de quarta-feira (12).

Procurada por Aos Fatos, a Catedral Metropolitana de Campinas confirmou na manhã desta quinta-feira (13) que a foto não foi feita em suas instalações e que o suposto padre que aparece na imagem não integra seu corpo de sacerdotes.

Publicações denunciadas por usuários do Facebook já foram compartilhadas, juntas, mais de seis mil vezes e estão marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona). A peça de desinformação também foi enviada por leitores no WhatsApp como sugestão de checagem. Para participar, basta mandar uma mensagem com seu nome para (21) 99747-2441.

Confira abaixo, em detalhes, o que checamos.


FALSO

Uma bela foto feita pelo padre e paroquianos da Catedral de Campinas / SP. Isso custou cinco vidas.

Tragédia em Campinas. Paroquianos e sacerdote em pose irresponsável, fazendo apologia à violência dentro da igreja. Quem planta o ódio não pode colher amor, né?

Os posts com a foto falsamente atribuída à Catedral Metropolitana de Campinas pecam, até o momento, por três motivos:

1) o padre na foto não é Amauri Thomazzi, que relatou o tiroteio em vídeo, nem qualquer outro do corpo de sacerdotes;

2) a local da foto tem características distintas da Catedral Metropolitana de Campinas, o que indica não ter sido feito ali o registro;

3) na Igreja Católica brasileira, o gesto feito pelas pessoas na foto também simboliza o TLC (Treinamento de Liderança Cristã), logo não é possível provar que a intenção tenha sido manifestar apoio a Jair Bolsonaro ou à liberação de armas no Brasil.

O sacerdote. O padre Amauri Thomazzi era quem celebrava a missa na Catedral quando houve o tiroteio. No mesmo dia, ele gravou um vídeo e publicou em seu perfil pessoal no Facebook, explicando o ocorrido: “ninguém pôde fazer nada, ajudar de forma nenhuma. Mas eu peço apenas que rezem pela pessoa. (...)Rezemos também por aqueles que foram feridos, temos aqui vítimas fatais".

Como é possível verificar na comparação acima, o padre na foto viral (à esquerda) não se parece com Thomazzi (à direita).

O templo. Outro indício que desmente as publicações é que a imagem foi tirada em um espaço amplo, com cadeiras de plástico e uma parede de vidro, local bem diferente da Catedral, que é bem menor e possui bancos e ornamentos de madeira. Aos Fatos realizou buscas pela imagem ou por fotos com lugares parecidos com o da foto, mas não obteve nenhum resultado.

Contatada por Aos Fatos, a Catedral Metropolitana de Campinas confirmou que a foto não aconteceu em suas instalações e que o suposto padre que aparece na imagem não faz parte do corpo de sacerdotes da igreja. A assessoria também enviou uma nota oficial sobre o caso.

Os sinais. Por fim, não é possível afirmar que o gesto da foto tinha a intenção de retratar uma arma ou de manifestar apoio ao presidente eleito Jair Bolsonaro, que frequentemente lança mão do recurso. Isso porque, na Igreja Católica, o sinal é também utilizado pelos participantes do Treinamento de Liderança Cristã (TLC), um grupo de formação cristã continuada voltado à juventude paroquial. Fotos da página do movimento e buscas no Google Imagens mostram diversas pessoas realizando a mesma pose da foto viral.

O coordenador nacional do TLC, Maycon Leite, contatado por Aos Fatos, disse que, por mais que não tenha certeza de que a foto tenha sido tirada em um dos encontros do treinamento, há características que podem indicar a ligação com o movimento: uma das meninas está com uma camiseta que parece ser do TLC. Leite ressalta também que o sinal, chamado por eles de "positivão" é mesmo comum nas reuniões do treinamento. A equipe do TLC está em busca da origem da foto viral.

O secretariado nacional do TLC também emitiu uma nota oficial do ocorrido para explicar o significado do sinal e desmentir a ligação com "quaisquer objetos ou atos que incitem à violência".

A origem da imagem viral, porém, permanece desconhecida. Em buscas reversas, Aos Fatos ainda não conseguiu identificar a fonte do material. Um dos perfis pessoais que teve o post denunciado por usuários do Facebook foi contatado para apontar de onde a foto foi extraída, mas não respondeu. O e-Farsas e o Boatos.org também publicaram checagens semelhantes sobre este material.

O caso. Um atirador abriu fogo contra fiéis que assistiam a missa na Catedral Metropolitana de Campinas no começo da tarde da última terça-feira (11), deixando cinco mortos e dois feridos. O homem cometeu suicídio em seguida. Segundo a polícia, foram feitos pelo menos 20 disparos. O responsável pelo ataque foi identificado como Euler Fernando Gandolpho, de 49 anos. A polícia ainda investiga a motivação do crime.


Esta checagem foi atualizada às 13h22 de 13 de dezembro para incluir a fala de Maycon Leite, coordenador nacional do TLC.

Esta checagem foi atualizada às 16h30 de 13 de dezembro para incluir a nota oficial do TLC sobre a simbologia utilizada pelo grupo para negar a sugestão de que o sinal fazia referência ao porte de armas ou a Bolsonaro.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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