Não é recente nem mostra um “militante de esquerda” ateando fogo em um campo no Cerrado de Mato Grosso uma foto que circula nas redes sociais com essa atribuição (veja aqui). A imagem, na verdade, foi veiculada em 2014 na revista Ciência Hoje em uma reportagem sobre o manejo do fogo por indígenas xavantes. Essa e outras etnias da região costumam aplicar a queima controlada para caçar animais e preparar o solo para o plantio.
A Sesp-MT (Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso) também negou ter recebido denúncias de que militantes de esquerda tenham iniciado queimadas criminosas no estado, como alega a peça de desinformação.
Publicada por perfis pessoais, a foto com a falsa denúncia acumulava cerca de 2.000 compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (18). Todos os posts foram marcados com o selo FALSO na ferramenta de verificação (saiba como funciona).
Uma foto em que um homem ateia fogo a um matagal circula nas redes para sugerir que os incêndios recentes no Cerrado de Mato Grosso são causados por “militantes de esquerda”. A denúncia, no entanto, é infundada: a foto não é atual e mostra uma queima controlada.
A foto foi publicada em junho de 2014 na revista Ciência Hoje para ilustrar uma reportagem sobre queimas controladas utilizadas pelos índios xavantes de Mato Grosso. Os indígenas ateiam um círculo de fogo para tratar a terra de plantio e também promover caçadas. A autoria da imagem não foi encontrada.
Além disso, não há indícios de que o fogo no Cerrado tenha sido causado por “militantes da esquerda”. O Aos Fatos não localizou registro na imprensa e a Sesp-MT (Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso) afirmou não ter recebido denúncia semelhante. A PF (Polícia Federal) também foi contatada e disse que “qualquer informação que circule nas redes sociais em nome da PF é de total responsabilidade de quem a divulgou”.
O Aos Fatos entrou em contato com o Ministério Público de Mato Grosso) e com a superintendência do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no estado, mas não recebeu resposta até a publicação desta checagem.
Por fim, a lei citada pela peça de desinformação (Lei 1802/1953) existe e, de fato, classifica como crime contra o Estado a prática de “devastação, saque, incêndio, depredação, desordem de modo a causar danos materiais ou a suscitar terror, com o fim de atentar contra a segurança do Estado”. A pena, no entanto, é de 3 a 8 anos de reclusão.
Entre o dia 1º de janeiro até a última quinta-feira (17) o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) tinha registrado 40.314 focos de incêndio no Cerrado. O número ainda está abaixo da média dos últimos anos, mas os focos de setembro já são maiores do que o total identificado no bioma em 2018.
Nesta semana, o Aos Fatos também desmentiu uma peça de desinformação que afirmava que indígenas teriam prendido integrantes de ONGs que estavam ateando fogo no Pantanal. Assim como no caso atual, as autoridades de segurança afirmaram não ter conhecimento de nada semelhante.
Referências:
1. Ciência Hoje
2. Câmara
3. Inpe
4. Aos Fatos